Jean de Oliveira Souza
Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Produção Vegetal
jeanosouza2030@gmail.com
O sorgo (Sorghum bicolor L.) é o quinto cereal mais plantado no mundo. No Brasil, ele vem sendo cultivado principalmente visando a produção de grãos, para suprir a demanda das indústrias de ração animal ou como forragem, para alimentação de ruminantes.
É, ainda, muito limitado o consumo desse cereal na alimentação humana e com crescente potencial para o setor sucroalcoleiro. O sorgo é classificado agronomicamente em cinco grupos – granífero, forrageiro, biomassa, vassoura e sacarino – com predominância do sorgo granífero no país, devido à maior expressividade econômica.
Potencial
O crescimento da exploração do sorgo no Brasil se deve à sua ampla variação de ambientes e produz sob condições desfavoráveis à maioria dos outros cereais. Por causa da sua resistência à seca, é considerado um cultivo mais apto para regiões com chuvas escassas.
Estima-se um crescimento de 10,4% na área cultivada, passando de 452,9 mil hectares na safra 2022/23 para 500,1 mil hectares na safra 2023/24 com produção de 3,8 milhões de toneladas de grãos.
A maior produção do sorgo, atualmente, concentra-se no cerrado, que se caracteriza por solos com topografia plana que favorece o uso da mecanização em todas as fases do ciclo produtivo, porém, nessa região os solos apresentam elevada acidez e são pobres em fertilidade química.
Como o sorgo é uma cultura tolerante à acidez, esse fator tem possibilitado o crescimento nessa região, com destaque para o estado de Goiás, como sendo o maior produtor nacional de grãos, 30% da produção nacional, com produção estimada na safra 2023/24 de 1,4 milhão de toneladas em 428,2 mil hectares, com crescimento de 11,3% em relação à anterior.
Evolução do sistema
O uso de alta tecnologia, com áreas cultivadas com sorgo irrigado, correção da fertilidade e da acidez, uso de cultivares/híbridos com ampla adaptabilidade e estabilidade de produção, além do planejamento da época adequada do cultivo, têm possibilitado o aumento da área cultivada e produtividade de 3,49 t/ha, bem superior à média no Brasil, que gira em torno de 2,7 t/ha.
Isso devido ao uso de solos considerados marginais, ou seja, de baixa fertilidade, reservados ao cultivo da espécie, como também ao cultivo de segunda opção de safra após o cultivo do milho e baixo uso tecnológico.
Vantagem competitiva
A cultura do sorgo possui a vantagem competitiva de ser mais eficiente no uso de água e nutrientes do solo. Por causa dessa eficiência, apresenta, também menor custo de produção que outros cereais, sendo comercializado por um valor mais baixo no mercado.
Isso implica como um cereal de baixo custo com matéria-prima na confecção de produtos alimentícios, como por exemplo, na indústria de panificação como opção ao trigo.
Outra grande importância da aplicação de sorgo na alimentação se dá por não possuir glúten, sendo uma alternativa viável na elaboração de produtos destinados a celíacos.
O sorgo apresenta-se com um grande diferencial na crescente disponibilidade no mercado, pelo seu menor custo de produção (em torno de 25%) e semelhança ao valor energético do milho, tornando-o uma opção viável de fonte energética para o balanceamento das dietas dos bovinos.
Também pela sua alta capacidade de produção de matéria seca e rica em carboidratos fermentáveis, apresenta-se com grande potencial na produção sucroalcoleira, produzindo de 2.000 a 2.2000 litros de etanol/hectare.
Cultivo
O sorgo sacarino é de fácil implantação, visto que permite a mecanização ao longo do todo processo produtivo, alcançando boas produtividades e qualidade principalmente no período mais quente do ano.
Já a produção de sorgo para fomentar o fornecimento da matéria-prima para produção de biomassa também é uma alternativa apontada como opção na exploração do cultivo do sorgo, visto que permite utilizar a mesma estrutura de colheita e moagem da cana-de-açúcar nas usinas de produção de etanol.
Ademais, o bagaço pode ser utilizado como fonte de energia para industrialização, eletricidade e forragem para animal, contribuindo para um balanço energético favorável.
Critérios de produção
Para que se tenha bons níveis de produtividade e qualidade do produto final, é importante estar atento a alguns critérios de ordem técnica no manejo da cultural, como o plantio realizado principalmente dependendo da temperatura e do período chuvoso.
O sorgo se desenvolve mal sob temperaturas abaixo de 18ºC, sendo esse o limite para a sua semeadura. A temperatura ótima para o crescimento é em torno de 33 a 34ºC. Para o plantio na região do Brasil Central, o fator determinante para a produtividade é a disponibilidade hídrica – geralmente entre janeiro e fevereiro é a época mais recomendada.
O sorgo é menos responsivo à irrigação que o milho devido à sua grande tolerância à seca, e as perdas de produção devido à seca podem ser minimizadas usando estratégias de irrigação suplementar, aplicadas nos períodos críticos de crescimento.
Corrigir a fertilidade de acordo com análise química do solo também contribui para aumentar a produtividade das culturas e a eficiência no uso de nutrientes.
No Brasil Central, o sorgo é explorado na segunda safra sobre a palhada da soja e muito pouco sobre os restos culturais de outras culturas em que ele pode ser semeado diretamente sem necessidade de dessecação.
O cultivo após a soja reduz o ataque de nematoides e doenças, melhora as propriedades físicas do solo e altera a biomassa microbiana. Todas essas vantagens favorecem altos rendimentos de grãos em rotação com a soja, prática esta já comumente adotada no cerrado brasileiro.
Detalhes importantes
Para cada tipo de sorgo, recomenda-se uma densidade de plantio mais adequada, variando de 90.000 a 210.000 mil plantas/ha, sendo que as cultivares de porte mais baixo, como para a produção de grão, densidades acima de 200 mil plantas/ha. Já a semeadura para as cultivares de porte mais alto, a densidade de semeadura não deve ser maior que 120 mil.
Fique sabendo
Um dos principais desafios na cultura no sorgo no Brasil é que os esforços no melhoramento e seleção têm se concentrado mais na tolerância aos estresses bióticos, resistência a pragas e doenças e redução do acamamento potencial do que visando o aumento da produção de grãos, ao contrário do milho.
Consequentemente, o resultado é o sorgo ser uma cultura com baixa produção de grãos, assim como limitações no desenvolvimento de híbridos, visto que ele tem sido desenvolvido com uma cultura estável sob condições ambientais adversas e não para altos rendimentos.
O fato de ser uma cultura não-transgênica traz uma vantagem de mercado para o sorgo, porém, torna mais difícil o manejo das plantas daninhas e insetos, o que incentiva os produtores a produzirem milho em vez de sorgo.
Outro importante ponto para a baixa produtividade do sorgo, se compararmos ao milho, está no limitado investimento em pesquisas com a cultura. O desafio na produção do sorgo é estimular o aumento do consumo na alimentação humana, visto que é um cereal em que os grãos apresentam valor nutricional semelhante aos dos grãos de milho, com teores de proteína de 7,3 a 15,6, fibras 1,2 % a 6,6 % e os de lipídios entre 0,5 a 5,2, variando entre os cultivares.
O ideal seria estabelecer um plano nacional voltado ao agronegócio da produção do sorgo, incentivando o consumo humano de produtos e subprodutos, com vista a incrementar a produção pelo aumento da demanda.
Motivação
Embora o consumo de sorgo no Brasil esteja aquém do potencial da cultura no país, o impulso ao crescimento da produção de sorgo tem sido motivado pelo desenvolvimento de cultivares adaptadas.
Um marco de inovação na cultura do sorgo tem sido o lançamento de cultivares como a recente BRS-661, lançada pela Embrapa, com produtividade de aproximadamente 70 t/ha de massa verde; excelente qualidade nutricional e recomendada para a safra de verão e segunda safra.
A boa adaptabilidade a diversos sistemas de produção de forragem torna este material uma escolha versátil e estratégica para o sudeste, o centro-oeste e o nordeste. Apresenta alta produtividade de matéria verde; tolerância ao acamamento; ao estresse hídrico; ao alumínio; alta capacidade de rebrota e boa sanidade foliar, podendo revolucionar o setor de produção de forragem e, também, de produção de grãos.
Portanto, o sorgo é um importante cereal, com oportunidades de expandir a produção devido a sua inerente tolerância à seca e eficiência no uso de nutrientes, e por ser adequado para múltiplos usos como produto final.
Embora careça de mais investimentos em pesquisas no melhoramento genético, fisiologia de adaptação aos estresses e manejo integrado de pragas e doenças melhorar o desempenho produtivo da planta e contribuir para uma agricultura, ele é capaz de suprir as demandas por alimentos, rações e combustíveis para a população.