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Estratégias frente à baixa de preço das commodities agrícolas

A Stonex prevê desafios logísticos mais sérios do que nos anos anteriores.

No ano passado, os preços dos fertilizantes atingiram os níveis mais altos da história para o composto NPK em abril. A partir de julho e agosto, esses preços começaram a cair gradualmente, levando a uma queda intensa, que continuou até recentemente.

A situação no ano passado foi complexa, pois os preços dos fertilizantes estavam altos, enquanto dos grãos não estavam tão elevados. Além disso, havia riscos concretos de desabastecimento. “Embora naquele momento (em julho/2022) já tínhamos abastecimento adequado, no período de março a maio/2022 havia um risco real de desabastecimento”, avalia Marcelo Mello, responsável pela mesa de fertilizantes da Stonex.

Foto: Shutterstock

Toma lá, dá cá

As relações de troca entre produtos agrícolas, como soja e fertilizantes (fósforo e potássio) eram as piores dos últimos 10 anos, na avaliação do analista. No entanto, ele garante que neste ano o cenário está mais estável, sem risco de escassez de produtos.

Entretanto, existe um risco relacionado à logística. Desde o ano passado, os preços dos fertilizantes caíram aproximadamente 70% em relação ao pico alcançado. “E enfrentamos uma situação em que havia risco real de escassez de fertilizantes devido a problemas de importação e altos preços, o que resultou em uma destruição da demanda. Muitos clientes que plantam grãos optaram por cortar 20 a 30% da aplicação, e mesmo assim alcançaram uma safra recorde de cerca de 158 milhões de toneladas. Isso não comprometeu significativamente a produtividade, pois os nutrientes como fósforo e potássio aplicados em anos anteriores acumulam-se no solo, formando uma reserva”, esclarece o especialista.

O momento atual

Neste ano, ele diz que os preços dos fertilizantes já acumularam quedas de cerca de 70% desde o pico em abr/2022 e não há risco de escassez de produtos internacionais. Neste ano, a expectativa era de que os agricultores que reduziram a aplicação de fertilizantes no ano passado, devido a altos preços e constrangimentos, pudessem comprar cerca de 5,0 a 10% a mais do que anteriormente, para repor parte do déficit.

Marcelo Mello ainda está em dúvida se isso vai ocorrer, o que poderia impulsionar o mercado de fertilizantes no Brasil, com um crescimento potencial de até 10% na demanda.

Paralelamente, há a questão das altas taxas de juros. “O brasileiro vinha em um ritmo de antecipação de compras para safras futuras desde 2019. Essa antecipação foi se intensificando nos anos de 2020 e 2021 e, em menor medida, em 2022, devido ao risco de desabastecimento”, lembra.

Neste ano, por não haver riscos de desabastecimento e por conta da alta taxa de juros a partir de agosto do ano passado, os preços dos fertilizantes começaram a cair semanalmente. Tal cenário fez com que os produtores rurais atrasassem suas compras, esperando por preços mais baixos. “No Brasil, essa espera por preços mais baixos levou a um atraso nas compras. A cada três meses realizamos uma pesquisa, que cobre atualmente uma área estimada equivalente a 40% da área de plantio somada de soja verão e safrinha de milho, com o objetivo é acompanhar a negociação de fertilizantes pelos clientes e prospectos. Na última pesquisa em maio/2023 constatamos um significativo atraso em relação aos anos anteriores”, revela Marcelo Mello.

No Brasil, como um todo, as negociações para o segundo semestre estavam em torno de 44%, 16% atrasado com relação a maio/2021 e 2022. No Rio Grande do Sul o atraso era ainda maior, com mais de 25% de defasagem em relação ao ano passado, possivelmente devido à quebra de safra.

Efeito cascata

O atraso nas compras de fertilizantes seguiu até meados de junho, quando os preços se estabilizaram. Houve uma compra significativa nesse período, o que leva Marcelo Mello a acreditar que cerca de 10 a 15% da demanda tenha sido atendida no final do respectivo mês.

“Se estávamos com 44 a 45% das negociações feitas, fomos agora a 55 a 60%, o que significa que ainda resta aproximadamente 30% da demanda a ser atendida, e o prazo para essas compras está se esgotando. Por isso muitas pessoas devem finalizar suas compras até agosto”, avalia.

Logística

A Stonex prevê desafios logísticos mais sérios do que nos anos anteriores. Normalmente, no final de agosto e início de setembro ocorre um pico nas entregas de fertilizantes, e é comum que surjam problemas logísticos regionais nesse momento.

No entanto, esses problemas geralmente são resolvidos em questão de dias ou uma semana, à medida que os distribuidores e revendedores ajustam suas operações.

“Devido ao atraso nas compras deste ano, acreditamos que essa situação logística possa ser um pouco mais desafiadora do que o habitual. Portanto, nossa recomendação tem sido para que os clientes não atrasem suas compras, mas as realizem o mais rápido possível. Isso ajudaria a evitar aumentos de preços e, ao mesmo tempo, reduzir os riscos de problemas logísticos em setembro/2023”, indica Marcelo Mello.

Considerações importantes

Ao comprar fertilizantes, o aspecto mais importante a ser considerado é o ponto de aquisição. Atualmente, o Brasil importa 85% dos fertilizantes que consome, e os preços são influenciados pelo mercado externo.

Por isso, o analista destaca a importância de acompanhar o momento em que o preço dos fertilizantes está mais baixo em dólares por tonelada.

O segundo ponto é taxa de câmbio, que tem impacto direto no preço visto que Como 85% dos fertilizantes são importados. Além disso, é necessário avaliar a relação de troca, ou seja, quantas sacas do produto agrícola são necessárias para comprar uma tonelada de fertilizante. No ano passado, essa relação de troca já estava desfavorável, mas piorou ainda mais porque muitos produtores não fizeram “barter”. Dessa maneira, uma parcela considerável comprou fertilizantes a preços muito altos em 2022 para fazer seu plantio, mas quanto chegamos a março – abril /2023 os grãos haviam caído bastante. Para evitar essa situação, Marcelo considera o “barter” uma ferramenta excelente.

“Tem gente que não gosta de fazer o barter porque acha que não consegue o melhor preço de venda do grão e nem o melhor preço de compra do fertilizante. Então, prefere separar, mas o ideal é fazer isso simultaneamente, para evitar situações como a do ano passado, que os produtores seguraram a produção esperando melhores preços de grãos, o que não aconteceu, e tiveram que arcar com os altos preços dos fertilizantes”, relembra.

Portanto, a recomendação de Marcelo Mello é que o produtor utilize o barter efetivo ou “sintético”, onde o produtor vende grãos, em volume equivalente ao valor monetário do investimento sendo efetuado na compra dos fertilizantes, com as duas transações sendo feitas no mesmo momento. “Pode ser de um estoque antigo que ele tenha, pode ser já se comprometendo a vender a safra futura. Não precisa vender a safra inteira, mas uma porcentagem para equalizar a situação”, ensina.

Seguindo esse conselho, o produtor evitará não apenas o descompasso entre preços de fertilizantes e grãos como também o risco de variação da taxa do dólar, que impacta tanto os fertilizantes como os grãos. Em julho/2023 a taxa de câmbio ficou na média de R$ 4,80, mas já esteve por muito tempo acima de R$ 5,00.

Reforma tributária

O PIB brasileiro está em franco crescimento, muito por conta do agronegócio, indo além das expectativas. “Desde que a reforma tributária, que está finalmente saindo do papel, não traga surpresas negativas, o cenário econômico pode seguir melhorando. Portanto, a situação é favorável para a compra de fertilizantes, e o produtor não pode perder o timing”, conclui Marcelo Mello.

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