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segunda-feira, setembro 16, 2024
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Eucalipto e o impacto das mudanças climáticas

Crédito Depositphotos

Eduardo Moré de Mattos
Engenheiro florestal, mestre em Ecofisiologia Florestal e co-fundador da Geplant
eduardo@geplant.com.br

Gostemos ou não, aceitemos ou não, acreditemos ou não, o fato é que os impactos do clima sobre as plantações florestais têm sido notáveis e quantificáveis, especialmente na última década.

Por que isso é importante? Até 2028 a indústria de base florestal tem investimentos anunciados da ordem de quase R$ 70 bilhões. Isso mesmo, não foi um erro de digitação, quase R$ 70 bilhões.

O impulso da indústria tem estimulado novos plantios e investimentos na formação de florestas e toda sua cadeia (insumos, serviços, mão de obra, infraestrutura, etc.). Logo, conhecer os riscos sobre a produtividade é fundamental para o sucesso de qualquer empreendimento florestal.

O peso das florestas

A base atual de florestas plantadas está próxima de 10 milhões de hectares, majoritariamente composta por eucalipto (76%). Contudo, o crescimento desta base ocorre principalmente no bioma Cerrado, liderado pelo estado de Mato Grosso do Sul.

Estima-se que apenas em 2024, cerca de 1 bilhão de mudas serão plantadas, adicionando cerca de 500.000 ha à atual base. Em sua maioria, são pastagens convertidas em plantações florestais, somados a aproximadamente 300.000 de áreas reformadas (onde já havia cultivo de florestas). Devemos esperar um expressivo aumento da área plantada em 2025.

O que está mudando?

De maneira geral, temos observado um aumento das temperaturas mínimas, ou seja, não tem ficado mais tão frio assim, ou o período frio tem durado menos. Como na maioria do Brasil, as menores temperaturas ocorrem no período seco, o nível de estresse hídrico tem aumentado.

Outro fenômeno diz respeito à distribuição das chuvas, com chuvas mais irregulares e eventos mais intensos. Imagine que tomar 2,0 – 3,0 litros de água de uma só vez. Provavelmente não vai evitar que você sinta sede ao longo do dia, e com as plantas é a mesma coisa.

Agora, imagine que junto com um período de estiagem mais estressante (térmico e hídrico), aquela chuva que costumava cair na segunda quinzena de setembro só foi retomada no final de outubro… como diria o Dr. Rensi: “Reze para São Pedro.”

Impactos

Mas, afinal, qual o tamanho do impacto para a produtividade das plantações? O Brasil é um país continental e por isso, devemos nos atentar aos aspectos regionais das mudanças. Por exemplo, o aumento da temperatura tem tornado ambientes antes mais frios, mais aptos aos plantios, com a possibilidade de utilização de espécies e variedades mais tropicais e de maior potencial produtivo, além do aumento da favorabilidade ao crescimento do eucalipto nestas regiões.

Por outro lado, regiões naturalmente mais quentes têm sofrido com a intensificação de fenômenos de seca e consequente queda na produtividade.

Outro ponto importante é o destaque para regiões de transição, onde existem gradientes ambientais muito fortes, como exemplo o litoral da Bahia e Espírito Santo, o norte de Minas Gerais, entre outras regiões.

Nestes casos, alguns poucos quilômetros de distância podem separar áreas que sobreviveram a eventos extremos de áreas que não suportaram uma intensificação do estresse hídrico, ainda mais quando as florestas se encontram no auge do seu crescimento e consumo hídrico (entre o segundo e quarto ano pós plantio).

Novos desafios

Esse misto de otimismo com a atividade de silvicultura (cenário econômico e financeiro favorável), expansão para ambientes mais sensíveis (normalmente associados a terras mais baratas), imprevisibilidade dos fenômenos climáticos, aumento da ocorrência de pragas e doenças e malabarismos para atender a escala dos programas de plantio têm deixado silvicultores em estado de alerta.

Ao mesmo tempo, observamos uma nova era de inovações, como maquinário especializado para silvicultura, busca por materiais genéticos mais resilientes, insumos com foco na proteção ao estresse hídrico, uso de agentes biológicos, entre outros.

Tudo isso acontece junto e ao mesmo tempo, para engrossar o caldo e temperar a vida dos silvicultores.

Novas oportunidades

Como diz o ditado: “enquanto alguns choram, outros vendem lenço”. Para nós, nunca foi tão espetacular a prática da engenharia florestal como nos tempos atuais. Os cenários e preocupações com as mudanças climáticas impulsionam as ações para neutralização das emissões dos gases do efeito estufa, que impulsionam o uso de materiais de origem renovável, novas fontes de energia e o fomento a atividades produtivas alinhadas aos conceitos de economia verde, circular e compartilhada.

Isto cria um novo ambiente de negócios, motivado pelas imensas oportunidades proporcionadas pelo uso da árvore. Árvores são plantadas para fins de produção, de remoção de carbono, de conservação da biodiversidade, para aumento do conforto animal em sistemas integrados, ocupação de áreas marginais da agricultura e substituição de materiais de origem fóssil.

Há, ainda, novos usos, como tecidos, combustível, fármacos e alimentícios, biomateriais e coprodutos, além da fibra para celulose, papel e chapas, para novos e velhos usos na construção civil, para novas perspectivas de arborização e urbanismo, contemplação e retorno ao ambiente natural.

Florestas são abrigos e fonte de riqueza e prosperidade! Que as árvores possam nos apontar o caminho.

Para se aprofundar

Praticamente desde sua fundação, a Geplant tem atuado e produzido conteúdos referentes aos temas discutidos. Preparamos aqui um apanhado de materiais para aqueles que desejam mergulhar no assunto. Boa leitura!

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