19.6 C
Uberlândia
terça-feira, outubro 22, 2024
- Publicidade -spot_img
InícioArtigosManejo fitossanitário na produção de mudas de tomate

Manejo fitossanitário na produção de mudas de tomate

Devido à grande suscetibilidade a pragas e doenças, o uso de mudas sadias e de qualidade é essencial.

Rafael Campagnol
Doutor em Fitotecnia e professor – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
rafael.campagnol@ufmt.br
Renes Rossi Pinheiro
Doutor em Fitotecnia e bolsista de pós-doutorado do CNPq
renespinheiro@hotmail.com
Vinícius Gasparetto Penariol
Engenheiro agrônomo – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
viniciusgpenariol@gmail.com

A produção anual de tomate é de aproximadamente 4,0 milhões de toneladas de frutos frescos, com área plantada acima de 50 mil hectares e produtividade média próxima de 70 toneladas de frutos por hectare.

No Brasil, onde as condições climáticas são propícias ao desenvolvimento de diversos organismos fitopatogênicos, problemas fitossanitários são mais intensos e frequentes, resultando em perdas significativas em rendimento e qualidade.

Complexidade da tomaticultura

O cultivo do tomateiro é uma atividade complexa e de alto risco, exigindo grande atenção e conhecimentos técnicos do produtor e demais envolvidos. A qualidade dos materiais propagativos utilizados é ponto-chave para o sucesso do cultivo.

Devido à sua grande suscetibilidade a pragas e doenças, o uso de mudas sadias e de qualidade é essencial. Mudas contaminadas podem servir como “reservatórios de patógenos”, introduzindo problemas fitossanitários graves nos campos de produção.

Além disso, mudas de baixa qualidade podem apresentar crescimento desuniforme e menor resistência a estresses bióticos e abióticos, impactando diretamente a produtividade e a rentabilidade do negócio agrícola.

Devido à grande importância do uso de mudas de qualidade para iniciar uma lavoura de tomate, recomenda-se que a aquisição seja feita de empresas especializadas na sua produção. Caso o produtor decida produzir suas próprias mudas, é essencial fazê-lo de forma adequada e buscar orientação técnica necessária.

Ambiente de cultivo

O uso de estruturas de proteção, como estufas agrícolas, é fundamental para evitar ou reduzir a incidência de pragas e doenças nas mudas. Impedir o molhamento das folhas pela água da chuva é crucial para reduzir a incidência de doenças fúngicas e bacterianas.

Um bom dimensionamento do ambiente, especialmente em relação à altura do pé-direito (preferencialmente maiores que quatro metros), auxilia na manutenção da temperatura adequada ao cultivo e reduz o aquecimento excessivo do ambiente.

A instalação de antecâmara e o fechamento das laterais das estufas com telas antiafídeos é muito importante para reduzir a entrada de insetos, especialmente vetores de viroses, como pulgões, tripes e moscas-brancas.

Qualidade da água

A qualidade da água é fundamental para o desenvolvimento saudável das mudas de tomate, especialmente em sistemas sem solo que utilizam substratos. É recomendado o uso de água subterrânea de poços semi-artesianos em vez de fontes superficiais, devido ao menor risco de contaminação.

Parâmetros importantes a serem monitorados incluem salinidade, pH, condutividade elétrica e concentrações de íons e nutrientes. Medidas de tratamento, como filtragem e cloração, são essenciais para remover contaminantes físicos e biológicos.

A manutenção de água de boa qualidade é crucial para evitar problemas como o entupimento de emissores de irrigação e assegurar uma distribuição uniforme de água e nutrientes, promovendo o sucesso na produção de mudas de tomate.

Substratos

A qualidade do substrato é essencial para o sucesso na produção de mudas de tomate, devendo apresentar boas características físicas e químicas. Substratos devem permitir adequada retenção de água e aeração, com pH ideal entre 5,6 e 6,2 e condutividade elétrica adequada.

Materiais como fibra de coco e casca de pinus são comuns, sendo enriquecidos com turfa, vermiculita e fertilizantes para melhorar suas propriedades. A estabilidade e a ausência de patógenos, sementes de plantas daninhas e substâncias inibidoras são cruciais para garantir o desenvolvimento saudável das mudas.

Atualmente, há várias opções de substratos desenvolvidos especificamente para a produção de mudas de hortaliças. Um ponto importante, entretanto, é que o manejo hídrico e nutricional das mudas seja ajustado em função das características do substrato escolhido.

Sementes

A qualidade das sementes é fundamental para a produção de mudas de tomate e, consequentemente, para o sucesso do empreendimento. Devem ser adquiridas de empresas idôneas e selecionadas de acordo com o interesse do produtor, as condições climáticas do local de cultivo e a incidência de pragas e doenças frequentes na região de produção.

Sementes de alta qualidade devem apresentar elevadas taxas de germinação e emergência de plântulas normais, com estruturas bem formadas. Sementes contaminadas por patógenos, como fungos e bactérias, podem trazer sérios problemas ao campo de produção, sendo difícil a detecção e prevenção desses contaminantes.

A uniformidade das mudas está diretamente relacionada à qualidade das sementes, com lotes de baixa qualidade apresentando problemas desde a germinação. O controle rigoroso e a análise contínua das sementes são essenciais para garantir a saúde das mudas e o sucesso na produção.

Bandejas

Na produção de mudas de tomate, a utilização de bandejas multicelulares é amplamente adotada pelos viveiros especializados e produtores, devido à maior facilidade de obtenção de lotes de mudas de alta qualidade.

As bandejas mais utilizadas variam em número de células, entre 200 e 128, e devem ser, preferencialmente, de plástico rígido ou flexível. Há, também, a opção da produção de mudões, que exigem um recipiente intermediário, com volume de 200 a 400 ml.

O tipo de bandeja impacta diretamente nas quantidades de insumos utilizados e de mudas produzidas. Viveiros que reutilizam bandejas geralmente possuem estruturas próprias de limpeza e desinfecção para evitar a introdução de pragas e doenças.

Alternativamente, muitos viveiristas optam por bandejas descartáveis para eliminar o risco de contaminação, economizando mão de obra, tempo e água.

Monitoramento e controle fitossanitário

O monitoramento e controle fitossanitário na produção de mudas de tomate são essenciais para prevenir a entrada e disseminação de patógenos e pragas. Inspeções semanais detalhadas devem ser realizadas com o uso de ferramentas de diagnóstico, como lupas e câmeras macro, para detectar precocemente sinais de doenças e pragas.

Manter registros detalhados e históricos de inspeção é fundamental para identificar padrões e ajustar práticas de manejo. Ações imediatas, como a remoção de plantas afetadas e aplicação de tratamentos pontuais, são cruciais para conter problemas.

Medidas preventivas incluem a restrição de acesso às áreas de produção, uso de sementes e substratos livres de patógenos, desinfecção de ferramentas e bandejas, e utilização de água de boa qualidade.

Adicionalmente, a instalação de telas antiafídeos, eliminação de plantas daninhas e higienização das ferramentas e mãos dos trabalhadores são práticas importantes. O uso de produtos biológicos, como fungos e bactérias benéficas, complementa o controle químico, promovendo um manejo integrado e sustentável para garantir a saúde e desenvolvimento robusto das mudas.

Controle químico

Devido ao seu efeito mais imediato, os defensivos químicos são frequentemente utilizados quando uma doença ou praga já está presente e as medidas preventivas não foram suficientes.

A rotação de produtos, alternando diferentes modos de ação e ingredientes ativos, é essencial para evitar a indução de resistências e a consequente perda de eficácia no controle. Muitos produtores, diante desse cenário, têm adotado o uso racional, que combina defensivos químicos com produtos biológicos.

Estes últimos têm ganhado destaque no cultivo do tomateiro nos últimos anos, devido à possibilidade de registro para alvos específicos, rápida degradação, baixa toxicidade, ação eficiente e o mais importante, reduzindo o uso de agroquímicos e deixando os cultivos mais racionais e sustentáveis.

Controle biológico

A produção de mudas de tomate depende de práticas fitossanitárias eficazes e o controle biológico tem sido usado cada vez mais como alternativa sustentável aos métodos químicos. Exemplos de produtos amplamente adotados em viveiros incluem o fungo Trichoderma spp., utilizado para controle biológico de patógenos responsáveis pelo tombamento de mudas (damping-off), como Rhizoctonia, Pythium, Fusarium e Sclerotinia.

Parasitoides de ovos do gênero Trichogramma e a bactéria Bacillus thuringiensis podem ser usados no controle de lagartas. Outros Bacillus, como B. subtilis, B. pumilus e B. amyloliquefaciens, são utilizados para controle de diversas doenças foliares e radiculares do tomateiro.

Beauveria bassiana é eficaz contra diversos insetos, e ácaros predadores, como Stratiolaelaps scimitus, são aplicados junto ao material de cobertura das bandejas para controlar fungus gnats (Bradysia spp.).

“Vacinação das mudas de tomate”

O termo “vacinação de mudas de tomate” se refere ao processo de tratar as mudas com agentes biológicos ou químicos que conferem resistência contra pragas e doenças. Este procedimento é uma prática preventiva que tem como objetivo fortalecer as plantas jovens antes de serem transplantadas para o campo.

A principal forma de vacinação das mudas de tomate é pela aplicação de defensivos químicos, fungicidas, inseticidas ou bactericidas específicos, os quais protegem as plantas contra infecções iniciais.

Mais recentemente, agentes biológicos (Trichoderma spp, Bacillus subtilis e Bacillus thuringiensis) e indutores de resistências (ácido salicílico, ácido jasmônico e outros produtos comerciais que induzem a resistência sistêmica adquirida nas plantas) estão sendo usados no processo de vacinação das mudas.

Uso de porta-enxertos

A enxertia de mudas de tomate é uma prática eficaz de manejo fitossanitário, que consiste em unir duas plantas distintas: um porta-enxerto resistente a doenças de solo e pragas e um enxerto produtivo de alta qualidade.

Esta técnica oferece vantagens significativas, como a redução do uso de defensivos químicos, ao conferir resistência natural a patógenos como fusariose, verticilose e nematoides.

Além disso, as plantas enxertadas apresentam maior vigor e produtividade, suportando melhor as condições adversas e estresses ambientais. A escolha de porta-enxertos específicos, adaptados às condições locais e aos desafios fitossanitários da região, é crucial para o sucesso da enxertia, garantindo uma produção mais saudável e sustentável de tomates.

Educação e treinamento

Capacitar a equipe é crucial para um manejo fitossanitário eficaz. Treinar os trabalhadores do viveiro para reconhecer sinais iniciais de doenças e pragas, aumentando a conscientização e habilidades de identificação, melhora significativamente a eficácia das inspeções.

Criar protocolos operacionais padrões de boas práticas de higiene na prevenção da disseminação de patógenos, incentivando a limpeza regular das mãos, ferramentas e equipamentos e implementar programas de treinamento contínuo e avaliações periódicas garante que a equipe esteja sempre atualizada e preparada para manter a saúde das mudas.

Fotos usadas nesse texto: Vivati

ARTIGOS RELACIONADOS

Horticultura possui tecnologia no campo?

O advento dos veículos aéreos não tripulados (Vants) ou drones trouxe à tona o emprego acentuado de programas computacionais para aquisição, tratamento e análise das imagens...

Controle da murcha de Fusarium é fundamental para tomaticultores brasileiros

Variedade híbrida Evimeria, da linha Superseed, oferece resistência a essa e outras doenças, garantindo maior segurança ao plantio

Plantas daninhas em tomate industrial

Sebastião Nunes da Rosa Filho Licenciado em Ciências Agrícolas, doutor em Fitotecnia e professor - Instituto Federal Goiano sebastiao.nunes@ifgoiano.edu.br Carlos Antônio dos Santos Engenheiro agrônomo e doutorando em...

Nova variedade de pimentão oferece maior resistência a pragas

Lançada pela Seminis, variedade é indicada para estações de chuva e transição A nova variedade de pimentão SV1634PH da Seminis " negócio de sementes de...

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!