Fábio Gelape Faleiro
Pesquisador na área de Genética e Biotecnologia – Embrapa Cerrados
A produção de mudas de maracujá, feita com o uso de sementes pela maioria dos produtores, pode ser obtida por via vegetativa, mediante o enraizamento de estacas.
No caso da propagação vegetativa, deve-se ter muito cuidado com a autoincompatibilidade. A maioria das espécies comerciais de maracujá são autoincompatÃveis. Necessitam, pois, da polinização entre diferentes plantas para ocorrer o vingamento das flores e formação dos frutos.
Esta característica de autoincompatibilidade tem implicações importantes nos métodos de propagação das plantas, uma vez que há necessidade de plantas geneticamente distintas nos pomares comerciais.
Por onde começar
Utilizar mudas de cultivares geneticamente melhoradas obtidas a partir de viveiristas e empresas idôneas e credenciadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento é essencial. É muito importante conhecer a estrutura do viveirista que vai fornecer as mudas que devem ser produzidas em ambientes protegidos, livres de pragas e doenças que podem danificar as plantas ou transmitir viroses.
Inovação
A principal novidade para o maracujá é o uso de mudas enxertadas para controle de pragas e doenças de raízes, como a fusariose. Esta doença compromete a produção do maracujá em áreas com histórico de ocorrência do patógeno.
Algumas seleções de espécies silvestres, como P. nitida, P. foetida, P. alata, P. gibertii, entre outras, são imunes à fusariose e estão sendo validadas com sucesso em condições comerciais.
Riscos
Não é recomendada a produção de mudas a partir de sementes obtidas de frutos comerciais. O maracujazeiro é uma planta que apresenta heterose (vigor híbrido) e problemas de autoincompatibilidade (inexistência ou baixa taxa de formação de sementes quando uma planta é fertilizada por seu próprio pólen ou pólen de plantas aparentadas).
As plantas originadas de sementes obtidas a partir de frutos comerciais podem perder a heterose, ou seja, podem apresentar baixo vigor, maior desuniformidade e maior suscetibilidade a doenças. Por isso, não é recomendado produzir sementes a partir de pomares comerciais, principalmente quando são de cultivares híbridas (obtidas por meio de cruzamento simples entre matrizes selecionadas).
No caso de variedades ou populações de maracujá (obtidas por policruzamentos envolvendo várias plantas-matrizes geneticamente diferentes), pode-se utilizar sementes obtidas a partir de pomares comerciais, mas com ressalvas. Mesmo as variedades ou populações podem ter problemas de autoincompatibilidade e perda de heterose nas gerações seguintes, principalmente quando há produção de sementes a partir de poucas plantas geneticamente próximas.
O produtor pode adquirir sementes de cultivares geneticamente melhoradas e produzir as mudas na propriedade, mas deve ter muito cuidado. A produção deve ser feita em ambiente protegido com telado antiafÃdeo, longe de pomares que possam ser fontes de inóculo de doenças e pragas.
Manejo
O manejo completo deve levar em conta a qualidade das sementes e o tipo de substrato, que deve ser fértil, livre de patógenos e apresentar certa porosidade para favorecer a aeração.
Pode-se usar uma mistura de duas partes de substrato comercial à base de casca de pinus decomposto, fibra de coco ou vermiculita com uma parte de húmus, composto orgânico ou esterco. Se não for possível obter substrato comercial, substituÃ-lo por solo das camadas mais profundas, para evitar contaminação por patógenos, fazendo-se a devida correção de acidez e fertilidade.
Germinação
Normalmente não temos maiores problemas de germinação de sementes de maracujazeiro azedo (Passiflora edulisSims), principalmente considerando o uso de cultivares geneticamente superiores.
No caso muitas espécies silvestresde maracujazeiro, o tratamento térmico por imersão em água não resolve o problema de dormência. Muitas vezes, são necessários tratamentos com reguladores vegetais em doses e tempos de imersão diferentes, dependendo da espécie.