MT: Chuvas retornaram e destravaram plantio, mas atraso compromete safra
O plantio da safra de soja, em Mato Grosso, se distanciou ainda mais do ritmo registrado no mesmo período do ano passado. A semeadura encerrou a quinta semana de trabalhos com 20% da área estimada coberta. Isso significa dizer que dos 8,80 milhões de hectares projetados, cerca de 1,76 milhão estavam cultivados até a última quinta-feira. O percentual de hectares plantados até o momento é o menor registrado desde 2010 pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). A lentidão reflete a falta de chuvas. Na semana passada a semeadura parou no Estado por falta generalizada das precipitações e retomada ocorreu em alguns pontos do Estado nos últimos dias.
O atraso anual passa dos 30 pontos percentuais (p.p.), já que até o dia 24 do ano passado mais de 50% da superfície estava plantada dentro da janela ideal, período em que há maiores condições agronômicas para o pleno desenvolvimento das plantas. Em 2011, por exemplo, quase 60% da área no Estado estava plantada com a soja.
A principal região produtora de grãos no Estado, a médio norte, é também atualmente a mais atrasada: 40 p.p. em relação a igual momento do ano passado, já que conforme o Imea, eram mais 62% da área plantada contra atuais 22,28%. O médio norte concentra 35% da superfície total, ou, 3,03 milhões ha.
IMPACTO – Se a safrinha começasse hoje, pouco mais da metade da área semeada com milho nesse ano, teria condições de ser cultivada. Em outras palavras, o atraso imposto pela falta de chuvas fechou a janela ideal da soja e estreitou ainda mais o pouco período que o produtor dispõe para semear o cereal. Dentro do atual cenário, o milho pode ter 50% da produção reduzida, considerando os mais de 3,22 milhões ha plantados em 2014 e os 1,76 mil ocupados até essa semana com o milho. A janela do grão se encerra no dia 20 de fevereiro e toda a soja plantada até agora, se não atrasar em função das fortes chuvas de meados de janeiro, será colhida até 20 de fevereiro.
Como o Diário já informou, o atraso no cultivo da safra de soja, não apenas vai minando as chances de boa produtividade à oleaginosa, como também, empurra o plantio do milho, que também poderá perder seu momento ideal, dentro da janela agronômica de Mato Grosso e ainda produtividade e produção. A janela da soja foi de 1º a 20 de outubro e as previsões apontam que a regularização e intensidade das chuvas são esperadas para este final de semana. O pico do plantio fica para novembro e esse retardo, conforme explicou na semana passada ao Diário, o produtor de Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá) e ex-presidente do Sindicato Rural local, Antônio Galvan, pode impor uma perda média de quatro a cinco sacas a menos por hectare. Toneladas que vão deixar de ser produzidas e consequentemente, comercializadas.
“Quanto mais a cotação aumentar em dólar e se reagir no mercado internacional, mais vamos perder aqui na Estado“, frisa Galvan. Considerando uma perda média de 5 sacas por hectares a R$ 50 (valor desejado e não praticado no momento) cerca R$ 2,5 bilhões, referentes somente à perda física de soja, vão deixar de circular na nossa economia a partir de 2015 e isso tem um efeito incomensurável na cadeia do agro negócio e nos demais setores, como indústria e comércio“.
MERCADO – A semana foi marcada por preços firmes no mercado brasileiro de soja, conforme resumo semanal da Safras e Mercados. A movimentação melhorou, mas a postura retraÃda dos produtores impede um fluxo mais ágil de negócios, mesmo com registro de aumento nas operações envolvendo a safra antecipada, os negócios do mercado futuro.
A recuperação das cotações domésticas está ligada ao bom desempenho dos contratos futuros na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT) e da valorização do dólar frente ao real. Em meio às incertezas na corrida à Presidência, a moeda atingiu os melhores níveis desde 2008, dando competitividade aos produtos agrícolas de exportação do Brasil.
No mercado interno, a saca avançou nas principais praças, com exceção de Mato Grosso, onde os preços cederam, por conta do avanço da colheita com a melhora do clima. Com a pressão sazonal, a cotação passou de R$ 57,50 para R$ 56,50.
A firmeza do mercado interno tem origem na boa recuperação das cotações futuras em Chicago. A boa demanda pela soja norte-americana, o atraso na colheita da safra dos Estados Unidos e as preocupações com a lentidão no plantio no Brasil fizeram os preços em Chicago atingirem o maior patamar em cinco semanas, com parte dos contratos voltando a superar a barreira de US$ 10 por bushel.