Autor
Vinícius Bitencourt Campos Calou
Mestre em Engenharia Agrícola e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, campus Iguatu
vinicius.calou@ifce.edu.br
A utilização de RPAs (Remotely Piloted Aircrafts) na agricultura é uma realidade palpável, auxiliando, por exemplo, no monitoramento das lavouras para identificação de pragas e doenças, mapeamento de deficiências nutricionais, de plantas invasoras, identificação de déficit hídrico ou monitoramento da erosão do solo. Tais equipamentos realizam a coleta de dados em grande volume, precisão e grande rapidez.
Para a dinâmica de aplicação de produtos, as pesquisas na utilização de drones já estão em fase avançada no mundo todo, as quais objetivam orientar a aplicação principalmente de adesivos espalhantes, adubos foliares de alta concentração e defensivos agrícolas.
Para a adubação, os RPAs são utilizados principalmente como ferramenta de apoio na geração de mapas de fertilidade do solo. A grande área da agricultura de precisão dispõe de elementos estatísticos que visam especializar a quantidade de nutrientes específicos para a lavoura a partir de uma amostragem representativa de pontos.
Com as aeronaves não tripuladas é possível realizar o monitoramento de plantios, acompanhando o desenvolvimento da lavoura, identificando áreas que estejam com algum possível distúrbio nutricional, fitotoxidez ou deficiência, o que leva a tomadas de decisões de forma pontual. A aplicação de produtos está sendo testada em comparação com a fertirrigação e adubação foliar.
Novidade
Em outra vertente, no caso da pulverização aérea, esta já é uma realidade muito utilizada no Brasil por meio de aeronaves tripuladas. O advento da tecnologia, neste cenário, trouxe ao campo os drones para a realização de mapeamentos para identificação de pragas e doenças, classificação do nível de danos e definição do momento ideal para aplicação de produtos fitossanitários.
Tais técnicas são realizadas a partir da aquisição de imagens áreas de alta resolução e machine learning para a identificação automática, classificação do distúrbio fitossanitário, quantificação dos níveis de severidade e predição da infestação.
A deploração de produtos fitossanitários, como defensivos químicos e biológicos, vem sendo testada em inúmeras culturas, apresentando resultados promissores devido aos custos com o equipamento e simplicidade do método.
O processo é menos oneroso, mais simples e rápido que outros métodos de pulverização aérea. Os equipamentos disponíveis no mercado atualmente realizam a tarefa de aspergir produtos químicos na lavoura de modo eficiente. Um exemplo é o drone Pelicano, da SkyDrones®, com capacidade de suportar até oito litros de produto químico, com uma vazão de 1 L/min e faixa de aplicação com largura de cinco metros.
Segundo os fabricantes, é possível pulverizar um hectare por bateria (10 a 15 minutos) de maneira rápida e segura. A tecnologia já vem sendo utilizada em lavouras de cana-de-açúcar no Brasil, com aplicações principalmente de herbicidas para o controle de plantas invasoras e produtos contra pragas agrícolas, como moscas e lagartas.
Pesquisas mostram as vantagens
Estudos demonstram que a deriva (quando o produto químico aplicado também é depositado fora do alvo, podendo haver contaminação) é substancialmente menor, quando comparado com métodos que utilizam aeronaves tripuladas (aviões de pulverização agrícola).
Com o uso dos drones, a logística da atividade é bem mais simples, dispensando a contratação de uma equipe de voo: apenas um operador está apto a realizar todo o processo. Uma outra grande vantagem é o contato mínimo do operador com o produto, diferente de outros métodos de pulverização.
A desvantagem é a pouca extensão territorial coberta por missão de pulverização, devido à autonomia de voo destas aeronaves não tripuladas ainda ser um fator limitante ao uso.
Culturas beneficiadas
Para fins de pesquisa, as principais culturas utilizadas no Brasil são cana-de-açúcar, soja e milho. No exterior muito se tem pesquisado utilizando as culturas da cevada e trigo. O País que mais utiliza tais tecnologias é a China, com destaque para a província de Henan, que possui mais de 135 mil hectares com a tecnologia de pulverização agrícola utilizando RPAs atuando sobre as culturas do arroz, milho e algodão, principalmente.
Manejo
O mapeamento aéreo se inicia com a definição do objetivo da missão, podendo ser a aquisição de imagens para identificação de pragas e doenças ou fins de monitoramento da fertilidade do solo. Estas definições irão guiar a aplicação dos manejos adequados para cada situação.
Os sensores embarcados na aeronave não tripulada são muito importantes, pois são definidos de acordo com o objetivo estabelecido. A realização de mapeamento é feita com câmera hiperespectral, multiespectral, pancromática, RGB, termal, radar e outros, sendo que cada sensor possui diversas aplicações diferentes.
A tomada de decisão da aplicação de um produto fitossanitário está relacionada com o momento ideal definido para a aplicação do controle, que pode ser com base no nível de danos de uma praga ou doença. Uma vez identificado o momento ideal de agir, o RPA deve ser abastecido para realizar a aplicação nas áreas mais críticas da lavoura.
Resultados
A deploração de diferentes produtos vem sendo testada e tem apresentado resultados promissores, inclusive na utilização de agentes biológicos ou inimigos naturais na lavoura. Além disso, os RPAs do tipo multirrotor podem realizar a pulverização em locais específicos com focos de pragas ou doenças nos cultivos, substituindo as aplicações em área total, gerando economia.
Pesquisas também demonstram que o fluxo descendente de ar gerado pelos motores do RPA ajuda a penetração mais profunda das gotas pulverizadas no dossel da cultura.