Fabrício Custódio de Moura Gonçalves
Doutor e professor de Agronomia – Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
fabriciocustodiodemouragoncalves@urc.uespi.br
A maior parte da produção do rabanete (Raphanus sativus), igual a 73,68%, ocorre em pequenas propriedades de até 20 hectares, enquanto que as médias e grandes propriedades são responsáveis, respectivamente, por 24,71 e 1,68% da produção.
A produtividade varia de 15 a 30 toneladas por hectare, o que representa 16.000 a 20.000 maços por hectare. O rabanete, apesar de ser uma cultura de menor importância em termos de área plantada, é cultivado em muitas propriedades de pequeno porte das regiões metropolitanas (cinturões verdes), sendo um grande atrativo para cultivo consorciado com outras culturas de ciclo mais longo.
Produção anual e regiões produtoras
A produção anual no território brasileiro de rabanete varia de nove a 11 mil toneladas, sendo concentrada nas regiões sul e sudeste. Já a produtividade é bastante variável, dependendo, por exemplo, do genótipo utilizado e de manejos de adubação e irrigação. No entanto, podem variar de 15 a 90 t ha-1.
A produtividade média do rabanete no Brasil totaliza cerca de 1.399 toneladas. A região sul é a mais tecnificada e mais propícia para o seu plantio.
Demanda
A maior demanda do rabanete ocorre em grandes centros urbanos, em especial nos restaurantes, sobretudo, os Estados do Sul e Sudeste representam as regiões brasileiras onde mais se concentra a produção do rabanete.
Preparo de solo
O solo indicado para o rabanete é o areno-argiloso, rico em matéria orgânica, fértil, bem drenado, com pH entre 5,5 e 6,8 e sem pedras – caso contrário, as raízes poderão ficar tortas e ramificadas, especialmente em se tratando de cultivares que têm raízes compridas.
A cultura apresenta alta demanda de N, que pode ser suprida por adubação mineral ou por adubos verdes.
Importância das mudas
Dentre as principais etapas do sistema produtivo de rabanete, destaca-se a produção de mudas de qualidade, em especial a adequação das suas condições de cultivo, que deve propiciar arejamento, disponibilidade de nutrientes e a conservação da umidade.
As sementes devem ser semeadas diretamente no local definitivo na horta. O rabanete pode ser cultivado entre as linhas de outras hortaliças (especialmente as cultivares de rabanete de tamanho pequeno), como alface, cenoura, pepino, abobrinha, feijão-de-vagem, ervilha, espinafre, chicória e milho.
O plantio do rabanete deve ser feito de forma direta em sulcos distantes 20 a 25 cm e com profundidade de 1,0 a 2,0 cm. Quando as plantas atingirem 3,0 a 5,0 cm de altura deve-se realizar o raleio, deixando um espaçamento entre plantas de 5,0 a 10 cm. Durante o desenvolvimento das plantas, a irrigação deve ser diária, porém, o solo não deve ficar encharcado e por isso o canteiro deve apresentar boa drenagem.
Erros que devem ser evitados
O cultivo do rabanete pode ser realizado o ano todo em regiões de clima ameno. Já em regiões de clima quente, como no Brasil, o plantio deve ser feito de abril a junho, pois o calor favorece o florescimento.
Por se tratar de uma cultura que por muito tempo foi cultivada em baixa escala e por complementar as demais, muitas vezes o rabanete recebe o manejo inadequado. Dessa forma, a obtenção do sucesso neste cultivo depende de vários aspectos, mas a escolha de materiais mais adaptados a cada região é o primeiro passo, assim como a decisão pelo local de cultivo.
Para evitar erros, antes da instalação da cultura o produtor deve realizar a análise química do solo. A partir dela, calculam-se as quantidades de adubação de plantio e cobertura. Dessa forma, o produtor evita desequilíbrios nutricionais causados por excesso de alguns nutrientes e falta de outros.
Plantas nutridas adequadamente apresentam redução na incidência de pragas e doenças, o que reduz os custos com pulverizações. A atenção deve ser redobrada em relação à irrigação, que quando em excesso resulta em raízes mal desenvolvidas, com rachaduras e aumento da incidência e severidade de doenças.
Um manejo adequado representa o sucesso no cultivo e, consequentemente, a lucratividade do produtor. Não se trata de uma cultura com custo de instalação elevado. No entanto, apresenta uma excelente demanda e preços mais altos.
Quando o produtor emprega o manejo adequado, ele obtém mais produtividade e qualidade, conseguindo, dessa forma, preços mais elevados. Além disso, evita custos desnecessários, como por exemplo, com adubação.
Nutrição adequada
Com relação à nutrição, o solo deve ser rico em matéria orgânica. Para isso, antes do plantio deve-se adotar a análise de solo e, em seguida, aplicar esterco de curral curtido na proporção de 40 t ha-1.
Também se recomenda o uso de fertilizantes químicos, como NPK, no plantio do rabanete, sendo que a quantidade de cada elemento usado será determinada pela análise do solo e fase fenológica da cultura.
Entre todos os elementos necessários, o micronutriente boro apresenta maior importância, pois a sua ausência resulta na produção de raízes rachadas.
Fitossanidade
Retire com cuidado as plantas invasoras que possam estar competindo por recursos e nutrientes. Não é uma planta que sofre muito com doenças e pragas, por ser bastante resistente. Entretanto, devem ser observadas as presenças de grilos e pulgões e, ainda, a mela, que é uma doença causada por fungos. Em todos estes casos, devem ser tomadas providências para erradicar esses problemas, principalmente com a utilização de defensivos adequados ou de métodos naturais.
Colheita
A colheita começa de 25 a pouco mais de 30 dias depois da semeadura. É feita pelo arranquio completo da planta. A colheita não deve se estender por mais de 10 dias porque, após este período, as raízes começam a perder a sua qualidade e podem até mesmo ficar impróprias para o consumo e comercialização.
Investimento e rentabilidade
O investimento inicial no cultivo de rabanete é muito baixo e está relacionado à calagem, adubação de plantio, obtenção de sementes e mão de obra. Além disso, deve-se ressaltar que é uma cultura de ciclo curto, demandando assim menos mão de obra e insumos.
A rentabilidade do rabanete é bem interessante, pois é uma cultura de baixo custo de implantação e ciclo rápido. Além disso, o valor do quilo em épocas mais frias varia de R$ 2,00 a R$ 3,00, e nas épocas mais quentes o valor do quilo pode até dobrar.
O retorno já começa no primeiro plantio, graças a ser uma olerícola que mantém preços altos o ano todo e por apresentar ciclo curto. A comercialização de rabanete movimenta anualmente em torno de R$ 18 milhões.
Novidades na cultura
O melhoramento genético tem contribuído para desenvolver plantas de crescimento vegetativo moderado, precoces, de raízes arredondadas, com coloração interna e externa uniforme, adaptadas a diferentes condições climáticas e resistentes às principais doenças que acometem a cultura.
Do mesmo modo, esforços têm sido feitos no sentido de melhorar a qualidade nutricional e diminuir a ocorrência de problemas de ordem fisiológica ou nutricional que afetam as raízes, como a isoporização e rachaduras.
O uso de híbridos, Lucia permite a obtenção de elevadas produtividades, maior percentual de raízes de boa qualidade, além de tolerância a estresses abióticos, especialmente variações de umidade e temperatura no solo.
Custo-benefício
A relação custo-benefício do cultivo de rabanetes dependerá de fatores como tecnificação empregada e produtividade. Como exemplo, para uma produtividade média de 29,62 t ha-1, com valor médio de R$ 2,20, o produtor terá uma rentabilidade bruta de R$ 65.760,84.
Apesar de ser uma cultura pouco expressiva em termos de área plantada, possui boa viabilidade financeira, pois pode ser intercalada entre outras de ciclo mais longo, além de ser relativamente rústica, com ciclo muito curto e retorno rápido – de 25 a 35 dias após a semeadura.