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Concentração de dióxido de carbono na atmosfera é o mais alto dos últimos 800 mil anos

Relatório do Estado Global do Clima destaca preocupação com o aumento da temperatura e do nível do oceano

Credit: Kazi Md Jahirul Islam / Ocean Image Bank / Mangrove Photography Awards

O Relatório do Estado Global do Clima, publicado na quarta-feira (19), pela Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês), apresenta dados considerados chave para monitorar o sistema climático global. Além de reiterar a necessidade de modificar a trajetória global e reduzir as emissões de gases de efeito estufa e investir em sistemas meteorológicos e de alertas para proteger a população dos impactos de eventos extremos, os especialistas que apresentaram os resultados demonstraram preocupação com o aumento da temperatura do mar.

O documento apresenta informações sobre temperatura da superfície e aquecimento do oceano; composição atmosférica; acidificação do oceano e nível do mar; além de dados sobre glaciais e extensão de gelo no Ártico e na Antártida.

A concentração atmosférica de dióxido de carbono atingiu o nível mais alto dos últimos 800 mil anos. Os dados mais recentes, de 2023, apontam que, comparado à era pré-industrial, a concentração de metano (CH4) na atmosfera é 266% maior, tendo atingido 336.9 ppb (partes por bilhão). A concentração de dióxido de carbono (CO2) é 151% maior, com 420 ppm (partes por milhão) e de óxido nitroso (N2O) é 124% maior, com 1934 ppb. O monitoramento em tempo real em 2024 aponta para o contínuo aumento das emissões de GEE.

Odocumento confirma 2024 como o ano mais quente, e aponta que todos os últimos dez anos foram, individualmente, os mais quentes em 175 anos de medições. As temperaturas recordes de 2024 foram incrementadas, principalmente, pelo aquecimento global. O El Niño exerceu papel secundário processo e outros fatores, como mudanças no ciclo solar e a redução de aerossóis de resfriamento, também contribuíram.

“O relatório da Organização Meteorológica Mundial aponta que todos os indicadores degradaram em relação ao ano anterior”, avaliou o diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Osvaldo Moraes. Lembrando que o relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima 1,5 graus, publicado em 2018, já apontava nesta direção, ainda que indiretamente.

O diretor explicou que os planos e ações de adaptação devem ser prioridades. “Pois as ações de mitigação não estão sendo efetivas. Temos de aprofundar os esforços de mitigação, mas devemos, também, nos prepararmos para uma nova normal climatológica que já não é mais cenário”, disse.

Nos últimos 18 anos, foram registradas por satélite as 18 menores extensões de gelo marinho no Ártico. Nos últimos três anos, foram observadas as três menores extensões de gelo da Antártida, sendo em 2024 o segundo menor desde os registros observacionais iniciados em 1979, e as maiores perdas de massa de geleira.

As temperaturas são apenas parte de um quadro mais complexo. De acordo com os especialistas, os números não são exatamente uma surpresa, dadas as projeções efetuadas pelos cientistas. Porém, o que está preocupando são as acelerações de aumento da temperatura do oceano e do nível do mar, além do contínuo aquecimento em 2025, mesmo sem a ocorrência do fenômeno El Niño.

“Não é surpresa, mas preocupa o contínuo aquecimento do oceano e o aumento do nível do mar”, expressou Karina Von Schuckmann, especialista em oceano e membro da WMO, durante a apresentação. Segundo a especialista, o aquecimento do oceano pode afetar o balanço energético do sistema climático global. “O Ártico e a Antártida são áreas bastante sensíveis”, complementou sobre os polos.

Estima-se que o oceano absorva cerca de 90% do calor extra retido pelos gases de efeito estufa. A retenção causa o aquecimento da água e afeta a vida marinha, os padrões climáticos e o nível do mar. Esse processo também afeta a acidificação da superfície do oceano, que tem aumentado ao longo dos últimos 39 anos. A redução do pH tem sido mais intensas no Oceano Índico, Oceano Antártico, Oceano Pacífico equatorial oriental, Pacífico tropical norte e algumas regiões do Oceano Atlântico.

Em 2024, o aquecimento do oceano atingiu o nível mais alto em 65 anos de registros observacionais. O conteúdo anual de calor global do oceano, da superfície até 2 mil metros de profundidade, atingiu 151.76 zettajoules, conforme dados do Copernicus.

Por possuir maior capacidade térmica do que a atmosfera, ou seja, conseguir armazenar mais calor, o oceano exerce um papel fundamental no transporte de calor dos trópicos para os polos, por exemplo, por meio das correntezas profundas do mar. O aumento das temperaturas do oceano, não apenas na superfície, mas em toda a coluna d’água, pode ser irreversível na escala de centenas de anos.

Os recordes para o conteúdo de calor do oceano têm sido quebrados sucessivamente nos últimos oito anos. A expectativa é que o oceano continue a aquecer até o fim do século, uma mudança é irreversível em centenas de anos mesmo em cenários de baixo carbono.

A taxa de elevação do nível do mar dobrou desde que as medições por satélite começaram. No período de 1993-2002, estavam em 2,1 mm por ano. Mais recentemente, entre 2015 e 2024, saltaram para 4,7mm por ano. A explicação é que a expansão térmica tenha contribuído significativamente para isso.

A elevação do nível do mar tem sérios impactos e em ‘cascata’ nos ecossistemas e infraestruturas costeiras. Cerca de 74% da população global vive em áreas costeiras, que abrangem até 50 km a partir do oceano. O aumento do nível do mar também pode contaminar as águas subterrâneas por água salgada.

Eventos extremos e impactos

Em muitas regiões do planeta houve eventos extremos sem precedentes. Segundo o documento, o número de deslocamentos provocados por fenômenos climáticos em 2024 foi o maior desde 2008, especialmente na África.

Segundo o documento, o efeito composto de vários choques, como intensificação de conflitos, seca e altos preços dos alimentos, levou ao agravamento de crises alimentares em 18 países até meados de 2024. Os especialistas afirmam que os eventos extremos devem ficar mais intensos e frequentes. Contudo, destacam a necessidade de estudos de atribuição para indicar o quanto cada evento individualmente é decorrente da mudança do clima.

De acordo com o documento, a situação requer investimentos em serviços climáticos que permitam emitir alertas antecipados para reduzir os impactos dos eventos extremos. Atualmente, apenas metade dos países do mundo possuem sistemas de alertas antecipados adequados.

“Nosso papel é prover evidências científicas”, afirmou o diretor de serviços climáticos da WMO, Chris Hewitt. “Os impactos estão devastando comunidades. Cada fração de grau importa”, afirmou.

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