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Baunilha: a especiaria supervalorizada

Em todo o mundo, cerca de 110 espécies do gênero são conhecidas. Dessas, apenas de 30 a 40 são aromáticas e ocorrem somente na América tropical e subtropical. Do total de espécies, cerca de 40 ocorrem no Brasil, sendo que os biomas Amazônia e Mata Atlântica contam com uma maior diversidade.

Foto: Shutterstock

A baunilha (Vanilla spp.) é uma das especiarias mais valorizadas e apreciadas em todo o mundo, conhecida por seu aroma único composto por cerca de 300 compostos químicos. Utilizada principalmente nas indústrias alimentícia e de cosméticos, a demanda por produtos de baunilha de origem natural é significativa tanto no mercado nacional quanto internacional.

O Brasil possui espécies nativas de baunilha que podem contribuir para suprir essa demanda devido ao seu potencial aromático distinto e à variabilidade encontrada em diferentes condições ambientais no país.

Estudos sobre as características específicas dessas espécies e melhorias nos processos de produção podem aumentar a oferta de baunilhas brasileiras no mercado, proporcionando uma oportunidade de renda adicional para as comunidades locais e representando uma alternativa promissora para a agricultura familiar.

No entanto, o cultivo apresenta desafios, exigindo melhorias e adaptações para diferentes ambientes, além da produção de mudas saudáveis em maior escala.

Produção nacional

A produção de baunilha no Brasil, embora promissora, ainda está em estágios iniciais de desenvolvimento.

Segundo Roberto Fontes Vieira, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, a produção nacional de baunilha ainda é incipiente em comparação com países como Madagascar, Indonésia e México, que lideram o mercado mundial.

A baunilha contém cerca de 300 compostos químicos, responsáveis por um aroma único, com predominância de vanilina, e tem uma grande variedade de usos. Cerca de 97% da baunilha industrializada no mundo é usada na indústria de fragrâncias e aromas, em sorvetes, iogurtes, produtos de panificação, doces, bebidas e outros produtos aromatizados.

A baunilha é um produto com alto valor agregado, que exige mão de obra especializada e procedimentos e tratos culturais específicos. Atenção especial deve ser dada para a produção de mudas, o desenvolvimento e manejo das plantas, a polinização manual, e o processo longo e criterioso de beneficiamento (cura) dos frutos.

Espécies

Atualmente, são cultivadas, em escala comercial, três espécies de baunilha: a V. planifolia (aproximadamente 95% da produção mundial), a Vanilla x tahitensis J. W. Moore, um híbrido natural, e a Vanilla pompona Schiede.

Os frutos comercializados de V. planifolia são oriundos especialmente de ilhas do Oceano Índico – principalmente Madagascar, responsável por 80% da produção mundial. São conhecidos como Baunilha Bourbon por serem obtidos pelo método de beneficiamento desenvolvido na antiga Ilha de Bourbon, atualmente Ilha da Reunião.

Os frutos da V. tahitensis possuem aroma distinto e são oriundos de regiões do Oceano Pacífico, especialmente a Polinésia Francesa. Os frutos de V. pompona são originários do México, América Central, Trinidad & Tobago e América do Sul.

Os maiores produtores de V. planifolia são Madagascar, Indonésia, China, Papua-Nova Guiné, México, Índia e Uganda, responsáveis por 95% de toda a baunilha produzida no mundo. Embora o México tenha perdido sua posição como o maior exportador de baunilha, não perdeu a importância, já que é o principal detentor dos recursos genéticos associados à espécie mais comercializada (V. planifolia).

Espécies de baunilhas no Brasil

Muitas espécies que ocorrem no Brasil ainda são desconhecidas no resto do mundo. Algumas podem apresentar aromas ou outras características diferentes das encontradas em espécies cultivadas comercialmente.

A inclusão dessas espécies na gastronomia e em outros mercados promissores poderá valorizar os produtos regionais e gerar benefícios para comunidades rurais e demais interessados. Além disso, podem ser importantes para o melhoramento genético das baunilhas cultivadas por apresentarem características desejáveis: frutos que não se abrem quando maduros (indeiscentes), padrões aromáticos diversificados, resistência a doenças, entre outras.

Das 15 espécies aromáticas que ocorrem no Brasil, três são consideradas de valor econômico atual ou de uso potencial:

1) Vanilla phaeantha Rchb. f. (syn. Vanilla bahiana Hoehne), amplamente distribuída nas regiões sudeste, centro-oeste, norte e nordeste;

2) Vanilla chamissonis Klotzsch, distribuída em todas as regiões brasileiras;

3) V. pompona, amplamente distribuída nas regiões sudeste, nordeste, centro-oeste e norte.

Além das três espécies, mais algumas aromáticas de ocorrência no Brasil são: Vanilla columbiana Rolfe (syn. Vanilla calyculata Schltr.); Vanilla cribbiana Soto Arenas; Vanilla labellopapillata A. K. Koch, Fraga, J. U. Santos & Ilk.-Borg.; Vanilla marowynensis Pulle; Vanilla odorata C. Presl; e Vanilla trigonocarpa Hoehne.

Cultivo

A escolha do sistema de cultivo de baunilha está diretamente relacionada à diversidade climática, fator que pode condicionar a viabilidade econômica do empreendimento. Em biomas de clima quente e úmido como a Amazônia e a Mata Atlântica, as condições ambientais podem favorecer sistemas de produção extensivos, nos quais os custos tendem a ser relativamente mais baixos.

Em regiões menos úmidas, o produtor deverá investir em infraestrutura para manter as condições adequadas de cultivo. Basicamente para seu cultivo, a baunilha necessita de sombreamento de 50 a 70% (natural ou artificial); suportes/tutores para sustentação das plantas e substrato bem drenado e rico em matéria orgânica.

Em cultivos bem manejados, se todas as exigências das plantas forem atendidas, a baunilha floresce e inicia a produção dos frutos geralmente em dois a três anos após o plantio. Em V. planifolia, a floração com dois anos do plantio é excepcional, sendo possível, no caso de plantio de mudas bem desenvolvidas.

Em geral, o cultivo pode ser explorado por 10 anos ou mais depois do início da produção.

Local de plantio

Foto: Shutterstock

Em sistemas intensivos, a baunilha deve ser cultivada em área de fácil acesso, próximo da sede ou residência do produtor. O local deverá dispor de água de boa qualidade para irrigação, ser ensolarado e, se possível, ser protegido (quebra-ventos) e cercado para evitar o acesso de animais domésticos.

Nos cultivos extensivos, semiextensivos ou semi-intensivos, é importante observar que a baunilha seja plantada em áreas de mata ou de cultivos arbóreos, os quais nem sempre estarão próximos da sede da propriedade, o que dificulta o acesso.

Cultivo sob tela de sombreamento

O comprimento do telado deve ser orientado no sentido do sol nascente para o poente (leste-oeste), o que garantirá ambiente totalmente ensolarado na maior parte do dia. Quanto ao local para instalação do cultivo sob tela de sombreamento, deverá ser escolhido um terreno plano ou que apresente declividade leve, para evitar acúmulo de água.

A retenção de água compromete a produção e torna as plantas sujeitas a doenças e ao aborto de frutos. O solo do local deverá ser permeável, com boa drenagem, fértil, de consistência média e com bons teores de matéria orgânica.

A altura da tela dependerá da altura escolhida para os suportes/tutores e deve ser, no mínimo, entre 0,5 m e 1,0 m acima da extremidade superior do suporte/tutor. Por exemplo, caso o suporte/tutor tenha 2,0 m de altura, a altura da tela deverá ser em torno de 2,5 m a 3,0 m ou mais.

O sombreamento desejado é de cerca de 50% a 70%, o que, dependendo das condições locais, pode ser conseguido pela utilização de tela de sombreamento ou outro material. A tela de sombreamento é o material mais indicado, especialmente pela durabilidade (aproximadamente 10 anos), que coincide com a vida útil esperada do plantio de baunilha.

Além disso, protege as plantas em caso de tempestades e granizo. O amarelecimento ou o aspecto queimado das folhas é um dos indicativos de que o sombreamento é insuficiente.

Mercado

O Brasil ainda não tem tradição no cultivo de baunilha. Entretanto, experiências recentes de alguns agricultores, principalmente dos estados da Bahia, Espírito Santo e São Paulo, indicam que o País apresenta condições ecológicas adequadas (vegetação, solo e clima) para esse cultivo.

O mercado internacional da baunilha é marcado por flutuações significativas nos preços, um reflexo da disponibilidade limitada e da qualidade dos produtos. Entre os desafios do setor produtivo que afetam as oscilações da oferta do produto e que restringem o crescimento do mercado de baunilha estão a reduzida variabilidade genética de V. planifolia, baseada em poucas cultivares e clones, tornando o cultivo da baunilha altamente suscetível a doenças; o baixo nível de tecnificação na produção e no beneficiamento; e as perdas por desastres climáticos.

Este cenário sugere a busca de novos locais favoráveis ao cultivo da baunilha, bem como a exploração de espécies nativas que ainda não são utilizadas comercialmente. As baunilhas brasileiras podem apresentar características interessantes, como composição química e aroma diferenciados. No entanto, existem grandes desafios a superar para transformar essas espécies nativas em produtos para o exigente mercado da alta gastronomia e da indústria.

Foto: Shutterstock

Obstáculos

A sensibilidade da baunilha a doenças fúngicas e vírus, juntamente com as condições climáticas adversas nos principais locais de produção, são fatores que afetam a oferta e, consequentemente, o preço. Além disso, pontua o pesquisador, o cultivo é intensivo em mão de obra especializada e requer conhecimento técnico em diversas etapas, como polinização manual e beneficiamento dos frutos.

“O alto preço de mercado da baunilha oferece uma oportunidade aos produtores brasileiros, tornando-a uma cultura atrativa economicamente, comparável a outros produtos agrícolas”, expõe.

Roberto Vieira destaca a falta de mudas certificadas das espécies de interesse como um desafio significativo. Além disso, o processo de cura das favas de baunilha é demorado e requer conhecimento específico.

O mercado brasileiro ainda é voltado principalmente para o uso gastronômico, o que limita as oportunidades de comercialização.

Perspectivas

As perspectivas para o mercado de baunilha no Brasil são positivas, considerando o clima favorável ao cultivo. No entanto, é crucial superar desafios como a disponibilidade de material genético de qualidade e o estabelecimento de uma cadeia produtiva eficiente, desde a obtenção de mudas até a comercialização.

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