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Técnica – Cultivo do cafeeiro com fertilizantes organominerais

Autores

Regina Maria Quintão Lana
Professora de Fertilidade e Nutrição de Plantas – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
rmqlana@ufu.br
Mara Lúcia Martins Magela
Danyela Cristina Marques Pires
Doutorandas em Agronomia – UFU

Em 2018 a produção de café no Brasil foi estimada em 61,7 milhões de sacas de 60 kg colhidas em uma área de produção de 1.864,3 hectares. De acordo com dados divulgados pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) em seu 4º levantamento da safra 2018, a estimativa da produtividade do café Arábica foi de 31.72 sacas por hectare (37,2% superior à obtida em 2017) e para o café Conilon, 38,59 (37,4% superior à obtida em 2017), constituindo um novo recorde das lavouras de café no País (Santos; Teixeira, 2018).

Esse crescimento da produtividade vivenciado pelo setor está associado a um conjunto de fatores que envolvem o ciclo de alta bienalidade, principalmente das lavouras cultivadas com a espécie Arábica; condições climáticas favoráveis, renovação do parque cafeeiro com cultivares mais produtivas e o uso de novas tecnologias, como irrigação, adubação e controle de pragas e doenças.

Neste contexto, destaca-se que a contribuição de cada fator relacionado com as excelentes estimativas de produtividade do café brasileiro possui seus benefícios condicionados aos aspectos de nutrição do cafezal e ao manejo da fertilidade do solo.

Produtividade

A cultura do café está inserida em um movimento financeiro e mercadológico muito importante para a economia nacional e mundial, o que tem exigido cada vez mais manutenção e aumento dos índices de produtividade de maneira dinâmica e aprimorada. Para isso, é necessário buscar por práticas que sejam economicamente viáveis e também sustentáveis em todos os âmbitos de condução da cultura.

Dentro da temática de fornecimento de nutrientes para o café, muitas tecnologias em fertilizantes foram desenvolvidas com a finalidade de maximizar esse processo, tornando-o mais eficiente e sustentável. Uma das tecnologias disponíveis para atender essa demanda inclui os fertilizantes organominerais.

Diversos estudos já realizados, e outros ainda em andamento, têm comprovado que o uso de fertilizantes organominerais proporciona grandes benefícios para o manejo do cafeeiro, principalmente em condições de solos de cerrado, com desbalanço nutricional e/ou desequilíbrio químico e físico.

No cafeeiro, os benefícios desses fertilizantes podem ser percebidos nas propriedades físico-químicas do solo, permitindo diminuição no uso de corretivos, redução de doses e de parcelamentos (somente duas ou três aplicações), que normalmente, com os fertilizantes minerais são realizadas em até seis vezes durante o ciclo de produção.

Estudos

Em pesquisa sobre o uso de fertilizante organomineral aplicado isoladamente e em dose única em Coffea arabica cultivar “Catuaí Amarelo IAC-62”, Sandy e Queiroz (2018) observaram resultados de produtividade tão bons quanto os alcançados pelas plantas fertilizadas com fontes exclusivamente minerais, confirmando o potencial de uso com eficiência econômica e agronômica das formulações organominerais.

Destaca-se neste trabalho que tais resultados se repetiram mesmo com a redução da dose de recomendação, com incremento de 9,17 sacas ha-1 para o tratamento que usou menor dose do fertilizante organomineral (33%+NK-S) em relação ao tratamento que utilizou a dose total da recomendação com fontes exclusivamente minerais (Tabela 1).

Tabela 1: Fertilizante organomineral (08.00.10 + 8S) em Coffea arabica cultivar “Catuaí Amarelo IAC-62”

Fertilizantes Sacas ha-1
Safra 2015/2016 Safra 2016/2017 Média
Controle 38.86 b 19.32 b 29.09 b
(30-00-00 +KCl) 50.46 a 44.13 a 47.29 a
Organomineral NK+S (33% dose) 63.61 a 49.31 a 56.46 a
Organomineral NK+S (66% dose) 38.02 b 41.07 a 39.55 a
Organomineral NK+S (99% dose) 36.08 b 37.15 a 36.62 a

 (Adaptado de Sandy; Queiroz, 2018)

A matriz orgânica do fertilizante organomineral promove maior aproveitamento dos nutrientes pelas plantas por meio do processo de slow realese, ou seja, liberação lenta dos elementos que ficam menos expostos a perdas por volatilização do nitrogênio, lixiviação do potássio e adsorção do fósforo.

De acordo com Santinato et al. (2013), o uso de fontes orgânicas juntamente com a adubação mineral no manejo do cafeeiro proporciona maiores teores de macro e micronutrientes no solo e maior absorção dos nutrientes pelas raízes, especialmente do fósforo, à medida que a fração orgânica no sistema é aumentada.

Em pesquisa conduzida por Acra em 2015, o uso de fertilizante organomineral em uma lavoura de café, cultivar Catuaí Vermelho, com sete anos de idade, aumentou os teores de P no solo aos 90 dias após a aplicação, sendo que a quantidade deste nutriente cresceu linearmente à medida que se aumentou as doses do fertilizante.

Carmo et al. (2014), objetivando avaliar a influência de diferentes fontes e doses de fósforo em vaso, observaram que as maiores produções de massa seca total foram com o adubo organomineral e torta de filtro + fosfato natural, enquanto que a menor produção foi verificada para o fosfato natural aplicado isoladamente.

Ação e reação

 O efeito do fósforo no organomineral sobre a biomassa do café demonstra a importância da matéria orgânica associada à adubação fosfatada, pois a ocupação dos sítios de adsorção de P no solo leva à menor reação deste elemento com os minerais de argila e óxidos de ferro, e isso se reflete em aumento da disponibilidade de P para a solução do solo.

Os autores ressaltam também que esses resultados podem ser justificados pelo fato do fertilizante organomineral e a torta de filtro + fosfato natural apresentarem relações de Ca/Mg próximas do ideal para a cultura, o que contribuiu para a obtenção de maior produção.

O aporte de matéria orgânica no solo exerce influência positiva sobre os atributos físicos que estão diretamente ligados à aeração e retenção de água. Neste aspecto, Partelli et al. (2011), avaliando as características físicas do solo com cafeeiro conilon, observaram melhorias na densidade do solo, porosidade total e na resistência a penetração no cultivo orgânico comparado a área de cultivo convencional adubado com fertilizantes minerais (Tabela 2).

Tabela 2. Características físicas do solo em função do manejo do cafeeiro conilon (C. canephora)

Área Profundidade Densidade P. Total Mac Mic RP 0.1 RP 0.33
m mg m-3 m³ m-3 MPa
Café convencional 0.00-0.10 1.591 0.415 0.177 0.236 1.897 4.643
Café convencional 0.10-0.20 1.581 0.423 0.184 0.234 1.940 4.671
Café orgânico 0.00-0.10 1.402 0.473 0.219 0.254 1.168 1.503
Café orgânico 0.10-0.20 1.501 0.448 0.200 0.246 1.371 2.741

   Mac= Macroporosidade; Mic= Microporosidade; RP= Resistência a Penetração                                      (Adaptado de Partelli et al., 2011)

É de grande importância o aprofundamento do sistema radicular, bem como a atividade microbiana da rizosfera do cafeeiro. Assim, a melhoria na estrutura do solo, aeração, redução da compactação, retenção de água, são de extrema importância.

Neste contexto, Martins Neto et al. (2009), comparando a respiração edáfica e a presença de micorrizas em sistemas orgânicos e convencionais de produção de café da variedade Catuaí, confirmou que houve aumento da respiração microbiana do solo e presença de micorrizas no solo manejado organicamente (Tabela 3).

Tabela 3. Respiração edáfica e presença de micorrizas em cafezais orgânico e convencional.

Respiração Presença de Micorrizas
Edáfica mg Co2 m-3 h-1 Nº de esporos em 50 g de solo Infecção Micorrízica (%)
Sistema arborizado Março
Orgânico  136.71 a 607.80 a 42.40 a
Convencional  109.37 b 274.60 b 38.40 a
Sistema arborizados Setembro
Orgânico  167.22 a 592.8 a 18.2 a
Convencional  129.51 b 285.8 b 10.0 b

 (Adaptado de Martins Neto et al., 2009)

Chalfoun et al. (2005), analisando a microbiota associada ao solo em sistemas de cultivo orgânico de café, observaram maior presença do gênero Penicillium em relação aos locais fora da área de plantio, que apresentavam menores teores de matéria orgânica.

A presença do Penicillium constitui fator importante dentro do sistema de cultivo do cafeeiro, pois muitas pesquisas sinalizam que o fungo se constitui um potencial solubilizador de fósforo.

Vantagens

Os fertilizantes organominerais, além dos benefícios nas propriedades físicas, químicas e microbiológicas do solo, melhoram o metabolismo das plantas pela redução de estresses bióticos e abióticos, equilíbrio das atividades metabólicas, manutenção da fotossíntese ativa e balanço hormonal positivo.

Com isso, há um crescimento radicular com mais raízes laterais, maior crescimento vegetativo, maior número de ramos plagiotrópicos, maior retenção de folhas e flores, redução do efeito de bienalidade e, consequentemente, incrementos na produtividade.

Candido et al. (2013), estudando diferentes fertilizantes organominerais no desenvolvimento inicial do cafeeiro arábica cultivado em vaso, observaram que o organomineral granulado proporcionou superioridade de 70,91% no diâmetro de caule; 25,81% a mais no número de ramos plagiotrópicos; e 47,47% a mais de área foliar e 52,88% a mais de massa seca total em relação ao café adubado com fonte exclusivamente mineral (superfosfato simples) (Tabela 4).

Tabela 4. Fontes organominerais de P no desenvolvimento inicial do cafeeiro arábica cultivado em vaso (cv. Catuaí)

Fertilizantes Diâmetro de caule (mm) Altura de Plantas (cm) Nº Ramos Plagiotrópicos Área Foliar (cm²) Massa Seca Total
Ausência de aplicação de P 4.36 c 23.97 b 0.00 d 341.25 d 4.92 c
Superfosfato simples (Padrão) 5.33 b 35.35 a 7.75 b 1841.50 b 23.43 b
Orgânico granulado 5.53 b 26.00 b 3.25 c 1263.75 c 10.86 d
Org. em pó com microrganismos solub.  P 4.41 c 32.12 a 6.25 b 1354.00 c 17.09 c
Organomineral granulado 9.11 a 35.35 a 9.75 a 2715.75 a 35.82 a
Organomineral em pó com turfa 6.19 b 26.05 b 6.50 b 1088.00 c 13.24 d

 (Candido et al, 2013)

É de grande importância a escolha de fertilizantes mais eficientes que priorizem o manejo da matéria orgânica no sistema produtivo, sendo os fertilizantes organominerais uma tecnologia viável para fornecer os nutrientes e matéria orgânica demandados pelo cafeeiro para se obter alta produtividade.

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