A máxima “as mulheres
podem ser o que quiserem” se aplica na ciência e mais ainda na ciência
agropecuária paulista. Maioria entre os cargos de direção nas sete instituições
de pesquisas de elite da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de
São Paulo, elas também ocupam 52% dos cargos de pesquisadores e 52% dos cargos
de servidores em geral, sejam eles cientistas, de apoio, administrativo ou de
comunicação, por exemplo. Neste Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de
março, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
lembra que dentro dos laboratórios e campos experimentais ou levando o
conhecimento para fora dos muros acadêmicos, as mulheres são fundamentais para
o desenvolvimento e para avanço científico e tecnológico.
A coordenadora substituta da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
(APTA), Harumi Hojo, é uma das 693 servidoras do Instituto Agronômico (IAC),
Instituto Biológico (IB), Instituto de Economia Agrícola (IEA), Instituto de
Pesca (IP), Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), Instituto de Zootecnia
(IZ) e APTA Regional. Formada em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiróz” (Esalq/USP) e com mestrado em
Entomologia pela Universidade de São Paulo, Harumi é uma das lideranças da APTA
e da própria Secretaria de Agricultura.
Filha de imigrantes japoneses, que vieram para São Paulo tentar uma vida
melhor, Harumi viu no campo o exemplo para crescimento profissional e melhor
qualidade de vida. Seus avôs e tios paternos se dedicaram as atividades rurais
no interior paulista, em Marília, enquanto seus pais ficaram na cidade.
“Apesar de crescer na cidade, sempre me interessei muito pelo trabalho no
campo, como agricultores. Minha mãe mesmo contava que já havia colhido
algodão”, afirma.
A história da família a fez se interessar em cursar Engenharia Agronômica na
Esalq/USP e dentro da Universidade viu na entomologia uma área promissora de
atuação. “Nos anos 80, se começava a falar mais de agroquímicos e sobre os
resíduos nos alimentos. Achei uma área interessante de atuação e que me fez
ingressar como pesquisadora no Instituto Biológico, em 1982”, conta.
No Instituto, Harumi iniciou sua atuação desenvolvendo trabalhos científicos em
manejo integrado de pragas e controle biológico. “Trabalhar nesses setores
me fez ter uma atuação próxima dos produtores rurais. Sempre acreditei que as
informações e tecnologias geradas na pesquisa não podiam ser guardadas, ficar
dentro dos institutos. Precisamos levar esses resultados para quem precisa,
para os produtores e para a sociedade”, afirma.
A pesquisa só faz sentido se o conhecimento é passado adiante
O pensamento de Harumi está alinhado com a demanda evidenciada pela pandemia do
novo coronavírus: a ciência precisa estar próxima da população e dos usuários
de seus resultados. Há mais de 40 anos, a hoje coordenadora substituta da APTA
tem essa visão, tão valorizada no momento atual. No IB, Harumi criou e liderou
o Programa de Sanidade em Agricultura Familiar (Prosaf), que por cinco anos
rodou todo o Estado de São Paulo atendendo a demanda de pequenos produtores
rurais. A partir das dúvidas e problemas enfrentados na região, Harumi
organizava equipes de pesquisadores para ir ao local conversar com os
produtores, orientá-los e realizar exames laboratoriais.
Para o público em geral, das cidades, Harumi criou a exposição Planeta
Inseto, que há dez anos mostra a importância dos insetos para
a agricultura e cotidiano da população, evidenciando, por exemplo, a atuação
dos polinizadores, formigas, baratas e a importância do controle biológico.
Mais de 475 mil pessoas já visitaram a mostra em seu espaço físico em São
Paulo, Capital, e em sua versão itinerante, que já passou em diversas regiões
brasileiras.
É de responsabilidade da cientista agrônoma também o cafezal urbano do
Instituto Biológico, cravado no coração da capital paulista, na Vila Mariana. O
espaço curioso, que abriga dois mil pés de café do tipo arábica cultivados em
sistema orgânico, é frequentemente visitado por baristas, empresas torrefadoras
de café, crianças e idosos com saudade do seu tempo de infância no interior,
que usam o cafezal como uma oportunidade para mostrar a seus filhos e netos
como realizavam o trabalho rural.
“Para mim, a pesquisa só faz sentido se o conhecimento é passado adiante.
No caso do Planeta Inseto, por exemplo, estamos ajudando a formar a geração do
amanhã, a que vai fazer diferença no nosso estado e país”, afirma.
Mulheres conquistam cada vez mais espaço
Na visão de Harumi, cada vez mais as mulheres estão conseguindo alcançar altos
postos de liderança. “Veja, temos uma mulher no cargo de
secretária-executiva da Secretaria, a Gabriela Chiste, além da Juliana Cardoso,
chefe de Gabinete da Pasta. Temos uma ministra da Agricultura mulher, a Tereza
Cristina. Mulheres também têm liderado países como a Angela Merkel, que é
inclusive cientista, na Alemanha. Venho de uma época que éramos poucas entre os
estudantes de Engenharia Agronômica e entre os cargos importantes. Hoje,
felizmente, temos avançado nesse sentido”, conta.
Harumi lista ainda exemplos inspiradores dentro dos Institutos de Pesquisa da
APTA. ” Além das
diretoras do IB, IEA, Ital e IZ, temos as pesquisadoras Mariângela
Cristofani Yaly, do Instituto Agronômico, e Maria Teresa
Bertoldo Pacheco, do Instituto de Tecnologia de Alimentos, à
frente de projetos de pesquisa com recursos vultuosos e com participação de
instituições do Brasil e do exterior, empresas privadas e da Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)”.
“A Mariângela e a Maria Teresa são as pesquisadoras líderes dos chamados
Núcleos de Pesquisa Orientadas a Problemas (NPOP) na área de biotecnologia em
cana, citros e café, e de ingredientes saudáveis. Esses projetos são
inovadores, em um modelo de pesquisa novo e com a participação de diversos
atores e instituições. É um grande desafio, mas que será vencido com a
competência dessas pesquisadoras e de suas equipes”, afirma.
Outro exemplo, é a pesquisadora do Instituto Biológico, Liria Okuda,
responsável pelo Laboratório de Viroses de Bovídeos do IB, um espaço com alto
nível de biossegurança, que permitiu que a Secretaria
de Agricultura contribuísse com o diagnóstico do novo coronavírus entre
os policiais militares e trabalhadores da Força Aérea com a técnica RT-PCR,
considerada padrão ouro pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Neste caso, tínhamos uma estrutura adequada para contribuir com algo
importante para o controle da pandemia de Covid-19 e que era um gargalo do
país, a testagem. Adequamos nossa estrutura para ajudar neste momento crítico e
ao longo de sete meses, realizamos mais de 12 mil diagnósticos da doença. Todo
o trabalho foi liderado por uma mulher, a Liria, que adequou o laboratório, fez
parcerias, conseguiu insumos e Equipamentos de Proteção Individual e ainda
treinou diversos voluntários. Mais uma vez, a liderança e a força da mulher em
evidência. Temos muitos exemplos dentro das nossas instituições e fora
delas”, diz.
A coordenadora substituta da APTA lista ainda a inserção das mulheres em áreas
estratégicas, como a Comunicação, hoje liderada dentro da Secretaria de
Agricultura por uma mulher, a Fernanda Albino, e que tem mais mulheres do que
homens em sua equipe. “A Comunicação e Transferência de Tecnologia são
áreas estratégicas, muito importantes para a Secretaria de Agricultura e para a
APTA de forma geral e que são lideradas por mulheres, mostrando a nossa atuação
em diversas frentes”, afirma.