Fábio Rafael Echer
Professor do Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Unoeste
fabioecher@unoeste.br
Jackson Ganguilhet
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Unoeste
jackson.ganguilhet@bomfuturo.com.br
Reguladores de crescimento, como o cloreto de mepiquate e cloreto de clormequate, são substâncias químicas sintéticas que se translocam de maneira ascendente e descendente na planta, inibindo a biossíntese do ácido giberélico, reduzindo, consequentemente, o alongamento celular.
A giberelina é o hormônio responsável principalmente pela expansão celular e é sintetizada nas regiões meristemáticas das plantas.
Equilíbrio no algodoeiro
O algodoeiro é uma planta perene de crescimento indeterminado com complexa morfofisiologia, uma vez que as fases vegetativa e reprodutiva ocorrem ao mesmo tempo. Assim, altas produtividades somente podem ser obtidas quando há adequado balanço na distribuição de carboidratos entre os órgãos vegetativos e reprodutivos (Figura 1).
Além dos fatores bióticos, o crescimento e desenvolvimento do algodoeiro são influenciados por fatores exógenos (água, luz e temperatura, fertilidade do solo), como também por fatores endógenos (hormônios).
A ocorrência de estresses que resultem em perda da carga frutífera ou condições que favoreçam o crescimento vegetativo, tais como excesso de N no solo, solo úmido, mas não encharcado, e temperaturas altas – >32ºC, resultam em crescimento excessivo.
Dependendo da fase fenológica, reduzem o índice de colheita, ou seja, a proporção de biomassa reprodutiva em relação ao total produzido pela planta. Nessas condições, o uso de regulador de crescimento se torna indispensável, pois possibilita o controle do crescimento vegetativo excessivo por meio da manipulação da arquitetura das plantas, sendo uma importante estratégia para obtenção de altas produtividades.


Figura 1. Plantas de algodão manejadas de forma diferente quanto ao manejo de regulador de crescimento.
Estudos
Embora o cloreto de mepiquate (CM) possa ser translocado no algodoeiro, isso ocorre a curtas distâncias. A aplicação do regulador na 5ª folha resultou, após 24 horas, em maior translocação para o caule abaixo da folha aplicada, e após 48 h foi encontrado no caule acima da folha tratada.
A concentração na 7ª folha só foi aumentada 96 h após a aplicação. Uma quantidade muito pequena de regulador foi detectada na raiz (Figura 2). Assim, a eficiência do controle do crescimento depende da boa cobertura da pulverização, o que, aliado à condição ambiental, irá garantir maior ou menor efeito residual do CM.
Figura 2. Variação da concentração da dose de regulador aplicada nas folhas, caule e raiz do algodoeiro em função do tempo após a aplicação. Adaptado de Wang et al. (2014).
Plantas que receberam a aplicação de reguladores de crescimento são mais compactas, com entrenós mais curtos, tanto na haste principal e ramos vegetativos como nos ramos reprodutivos.
As folhas são menores, consequentemente o índice de área foliar diminui, e isso melhora a transmissão de luz na copa até as partes mais baixas da planta, contribuindo para a fixação dos frutos nessa porção do dossel, além de aumentar a eficiência da aplicação de inseticidas e fungicidas.
Eficiência
O efeito do regulador no crescimento da planta depende, fundamentalmente, de sua concentração no tecido. Assim, doses mais altas aplicadas a plantas pequenas podem levar a prejuízo na produtividade, pois o regulador resulta em diminuição do número de frutos.
Assim, erro na dose, principalmente em plantas jovens, poderá levar à queda de estruturas e atraso no ciclo.
Considerando a evolução da severidade de algumas doenças fúngicas, tais como ramulária e mancha-alvo, e a eficiência de controle dos fungicidas, a manutenção do dossel arejado deixa o microclima menos propício aos patógenos, além de facilitar a deposição da calda de aplicação no terço inferior da planta.
Assim, o uso adequado de reguladores pode auxiliar no controle dessas doenças. Além disso, plantas tratadas com regulador de crescimento, em função da redução na expansão de área e aumento da espessura foliar, conservam mais água uma vez que a transpiração é menor. Em ambientes cujo déficit de pressão de vapor é elevado, a redução consumo de água diminui o risco de estresse hídrico por seca.
Penetração da luz no dossel
O crescimento da planta e o aumento da área foliar reduzem a transmissão de luz no dossel, de modo que no início do ciclo mais de 50% da luz que incide no topo da planta chega até o solo no meio das linhas de semeadura.
Por outro lado, quando o IAF é alto (acima de 4 ou 5), como ocorre por ocasião do florescimento, metade da radiação incidida chega no máximo até o meio da planta, resultando em pouca ou nenhuma radiação que chega até o solo (Figura 3).
Assim, a conservação de “frestas” de luz na entrelinha é um indicativo de que alguma radiação chegará até o baixeiro, o que poderá atender a demanda das folhas do baixeiro, que apesar de serem mais velhas e atingirem a saturação luminosa sob menor intensidade luminosa, ainda necessitam de ao menos 300 a 600 µmol m-2 s-1 de fótons.
Dessa forma, o uso de reguladores manterá o IAF controlado e reduzirá o comprimento dos ramos (monopodiais e simpodiais), resultando em maior penetração de luz no dossel.
Figura 3. Gradiente de penetração de luz no dossel do algodoeiro em duas fases de crescimento. Adaptado de Zhi et al. (2014).
Monitoramento do crescimento
A manutenção da carga frutífera sempre será o principal fator a regular o crescimento da planta, e em determinadas situações resultar em menor demanda de regulador, principalmente em cultivares precoces.
Nestas, o excesso do produto pode comprometer a produtividade e a qualidade da fibra, devido ao atraso na emissão de novos pontos de frutificação. Por outro lado, a ocorrência de temperaturas acima do ideal, principalmente se aliada a tempo nublado, levará ao desequilíbrio no crescimento vegetativo/reprodutivo, com aumento no abortamento e crescimento vegetativo excessivo, levando ao autossombreamento.
Ainda, a aplicação excessiva de N induzirá crescimento vegetativo intenso, também resultando em desequilíbrio vegetativo/reprodutivo. Desta forma, o crescimento da planta deve ser monitorado, com intervenções corretivas sempre que necessário.
De olho
O monitoramento da altura das plantas deve ser constante. Quando a planta tiver de seis a sete folhas verdadeiras, o primeiro botão floral deve aparecer no quinto ou sexto nós. Se isso não for observado, é um indicativo de crescimento vegetativo excessivo, e deve ser considerada a primeira aplicação de regulador, em baixa dose.
Até a fase B1 (1º botão floral) ocorre intenso crescimento do sistema radicular, enquanto o desenvolvimento da parte aérea é lento. Os estádios F1 e C1 (1ª flor e 1º capulho) requerem maior atenção, pois é quando o crescimento é intenso, principalmente se ocorrer perda de carga produtiva, especialmente entre F1 e Fn (florescimento pleno), entre 50 e 85/90 DAE.
A redução da altura da planta ocorre com a diminuição do comprimento dos entrenós, e este é sensível às condições ambientais, sobretudo temperatura, luz, disponibilidade hídrica e nutricional, além das características genéticas da cultivar.
A figura 4 mostra um padrão de crescimento considerado ideal, tomando-se como base a relação altura de plantas x número de nós. Nota-se que quando uma planta avaliada está à esquerda da reta, o crescimento é excessivo. Por outro lado, se a avaliação estiver à direta da reta, o controle do crescimento estará muito rigoroso.
Figura 4. Crescimento ideal de plantas de algodão em relação á altura da planta e número de nós na haste principal.
Na hora certa
O momento de aplicação do regulador deve ser definido com base em critérios técnicos. Como exemplo de critérios empregados mencionam-se: razão entre altura de plantas e número de nós da haste principal (Figura 4) e o comprimento médio dos últimos cinco nós do ponteiro.
A avaliação do comprimento dos cinco nós do ponteiro é um dos métodos mais eficientes para monitorar a taxa de alongamento dos entrenós, pois a síntese de giberelina se dá no ápice caulinar. Portanto, a região de maior influência do hormônio será no ponteiro da planta.
A medição é realizada contando-se o primeiro nó do ápice da planta (considera-se como primeiro nó aquele que tenha distância de no mínimo 1,2 cm até o segundo nó) até o quinto nó. Essa medida é dividida por 5, para obter a média dos entre -nós.
Ex. distância do 1º ao 5º nó: 16 cm dividido por 5 = 3,2 cm. O critério de interpretação varia de acordo com o perfil de planta desejado, tomando-se como base uma planta de 24 nós, conforme indicado na Tabela 1.
Tabela 1. Interpretação do crescimento de acordo com o comprimento médio dos 5 nós do ponteiro de acordo com o perfil (altura) da planta de 24 nós na colheita.
Altura da planta na colheita | |||
Crescimento | Baixa (<1,0 m) | Média (<1,2 m) | Alta (>1,20) |
Baixo | 2,5 | 2,8 | 3,2 |
Ideal | 2,8 | 3,2 | 3,5 |
Vigoroso | 3,1 | 3,5 | 3,9 |
Muito vigoroso | 3,4 | 3,8 | 4,3 |
Crescimento do algodoeiro
A justificativa da utilização do comprimento dos cinco nós do ponteiro e não da taxa de crescimento se dá em função de que esta última normalmente é calculada pela divisão da altura pela idade (DAE), o que poderá não demonstrar o crescimento atual da planta.
Isso porque esta taxa poderá estar influenciada por um crescimento excessivo ocorrido no início do ciclo, ou então os primeiros entrenós podem ter ficado curtos devido à fitotoxidez de herbicidas ou encharcamento, e os entrenós superiores terem crescido demasiadamente.
Ainda assim, a taxa de crescimento diário pode ser baixa ou moderada, mesmo com os entrenós do ponteiro longos. Dessa forma, avaliar os nós em crescimento se torna mais coerente, considerando que a giberelina está sendo sintetizada sempre em maior intensidade nos pontos de crescimento.
Realidade
As doses de regulador de crescimento utilizadas atualmente são muito superiores àquelas utilizadas no passado, e as razões para isso são:
– Adoção de cultivares transgênicas resistentes/tolerantes a lepidópteros: uma vez que a biotecnologia foi introgredida nos genótipos convencionais, estes demandam menor resistência natural, o que se traduz em maior energia disponível para o crescimento, ou seja, maior vigor.
– Menor fitotoxidade de herbicidas seletivos e não seletivos, tanto na aplicação em pós-emergência quanto em jato dirigido: a redução desse estresse demandou controle do crescimento mais precoce, normalmente por ocasião do aparecimento dos primeiros botões florais.
– Aumento da fertilidade do solo e do vigor de crescimento.
Figura 5. Planilha para gestão do manejo de regulador de crescimento no algodoeiro.
A planilha é intuitiva e o preenchimento inicia-se com a identificação do talhão e a cultivar. Define-se o perfil de planta no momento da colheita será trabalhado, tomando-se como base a emissão de 24 nós totais: baixa (<1,0 m), média (<1,20 m) ou alta (>1,20 m). Para cada perfil há um comprimento médio dos entrenós (CM5NP) do ponteiro da planta adequado.
Procede-se, então, com informação da data de semeadura e emergência e a data da avaliação, obtendo-se assim os dias após a emergência (DAE), que será necessário para o cálculo da taxa de crescimento diário, tanto a obtida pela divisão da altura pelos DAE quanto a calculada a partir da subtração da altura final (última avaliação) pela altura inicial (penúltima avaliação).
Um conjunto de três plantas (que representem a condição geral do talhão) é utilizado para gerar os dados de altura, número de nós e comprimento médio dos cinco nós do ponteiro.
A altura será utilizada para cálculo da dose a ser aplicada e o CM5NP e indicará ao usuário se o crescimento é baixo, ideal, vigoroso ou muito vigoroso. Com base nisso, uma decisão será tomada: monitorar ou aplicar.
Caso seja a de aplicar, as colunas seguintes trazem as doses sugeridas com base na condição de crescimento: normal (cultivar precoce), favorável (cultivar de ciclo médio/tardio) e muito favorável (cultivar tardia associada ao clima muito favorável ao crescimento vegetativo excessivo, com boa umidade no solo e temperaturas acima de 32 ºC, que podem levar ao abortamento de flores e frutos jovens, o que demanda maior controle da vegetação), conforme sugestão de Echer e Rosolem (2017).
Critérios
A utilização das informações obtidas pela planilha para tomada de decisão da aplicação deverá ter alguns pontos de atenção, pois é importante a observação dos fatores externos atuais e previsões do tempo, visto que uma planta “regulada” no momento da avaliação poderá mudar rapidamente seu comportamento em função de alguns exemplos: excesso de chuva, altas temperaturas e aplicações de N.
Com isso, deve-se agir e recomendar preventivamente, nesses casos, para evitar a perda de controle, levando em consideração que os efeitos do regulador dependem do tempo para absorção e ação, que normalmente acontece entre cinco e sete dias após a aplicação.
Capação
A capação, ou terminação do crescimento, é uma prática adotada na maior parte das lavouras de algodão do Brasil, com a finalidade de evitar a emissão de novos nós. A crescimento pode ser cessado de maneira natural quando há alta quantidade de drenos na planta, ou ele pode ser induzido com a aplicação de doses mais elevadas de reguladores.
Trabalhos conduzidos em áreas comerciais não mostram diferença em relação aos ingredientes ativos cloreto de mepiquate ou cloreto de clormequate. As doses a serem utilizadas irão variar de acordo com a carga frutífera retida, o vigor da cultivar, a disponibilidade de água e nitrogênio no solo e a temperatura do ambiente.
Assim, as doses utilizadas têm variado de zero até 250 g i.a ha-1. Quanto à época de capação, não há um consenso e depende muito do manejo empregado durante a cultura. Lavouras que são conduzidas para a precocidade (alta fixação dos frutos no baixeiro e terço médio; doses de N e densidade de plantas adequadas) poderão ser “capadas” mais cedo (90 a 100 DAE); ao passo que lavouras mais tardias que concentrem a produção no terço médio e ponteiro, aos 120 – 130 DAE.