Bruno Nicchio
Engenheiro agrônomo e doutorando em Produção Vegetal – ICIAG-UFU
LÃsias Coelho
Engenheiro florestal, Ph.D. e professor – ICIAG-UFU
Ernane Miranda Lemes
Engenheiro agrônomo, fitopatologistae doutor em Produção Vegetal
As plantas cÃtricas ocupam o primeiro lugar na produção mundial de frutos, sendo as laranjas responsáveis por 65% do volume de produção, com o Brasil sendo o maior produtor mundial de citros.
Atualmente, a citricultura brasileira é uma das culturas mais tecnificadas no cenário do agronegócio nacional, pois possuÃmos condições edafoclimáticas favoráveis ao setor, embora a maior produção verificada nos últimos anos tenha sido consequência do aumento de área plantada (Lourenço Júnior, 2011).
Problema x solução
Apesar da grande capacidade de produção cÃtrica apresentada pelo agronegócio brasileiro, um dos desafios relacionados às plantas cÃtricas está voltado para o controle de pragas e doenças, que acabam representando parte considerável dos custos de produção.
Por isso, o uso de tecnologias que apresentem menor custo e eficiência relativa próxima ou superior aos métodos convencionais é objetivo de estudos de muitos pesquisadores atualmente.
Como exemplo, o silício (Si), por ser um dos elementos mais abundantes na crosta terrestre, é reconhecido devido à sua influência na resistência das plantas em resposta a ataques de insetos, nematoides, doenças, além de sua influência no estado nutritivo, diminuição da taxa de transpiração pelo controle do mecanismo de abertura e fechamento dos estômatos, como também alguns aspectos relacionados à eficiência fotossintética.
Esses benefícios, ligados aos resultados de inúmeros trabalhos na literatura que demonstram elevada taxa de acúmulo de silício por diversas culturas e, com isso, maiores possibilidades de respostas, mostram que o silício é amplamente favorável ao produtor, restando a ele fazer a aplicação correta.
O silício
O Si concentra-se como ácido silÃcico polimerizado (sÃlica amorfa) principalmente nos tecidos das folhas, que é onde ocorre a evapotranspiração máxima da água absorvida junto com a solução do solo, onde a concentração média de Si nas raízes é relativamente menor se comparado com o caule e as folhas.
As plantas que mais acumulam Si são aquelas que possuem teor foliar do elemento acima de 1%, e as plantas consideradas não acumuladoras são aquelas com teor foliar menor que 0,5%.
Este acúmulo de Si nas folhas promove a formação de uma camada de sÃlica que diminui a abertura estomática e a transpiração, conferindo resistência às doenças e pragas.
Os benefícios deste nutriente nas plantas são proporcionais à sua concentração, assim, plantas com maiores teores de Si foliar apresentam menores perdas de água via evapotranspiração, resultando em folhas mais eretas, com maiores taxas fotossintéticas e maior resistência ao ataque de doenças e pragas, como sugadores e mastigadores (Nicchio, Lemes, Silva, 2015).
Resistência induzida
Outro aspecto importante a ser considerado, uma alternativa de fácil manejo e baixo custo, é a resistência induzida, que consiste no aumento do nível de resistência da planta por meio da utilização de agentes externos indutores (bioestimulantes, fosfitos, fontes de Si, etc.), sem qualquer alteração no genoma da planta.
Algumas espécies vegetais absorvem silício em grandes quantidades durante seu ciclo, resultando em sua participação na estrutura dessas plantas, que poderão apresentar maior resistência física e outros benefícios, como aumentos na produtividade da espécie e resistência à deficiência hÃdrica.
Função do silício
A função estrutural do silício pode proporcionar mudanças anatômicas nos tecidos das plantas, como células epidérmicas com a parede celular mais espessa devido à deposição de sÃlica nas mesmas, favorecendo a melhor arquitetura das plantas e aumentando a capacidade fotossintética e de resistência às doenças.
O silício absorvido pelas plantas é acumulado principalmente na epiderme de raízes e folhas, associado à pectina e aos íons do cálcio. O aumento na resistência a fatores bióticos e abióticos em plantas tratadas com silício se deve ao maior espessamento das paredes das células epidérmicas.
Todavia, além da deposição na parede celular, o acúmulo de silício pode se dar no lúmen celular e nos espaços intercelulares de raízes, folhas e órgãos reprodutivos. Estudos experimentais relacionam alterações anatômicas observadas em plantas tratadas com diferentes concentrações de silício à maior resistência contra herbÃvoros e patógenos e aumento da tolerância à seca.
O mecanismo de resistência a doenças é conferido à associação do silício com constituintes da parede celular, tornando-as menos acessÃveis às enzimas de degradação. Tal mecanismo de resistência também é dado pelo resultado da ação deste elemento no tecido hospedeiro, proporcionando uma barreira física e maior acúmulo de compostos fenólicos e lignina no local da injúria (Lourenço Júnior, 2011).