Solange Maria Bonaldo
Engenheira agrônoma, mestre e doutora em Agronomia e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) – campus Sinop
Matheus Bellei
Graduando em Agronomia – UFMT – campus Sinop
Atualmente, no mercado estão disponíveis sementes de cultivares de alta produtividade com diversas tecnologias, como sementes convencionais, sementes RR1 (soja resistente aos herbicidas à base de glifosato) e sementes com tecnologia Intacta RR2 (proteção contra importantes lagartas que atacam a cultura da soja, combinado com tolerância aos herbicidas à base de glifosato), cujas cultivares apresentam diversos ciclos (precoces, médios e tardios), bem como resistência a doenças ou não.
A indicação de uma ou outra varia em função da época de plantio, tipo de solo, ciclo, qual cultura será implantada posteriormente, se milho ou algodão, presença de patógenos, como nematoides, por exemplo. Assim, se na área do produtor há determinado nematoide, o ideal é que a semente em questão tenha resistência a ele, especificamente, bem como se adote um manejo adequado para este problema.
O produtor deve, principalmente, priorizar a escolha de uma semente adaptada à região e ao clima da sua lavoura; bem como analisar o custo-benefÃcio da semente, observando resultados de testes realizados em campo com as sementes em questão.
Os locais de implantação têm grande influência na produtividade da cultivar, por exemplo, se esta não for adaptada a altas temperaturas e altos volumes de pluviosidade, como ocorre na região norte de Mato Grosso, estas condições ambientais afetam o desenvolvimento da cultura, reduzindo a produção.
Decisão
Para realizar uma boa escolha da semente, deve-se se considerar uma série de aspectos correlacionados ao desempenho produtivo, por exemplo: resistência às pragas e doenças, adequação à região a ser implantada, histórico da área em relação às culturas implantadas anteriormente; tipo e perfil de solo; correção e adubações realizadas na área, histórico de pragas, doenças e plantas daninhas, bem como o investimento financeiro que se pretende aplicar na condução da lavoura.
Erros fatais
Dentre os erros mais comuns na escolha da semente, destaca-se que na maioria das vezes a escolha da semente se dá pelo preço, e não por qualidade genética, física, fisiológica e sanitária.
Há, também, a tendência de escolha da semente pensando no mercado e não na sua própria área. Entretanto, nem sempre a cultivar que tem um bom desempenho no mercado é a mais indicada para a área, pois o produtor pode ter a presença de patógenos causadores de doenças, como fitonematoides, por exemplo.
Outro erro é a não escolha do fornecedor, pois é fundamental optar por sementes de acordo com a idoneidade da sementeira fornecedora. Quando isto não ocorre, os produtores correm o risco de receber sementes de padrão inferior de qualidade genética, física, fisiológica e, principalmente, sanitária.
Assim, estas sementes podem apresentar baixo vigor e germinação, bem como ser fonte de inóculo de patógenos como, por exemplo: Cercospora kikuchii (mancha púrpura ou crestamento de cercóspora), Phomopsis spp. (seca da haste e da vagem), Diaporthe aspalathi e Diaporthe caulivora (cancro da haste da soja), Cercospora sojina (mancha olho-de-rã), Sclerotinia sclerotiorum (mofo branco), Peronospora manshurica (míldio), Colletotrichum truncatum e Colletotrichum cliviae (antracnose), Pseudomonassavastanoi pv. glycinea (crestamento bacteriano), (Xanthomonas axonopodis pv. glycines) (pústula bacteriana), (Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens (mancha bacteriana marrom) e Soybean Mosaic Virus ” SMV (vírus do mosaico comum da soja).
Sanidade em primeiro plano
A importância da sanidade de sementes vem sendo negligenciada nas últimas safras, e recomenda-se ao produtor maior atenção neste aspecto, pois a semente, quando contaminada, garante a presença do inóculo viável e patogênico por mais tempo; favorece a infecção primária (ou seja, a ocorrência da primeira lesão no campo); proporciona distribuição homogênea do inóculo pela área semeada; promove a contaminação de novas áreas e garante a disseminação do patógeno de forma eficiente, independente da distância.
Podem ocorrer, também, erros que impactem no futuro das tecnologias, principalmente viabilidade e eficácia, que é a não implantação de áreas de refúgio, necessárias quando do emprego de sementes com tecnologia Intacta RR2.
A ausência de refúgio pode levar à seleção de pragas resistentes, o que pode inviabilizar a tecnologia e causar sérios prejuízos aos produtores. Outro aspecto importante que o produtor deve considerar quando da utilização desta tecnologia é que a proteção contra as lagartas é conferida pela proteína Bt (Cry1Ac), eficiente contra lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens e Rechiplusia nu), lagarta-das-maçãs (Heliothis virescens) e broca-das-axilas (Epinotiaaporema), não protegendo a cultura quando da ocorrência de outras lagartas na lavoura, como por exemplo, Spodoptera eridania. Necessita, assim, de monitoramento e identificação correta das pragas que ocorrem nas lavouras.
Para evitar estes erros, o produtor deve sempre buscar a assistência técnica de engenheiros agrônomos de confiança, para orientar de forma correta e adequada a solução de cada tipo de problema presente na sua lavoura.
Deve, ainda, realizar a compra das sementes de empresas idôneas que tenham garantia de procedência e certificação do produto; solicitar análises de qualidade fisiológica, física e sanitária, além de conhecer o nível de investimento para cada cultivar, bem como época de plantio, população e manejo integrado de doenças e pragas.