Hélio Casale – Engº Agrônomo desde 1961(ESALQ–USP)
Paradoxo é um conceito que é ou parece contrário ao senso comum. Por outro lado, deve–se reconhecer uma verdade “histórica“ – uma mentira repetida ou praticada inúmeras vezes acaba por virar uma verdade.
Vejamos alguns dos principais paradoxos, que podem ser facilmente observados no nosso dia–a–dia, e sobre os quais devemos meditar e agir, para conseguir segurança e liberdade suficientes para vivermos coerentemente junto aos nossos familiares e todos aqueles que nos rodeiam, esteja vivendo no campo ou na cidade.
Paradoxal é observar o plantio de árvores. Aquele que vive nas cidades e se atreve a plantar uma árvore, está invariavelmente, criando um problema para si próprio. Não pode conduzir seus galhos, não pode podar e muito menos cortar. Tais serviços são privilégio de “especialistas“ funcionários públicos, que em número sempre insuficiente, atendem precariamente.
A “erva de passarinho“ vem cobrindo inúmeras árvores, chegando a matá–las. Os munÃcipes não podem remover essa planta indesejável sob pena se sansões.
Pensando bem, para que ficar fiel depositário de uma ou mais árvores se me tiram o privilégio de cuidar delas? AÃ reclamamos que as cidades têm pouca área verde. Pudera! O que se pode esperar, se a população, antes de ser orientada é simplesmente proibida de fazer mais verde?
A pergunta que se impõe “ por que não plantar uma árvore, uma fruteira, uma hortaliça, sem se preocupar com sua origem, e tão somente com seus benefícios? Árvore é árvore, planta é planta, esteja onde estiver vinda de onde tenha vindo. Vamos cuidar delas, para o nosso próprio bem e de todos. Vale lembrar uma máxima do ilustre fisiologista Dr.Paulo de Tarso Alvin “ mais acumula CO² um hectare de alface em crescimento que uma floresta em clÃmax.
Já no campo, a liberdade ainda é total para o plantio e condução dos ramos (podas). Mas, hoje em dia, mesmo lá, para se cortar um pau para se fazer um cabo de enxada ou de machado, é proibido, tem que pedir licença. Leis, regras, portarias, impostas por dirigentes ambientalistas mal informados, ou mal intencionados estão contribuindo para acabar com o verde das cidades e reduzir o do campo.
A poluição nas cidades é facilmente observada. Árvores podadas para refazer a copa, soltam folhas novas que contribuiria para reduzir substancialmente essa poluição e evitar que atrapalhasse as redes elétricas e, por ocasião de temporais com ventos fortes não caÃssem atingindo transeuntes, veículos, casas. Por que não podar?
Indiscutível o esforço para se plantar mais e mais árvores nas calçadas, canteiros, jardins. A beleza que geram é fato inquestionável. Na cova aberta, geralmente não se coloca qualquer adubo mineral ou mesmo corretivo de solo para nutrir as plantas via suas raízes e fazer com que a planta cresça sadia e vigorosa. Logo após o plantio, escreve–se nas folhas “ se vire e pronto. As mudas saem lentamente e a grande maioria acaba morrendo antes mesmo de se tornarem adultas. Em grandes avenidas, os canteiros centrais têm plantas quase sempre morrendo de fome e sede. Reformar essas áreas é barato? A “moda ambientalista“, praticamente não permite que se empreguem adubos
minerais, apenas adubos orgânicos e aà temos o resultado: gastos excessivos com manutenção dessas áreas e pobreza do visual.
Outra prática muito observada nas cidades é colocar gaiola nas árvores recém plantadas, que são envoltas em um triângulo ou um quadrado, geralmente de ferro, para proteger as mudinhas. Na realidade, quem mais protege as mudas é o tutor, aquele pau ficando ao lado das mudas. Quando esse tutor apodrece ou se quebra, o que se vê é a árvore, cuja copa ao sabor do vento, esfrega na parte superior da gaiola e aà se forma um calo, uma ferida, que geralmente leva a morte precoce da muda.
Como sugestão “ um tutor mais reforçado e manutenção mais frequente, além de investimento em educação dos transeuntes.
Tanto no campo como na cidade, as plantas seqüestram o carbono, dão sombra, protegem o solo, amenizam o calor, preferidas para se sentar debaixo, abrir a marmita, tirar uma soneca ou mesmo levar um bom papo.
Causa assombro a onda fomentada por ecologistas pouco estudiosos ou mesmo mal intencionada, sugerindo e exigindo, ditatorialmente, que, ao plantar árvores e fruteiras nos espaços públicos, que isso seja feito apenas e tão somente com plantas de “espécies nativas“.
Esquece–se da máxima agronômica que diz ““as plantas, em geral, vão muito melhor quanto mais longe do lugar de origem“. Vejamos o quanto é correta essa assertiva: o cafeeiro é da Etiópia, continente africano, o abacateiro, do México, a mangueira, da Índia, os cÃtricos, a soja, a melancia, da China, o eucalipto, da Austrália, o pinheiro, é nórdico, o dendê, africano, o alho, da Ásia, o arroz, da China, a batata, dos Andes Peruanos… e assim por diante.
Quanto a tratar a água servida, é uma obrigação que deveria ser seguida por todas as áreas da sociedade. Enquanto a maioria das cidades ainda não tem esgoto totalmente tratado, e o despeja nos afluentes, os cafeicultores que lavam café, as agroindústrias, laticÃnios, lá na roça, são obrigados, sob pena de sanções graves, a tratar as águas servidas, para em seguida jogá–la no esgoto comum.
Os agricultores, que deveriam ser premiados por produzir alimentos, conservar a natureza, pela limpeza das nascentes, que mantém um meio ambiente favorável, estão sendo tratados como destruidores da natureza, malfeitores.
O morador da cidade pode poluir a vontade, o do campo é tratado como um irresponsável. Outra situação que causa constrangimento, diz respeito à venda e comercialização dos produtos da roça, comparado como os comercializados na cidade. O agricultor seja ele pequeno, médio, ou grande, é quem sustenta os da cidade, levando alimentos à sua mesa. Os da cidade os desprezam, desvalorizam, chamando–os de caipiras, atrasados, incultos, mas se beneficiam do seu trabalho. Quando o da roça vai vender sua produção, o resultado do seu trabalho, sempre está a perguntar ao da cidade “ quanto me paga hoje pelo produto? Quando vai adquirir insumos na cidade, para aplicar nas suas lavouras, esta é a pergunta “ quanto me faz por esse produto?
Os da cidade estão sendo levados a pensar que as hortaliças, frutas, trigo, mel, carne, vinho, etc, são produzidos ali no fundo dos supermercados. Falta uma visão mais ampla e maior valorização daqueles que trabalham de sol a sol, numa indústria sem teto,
correndo todos os riscos para abastecer as gôndolas com produtos de qualidade, a preços competitivos. Deveriam ser mais respeitados, quiçá idolatrados.
Vivemos dias de “não pode“ com o Estado assumindo a cada dia, mais e mais funções e responsabilidades, deixando seus cidadãos alheios, sem responsabilidade direta. Como o Estado é reconhecidamente perdulário, descompromissado, estamos entrando numa roda sem fim, a espera de dias melhores, com essa tutela irracional a que estamos sendo sutilmente submetidos, a título de “salvação nacional“.
Por fim, emende e acrescente quem souber, modifique quem quiser ou puder e todos dêem “graças a Deus“
Hélio Casale, é Engenheiro agrônomo pela ESALQ/USP, desde 1961.