Isabella Rubio Cabral
Graduanda em Ciências Biológicas – UNESP – Botucatu
Muriel Cicatti Emanoeli Soares
Engenheira agrônoma e doutoranda em Proteção de Plantas – UNESP – Botucatu
A agricultura enfrenta grandes desafios para a obtenção e aumento da produtividade. O rendimento nas lavouras está intimamente relacionado às taxas de produção agrícola e, portanto, essa demanda crescente gera a necessidade de aprimorar e incorporar tecnologias aos sistemas produtivos.
Nos últimos anos, o interesse na utilização de óleos essenciais tem aumentado por apresentarem diversas características desejáveis, como eficiência no controle de vários insetos-praga, baixa toxicidade para organismos não-alvo e baixa persistência no meio ambiente, sendo utilizados diretamente como agentes de controle ou como componentes em formulações de produtos.
Com base nisso, o óleo essencial da casca da laranja é considerado um grande facilitador e garante inúmeros benefícios para as lavouras, sendo compatível com o Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Origem
O óleo essencial de laranja é extraído da casca do fruto a partir do processamento de suco de laranja por um processo a frio, ou seja, sem a utilização de produtos químicos. Devido à sua alta afinidade com o tecido das plantas, o óleo da casca de laranja otimiza a aplicação de agroquímicos, como fungicidas, herbicidas e inseticidas misturados à calda de pulverização, uma vez que facilita a absorção e permite a rápida translocação do produto para seu sítio de ação.
Além disso, outro ponto positivo é que a sua utilização, diferente de produtos derivados do petróleo, impede possíveis danos à camada cerosa das plantas. Essa camada é responsável por evitar a difusão de água para o meio externo e é de extrema importância para os vegetais.
A efetividade das aplicações foliares com o uso do óleo também está diretamente relacionada à sua ação surfactante, reduzindo a tensão superficial da gota pulverizada.
O psilídeo
O Brasil é o maior produtor e exportador de suco de laranja do mundo e o ataque de insetos-praga é altamente prejudicial para a cultura, sendo o psilídeo-dos-citros Diaphorina citri uma das pragas de maior importância para a citricultura mundial.
São insetos sugadores de seiva e o desenvolvimento do psilídeo-dos-citros é hemimetabólico, passando pela fase de ovo, cinco estádios ninfais e adulto. Os adultos geralmente são encontrados em brotações, locais preferidos para a alimentação.
O ciclo de vida desse inseto sofre alterações em função da temperatura, umidade relativa do ar e planta hospedeira, variando entre 15 e 40 dias. Servindo como grande fonte de disseminação se encontra a murta de jardim Murraya paniculata, um dos principais hospedeiros desse psilídeo.
Prejuízos
Esse inseto assume grande importância, por ser transmissor da bactéria Candidatus Liberibacter spp., causadora do HBL (Huanglongbing, Greening), que ocasiona desfolha, seca e morte dos ramos.
Os sintomas do greening começam com o aparecimento de folhas amareladas e mosqueadas. Os frutos geralmente ficam deformados, pequenos e adquirem coloração esverdeada, caindo precocemente.
Quando as árvores são novas, não chegam a produzir frutos. Além disso, durante a alimentação do inseto ocorre a liberação de uma substância açucarada esbranquiçada, favorecendo a incidência de fungos.
Hoje, o psilídeo-dos-citros está presente nas principais regiões produtoras de citros do País e desde 2004, ano em que a doença foi relatada no Brasil, já foram erradicadas mais de 46 milhões de plantas infectadas, ocasionando uma redução de 100 mil hectares da cultura.
Controle
Atualmente, o controle deste inseto é realizado a partir de pulverizações com inseticidas, geralmente sem rotação de ingredientes ativos, favorecendo a incidência de populações resistentes e ocasionando possíveis desequilíbrios ao meio ambiente. Deste modo, devem ser realizadas investigações de formas alternativas de controle para garantir o sucesso do manejo.
Óleo essencial de laranja como ferramenta
Os óleos essenciais de plantas do gênero Citrus têm sido reconhecidos por suas propriedades inseticidas. Estudos têm demonstrado sua eficiência no controle de pragas, principalmente devido aos efeitos sinérgicos entre seus componentes.
Seu modo de ação pode estar diretamente relacionado aos compostos terpenoides presentes, como o d-limoneno e o linalol, embora mais estudos sejam necessários para elucidar esses efeitos.
A atividade repelente sobre adultos é a mais observada, embora sua ação de contato, dissolvendo lipídeos da cutícula do exoesqueleto, causando desidratação e morte do inseto, também venha sendo estudada. Há, também, relatos de ação no sistema nervoso, na inibição da acetilcolinesterase, ocasionando hiperexcitabilidade, convulsão, paralisia e morte.
As mais recentes investigações confirmam que os óleos essenciais de plantas podem ter não apenas a capacidade de repelir insetos, impedindo que se aproximem das plantas, mas de apresentarem ação direta de toxicidade ou atuarem como um agente antialimentar, impedindo que os insetos iniciem a alimentação e causando sua morte por inanição.
Em alguns casos, podem dificultar o crescimento e o desenvolvimento dos organismos, interferindo no metabolismo celular e atuando na deterrência à oviposição, na redução da viabilidade de ovos, ninfas, larvas e pupas, na fecundidade e na fertilidade do inseto.
Ação
Entre as diversas substâncias com efeitos diretos sobre os insetos, há aquelas que agem por contato (atuam e são absorvidas pela quitina e exoesqueleto), por ação fumigante (atuam nas vias respiratórias) ou por ingestão (penetram no organismo por via oral), sendo esta última uma forma mais específica de atuação, restrita aos herbívoros, apresentando, portanto, pouca toxicidade a humanos.
Observações mais recentes demonstram um potencial adjuvante das formulações de mercado à base de óleo essencial de laranja, que promovem melhor espalhamento da calda de pulverização, melhor aderência e penetração dos ativos e auxilia no efeito redutor da deriva.
Com isso, o uso de tais formulações vem crescendo consideravelmente em misturas com inseticidas químicos convencionais e até mesmo com fungicidas, a fim de potencializar a ação desses produtos e garantir controle eficiente do psilídeo-dos-citros.
Possíveis desafios
Apesar das inúmeras vantagens apresentadas pelo uso dos óleos essenciais, como a ação e degradação rápidas, toxicidade baixa a moderada para mamíferos, facilidade de obtenção dos ativos, maior seletividade e baixa fitotoxicidade, esses inseticidas podem apresentar algumas desvantagens, como a necessidade de utilização de algum composto sinergista, baixa persistência no solo e nas plantas, necessidade de padronização química e controle de qualidade dos ativos. Além disso, há carências de pesquisas a campo, dificuldade e custo para registro.
As propriedades repelentes são as mais estudadas entre os óleos essenciais como um valioso recurso natural. No entanto, devido à sua volatilidade, o efeito de proteção se dissipa relativamente rápido.
Portanto, o desenvolvimento de formulações capazes de manter os ingredientes ativos no alvo por mais tempo certamente ampliará a utilização destes óleos como repelentes nas mais diversas culturas.
Desta forma, se por um lado a degradação rápida do ativo pode ser uma vantagem, por trazer baixo residual e permitir a aplicação desses produtos próximo a períodos de colheita, por outro lado, a rápida degradação faz com que seja necessário um maior número de pulverizações durante o ciclo de uma cultura, o que pode aumentar o custo no manejo.
Além disso, há uma concepção errônea de que os inseticidas botânicos são sempre menos tóxicos ou mais seguros que os inseticidas sintéticos e nem sempre é assim. Muitas substâncias que apresentam ação tóxica aos insetos, podem apresentar também efeitos similares no homem.
Por isso, a falta de dados relacionados à fitotoxicidade, à persistência, aos efeitos sobre organismos benéficos e às dificuldades relacionadas ao isolamento de princípios ativos, bem como a concentração em diferentes partes vegetais, também são algumas barreiras a serem rompidas e mais estudos nesta área são necessários.
Apesar de haver informações sobre um expressivo número de plantas com atividade inseticida, ainda existe um grande desafio no que diz respeito ao desenvolvimento de produtos em maior escala, que possam ser disponibilizados comercialmente. A utilização de técnicas como a nanotecnologia, o encapsulamento dos ativos e a utilização de polímeros podem ser alternativas viáveis para esse sucesso.
Tudo começa com o monitoramento
Para garantir a eficiência da aplicação de produtos à base de óleo de laranja, bem como de qualquer tática de manejo, é necessário que o produtor se atente para que o monitoramento da praga na lavoura seja realizado de forma correta.
Vale relembrar que este inseto-praga é considerado um inseto-vetor. Portanto, a presença de um psilídeo já indica a necessidade de controle. O monitoramento pode ser realizado através do uso de armadilhas adesivas amarelas e inspeção visual, das seguintes formas:
– O psilídeo-dos-citros está presente na área durante o ano todo; porém, o monitoramento deve ser intensificado durante as épocas de primavera e verão, devido ao pico populacional do inseto;
– É necessário que ocorra a correta disposição das armadilhas amarelas pelo talhão, de modo a facilitar a sua visualização pelos insetos. Recomenda-se instalar as armadilhas a cada 100 – 250 metros na borda dos talhões;
– Inspeções constantes são necessárias, de modo a não deixar que o período entre as avaliações seja longo, uma vez que árvores infectadas podem ficar seriamente comprometidas em um curto espaço de tempo;
– No monitoramento visual, a inspeção deve ocorrer semanalmente em 1% das plantas dos talhões, com a observação de três a cinco ramos novos por planta e deve ser realizada em espiral, começando sempre pelas bordas do talhão e terminando no centro.
Recomendações
Além de inspeções frequentes, é necessário a eliminação de plantas doentes. Recomenda-se a aquisição de mudas sadias e eliminação de plantas hospedeiras. Vale destacar que o conhecimento da distribuição espacial do psilídeo no pomar é de extrema importância para o estabelecimento de critérios de amostragem e tomada de decisão visando o controle deste inseto-praga.