Luiz Fernando Schettino
Engenheiro florestal, professor/doutor – aposentado da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
José Geraldo Mageste
Engenheiro florestal, PhD e professor – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Emanuel Maretto Effgen
Engenheiro agrônomo, doutor em Produção Vegetal e Analista do IDAF – ES
As indústrias de base florestal dizem que produzir madeira é uma atividade econômica de grande retorno. Então, os produtores rurais que não possuem uma verticalização (plantio e processamento da madeira) precisam comercializar a madeira imatura (ou até mesmo a madeira em pé) (como acontece com o leite tirado na fazenda).
Por outro lado, o fazendeiro não domina a tecnologia de produção de madeira (silvicultura). Para muitos deles, a árvore (nativa ou exótica) sempre foi considerada um elemento indesejável na propriedade (ela pode atrapalhar as atividades de mecanização).
Se você perguntar a qualquer fazendeiro onde ele plantaria árvores de eucalipto ou seringueira na propriedade, provavelmente ele vai indicar as piores áreas em termos de fertilidade, ou as mais degradadas, onde não é possível cultivar cereais ou estabelecer pastagens (em silvicultura dizemos que são os sites de pior qualidade).
Só que estas áreas também terão produção de madeira de menor volume se não forem adotados tratos silviculturais. Isto empurra o fazendeiro para tentar tecnologia do chamado fomento florestal, oferecido pelo seu possível comprador de madeira (ele não tem assistência técnica e nem quer pagar por ela).
Desenvolvimento rural
Experiências demonstram que o desenvolvimento rural pode ser promovido por modelos alternativos de exploração da terra. Este procedimento deve passar por um uso mais intensivo e racional dos recursos existentes nas propriedades ou nas comunidades rurais.
Interessante que pode ser feito sem dependência de recursos financeiros externos de grande valor. Basta que se atente para as potencialidades latentes e que podem ser desenvolvidos com um bom serviço de extensão e de orientação ao meio rural, como expressou a FAO recentemente.
Uma destas potencialidades que não requer grandes investimentos, mas que exige o emprego de tecnologia avançada, é a implantação de povoamentos florestais ou o plantio de árvores. Essa atividade possui elevada importância, tanto nos aspectos ecológicos como econômicos e sociais do nosso país.
Oferta e demanda
De maneira geral, constata-se que a oferta e a demanda de madeira, em nível nacional, estão clamando pela implementação de programas de reflorestamentos para garantir o necessário crescimento das indústrias de base florestal e atender à demanda interna, além de manter sua participação no mercado internacional.
Atualmente, estima-se ser necessário o plantio de cerca de 300.000 ha/ano, por pelo menos uma década. Caso contrário, estará sacrificando segmentos industriais importantes, perdendo-se mercado e competitividade e impactando ainda mais as florestas naturais.
A ampliação dessa base florestal pode ocorrer seguindo dois modelos principais:
1 – Plantios em áreas marginais à agricultura;
2 – Pequenos reflorestamentos nas propriedades de menor tamanho, pelo conhecido processo de fomento florestal. Se as grandes empresas dizem que é econômico produzir madeira, precisam contribuir para agregar os produtores rurais nesta atividade.
O desafio, então, é o de transformar produtores rurais também em produtores de madeira, a exemplo do que acontece em muitas nações do primeiro mundo. Alguns poucos exemplos acontecem também no Estado de Santa Catarina, no Brasil.
Essa integração dos agricultores ao mercado de produtos madeireiros possibilitará a utilização de áreas marginais e improdutivas; a ocupação de mão de obra regional ociosa; a obtenção de renda suplementar e a valorização da terra.
Assim, terceirizar a produção de madeira para a indústria é uma opção das empresas para evitar investimentos na aquisição de terras. Mas, o preço pago pela madeira deve compensar e remunerar bem o agricultor que imobilizou o seu patrimônio.
Ou seja, fazer fomento não pode ser apenas patrocinar assistência técnica, doação de mudas e de parte dos insumos. Tudo isto precisa ter a intenção de tornar o fomento um instrumento de política pública que possibilite o desenvolvimento regional e local, por meio de uma cultura preservacionista no meio rural, melhorando a distribuição de renda e a qualidade de vida, não escravizando os pequenos produtores rurais.
Desafios
Uma das limitações para expandir esta atividade no meio rural está na inexistência de crédito ou de recursos financeiros para o médio e pequeno produtor rural. As linhas de financiamento são escassas e não compatíveis com a realidade da produção florestal.
É necessário encontrar modelos operacionais que sejam factíveis e exequíveis. Por outro lado, precisa haver uma adaptação tecnológica, que foi desenvolvida para grandes projetos e exclusivas para determinados produtos.
O incentivo, então, à silvicultura para pequenos e médios agricultores deverá ser diferenciado e levando em conta vários aspectos, principalmente os culturais, para identificar um modelo de formar povoamentos que respeitem a legislação ambiental e que ofereça condições satisfatórias de geração de empregos e rendas e que dê ao proprietário rural autonomia para gerenciar seus negócios florestais, à semelhança do que faz com outras atividades agropecuárias, como café, arroz, feijão, gado, milho, dentre outras.
Incentivo à produção madeireira
O Programa Nacional de Florestas, de cunho público e o fomento, promovido por algumas empresas do setor florestal, são exemplos deste incentivo. Essas atitudes adquirem, a cada dia, novas dimensões ambientais e socioeconômicas, especialmente devido à perspectiva de curto prazo de escassez de matéria-prima e preços crescentes nos mercados nacional e internacional.
Percebe-se o potencial socioeconômico desta iniciativa quando se avalia os seguintes indicadores:
– O setor madeireiro representa 7% do PIB, 17% das exportações do agronegócio e 8% do total das exportações brasileiras, gerando 1,6 milhão de empregos diretos e 5,6 milhões de indiretos (dados de 2020);
– Contribui para a fixação do homem no campo;
– Gera rendas alternativas na pequena propriedade rural;
– Consome cerca de 350 milhões de m3 de madeira por ano no nosso país;
– Pode contribuir para a amenizar as mudanças climáticas globais (MMA, 2005).
Porém a crescente demanda por madeira vem gerando um déficit de plantio de mais de 300 mil hectares por ano.
Programas
O Programa Nacional de Florestas foi criado pelo Decreto Federal nº 3.420, de 20 de abril de 2000. Ele é um programa multisetorial de articulação governamental para o uso sustentável das florestas brasileiras e visa estimular o uso sustentável das florestas; fomentar o reflorestamento; recuperar áreas alteradas; apoiar populações tradicionais e indígenas; reduzir desmatamentos ilegais, queimadas e incêndios; apoiar indústrias de base florestal; ampliar mercados interno e externo; valorizar serviços florestais e proteger a biodiversidade.
Observa-se que, no País como um todo, há uma tomada de consciência da importância social e econômica da produção madeireira. Essa mudança de visão, dentre outros fatores, tem sido motivada por ações governamentais nos últimos anos e pela presença de várias empresas de expressão no cenário florestal brasileiro e internacional.
A instalação de povoamentos florestais tenderá a ter cada vez mais importância, em um cenário mundial de escassez de madeira e de rigidez nas normas de utilização de florestas naturais. A devastação das florestas tropicais já ultrapassou as barreiras nacionais e transformou-se em um problema de toda a humanidade.
Um hectare de floresta plantada de eucalipto produz a mesma quantidade de madeira que 30 hectares de florestas tropicais nativas. E, no Brasil, dos mais de 300 milhões de metros cúbicos de madeira consumidos por ano, somente em torno de 100 milhões provêm de plantios florestais.
Mas, como fazer dessa realidade um ponto de melhoria do meio rural e que torne as ações do agronegócio sustentável? Quais as bases necessárias para esse fim? São desafios que precisam urgentemente de respostas, visando à formulação de políticas adequadas, que envolvam o setor público e a iniciativa privada em um projeto único de desenvolvimento sustentável.