Fernanda Lourenço Dipple
Engenheira agrônoma e professora – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
fernanda.dipple@unemat.br
O Brasil é destaque na pesquisa e uso comercial do fungo chamado de Trichoderma. Este fungo pertence ao filo Ascomycota, com formação de corpo de frutificação do tipo peritécio, formado em estromas de coloração verde, amarelada, creme ou marrom, produzidos sobre o substrato colonizado.
Na fase assexuada, são formados, a partir do micélio vegetativo, conidióforos com um eixo central e ramificações laterais, com conídios do tipo fiálide, com formato de garrafa ou alongadas. Na ponta das fiálides são produzidos os típicos conídios unicelulares, esféricos, ovais ou alongados, de cor verde na maior parte das espécies.
Quem são elas?
Diversas espécies de Trichoderma já são conhecidos há muitos anos pela capacidade de decompor madeira, restos vegetais e antagonizar outros fungos. Desta forma, consegue estabelecer interações benéficas na rizosfera de plantas cultivadas.
Assim, estes processos de aumento da decomposição de resíduos vegetais e ciclagem de nutrientes favorecem os solos, a rizosfera e as plantas. Estes processos de decomposição de restos vegetais e matéria-orgânica aumentam as partículas húmicas do solo, as quais melhoram a retenção de nutrientes, melhoram a capacidade de troca de cátions, aumentam a retenção de água, favorecendo a região do rizoplano e o desenvolvimento das plantas.
O Trichoderma no solo
As espécies de Trichoderma possuem a capacidade de produzir genes de enzimas, como as glucanases, quitinases, proteases e lignases. Assim, estes fungos possuem habilidades e adaptações para a sobrevivência em diversos ambientes adversos, até com a presença de patógenos, no qual eles conseguem antagonizar e se destacar.
Estes processos biológicos ocorrem inicialmente ao benefício do próprio fungo, que em parceria com as raízes das plantas trazem diversos benefícios.
Otimização da área radicular
Estes processos de aumento da decomposição de restos vegetais, alta capacidade de colonização e antagonização de patógenos beneficia e promove a saúde e o crescimento de culturas de interesse econômico.
De forma mais detalhada, o Trichoderma realiza processos bioquímicos, como a produção de antioxidantes e induz nas raízes e na parte aérea da planta uma diminuição dos níveis de ROS (espécies reativas de oxigênio) quando são prejudiciais para a planta, fato que leva a uma melhor tolerância ao déficit hídrico e outros estresses abióticos.
Outro fator é que o Trichoderma possui diversos genes que codificam chaperonas (proteínas que reparam os danos celulares nas plantas) e transportadores ABC (proteínas da membrana celular que facilitam a entrada de muitos nutrientes e precursores biossintéticos), secretando metabólitos primários e secundários, os quais aumentam a tolerância das plantas e promovem sua nutrição indireta e saúde.
Desenvolvimento da lavoura
Estes incrementos no desenvolvimento radicular, com maior proteção, menor estresse hídrico e salino, aumentam a disponibilidade de nutrientes, favorecem o sistema radicular e a planta, proporcionando aumento de produção e produtividade.
Absorção de nutrientes
Estudos demonstram aumento em comprimento radicular, de massa radicular, maior desenvolvimento de parte aérea, e aumentos de produtividade, com o uso do Trichoderma, resultando em aumento médio de produtividade de milho, soja, hortaliças e frutíferas.
Outros exemplos são com uso de tratamento de sementes de arroz, trigo e tomate com T. harzianum, que aumentaram sua taxa fotossintética, o peso das plantas, o comprimento de suas raízes e brotos e o número de folhas e área foliar.
Espécies de Trichoderma
Vale ressaltar que existem diversas espécies de Trichoderma e seus isolados. Cada um possui suas indicações e especificidades, mas de forma generalizada, são promotores de crescimento vegetal.
Dentre as espécies, temos Trichoderma harzianum, que é a mais comercializada mundialmente, depois T. viride, T. atroviride, T. asperellum e outras menos conhecidas, como T. lignorum, T. catenulatum, T. koningiopsis, T. virens, T. fertile, T. stromaticum, etc.
No Brasil, a maioria é indicada como promotora de crescimento vegetal, no manejo de doenças como podridões radiculares, mofo branco e nematoides.
Culturas beneficiadas
Os isolados de Trichoderma podem ser usados em diversas culturas e regiões, porém, os produtores devem observar as bulas e culturas indicadas para maior eficiência destes produtos biológicos.
Os biofungicidas à base de Trichoderma são utilizados no Brasil para as culturas da soja, algodão, milho, feijão, morango, citros, cana-de-açúcar, café, tabaco, hortaliças, ornamentais, frutíferas e espécies florestais.