Thiago Alberto Ortiz
thiago.ortiz@prof.unipar.br
Silvia Graciele Hulse de Souza
silviahulse@prof.unipar.br
Franciely S. Ponce
francielyponce@gmail.com
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia e professores – UNIPAR (campus Umuarama-PR)
O algodão é considerado a mais importante das fibras têxteis naturais. Por sua vez, o Brasil possui cerca de 250 usinas de beneficiamento do algodão, denominadas algodoeiras, com capacidade de tratar 100% da produção nacional.
A maioria das algodoeiras está localizada nas propriedades agrícolas e pertencem aos fazendeiros, a fim de tornar o transporte mais rápido e barato ao cotonicultor.
Semente
Beneficiamento
Quando se trata de produção de sementes, o beneficiamento do algodão se inicia na colheita. Esta etapa é muito importante para que o produto seja de qualidade, devendo ser realizado isoladamente para cada cultivar.
Além das impurezas, a umidade interfere na qualidade do algodão durante o beneficiamento, tendo influência na forma como o descaroçador age nas sementes e na fibra. O ideal é utilizar o algodão em rama com 10% de umidade. Em geral, sementes menos úmidas são mais fáceis de serem processadas.
Descaroçamento
Na etapa de descaroçamento do algodão em rama, recomenda-se limpar todas as máquinas e instalações, antes de colocá-las em funcionamento, para evitar misturas mecânicas de sementes.
Ao fazer a mudança de cultivar, a algodoeira inscrita no Registro Nacional de Sementes e Mudas (RENASEM) deverá seguir as exigências do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) de passar ar comprimido e aspirador industrial nas máquinas de limpeza (batedor e extrator), descaroçamento e elevador de caçambas, inclusive nas tubulações e nas roscas sem fim de transporte de sementes com línter.
A separação da fibra das sementes (caroços) é realizada através de máquinas dotadas de rolos ou serras, sendo tal prática denominada descaroçamento, a qual consiste na mais importante operação do beneficiamento do algodão.
Deslintamento
Mesmo após a operação de descaroçamento, um dos obstáculos no cultivo do algodão herbáceo é a semente revestida por fibras curtas, tecnicamente denominadas de línter, as quais dificultam a fluidez da massa de sementes, quando submetidas aos processos de beneficiamento.
Também dificultam o tratamento químico, a etapa de armazenamento, por servir de abrigo para pragas e agentes patogênicos e a semeadura, por impedir o seu fluxo no sistema de distribuição da plantadora à tração animal ou matraca utilizada no plantio do algodão, fazendo-se necessário o uso de um número maior de sementes e o emprego de práticas onerosas, como o desbaste.
Assim sendo, o deslintamento é outra fase do beneficiamento das sementes de algodão para o plantio, que consiste na retirada do línter visando facilitar sua distribuição no sulco de plantio e eliminar, eventualmente, pragas e doenças. Além disso, a presença do línter reduz a capacidade de absorção de água pela semente, o que pode retardar a germinação.
Há uma possível vantagem do deslintamento químico quando o mesmo é realizado em conjunto com o deslintamento mecânico, tendo em vista que este último reduz consideravelmente o línter, mas quando é complementado pelo processo químico (ácido sulfúrico) estará eliminando totalmente o línter da superfície da semente.
Cuidados
Nos processos químicos, podem ocorrer problemas na qualidade das sementes decorrentes do tempo e da temperatura de reação e da presença de sementes danificadas mecanicamente.
Por essa razão, a ação conjunta de ambos os processos é mais eficiente, por reduzir o tempo de reação e por representar uma economia na quantidade de ácido sulfúrico. Por meio de roscas sem fim e elevador de caçambas, as sementes são transportadas para alimentar o deslintador mecânico.
Ao término do deslintamento químico, o ácido é removido do reservatório e as sementes são lavadas para a retirada do excesso de ácido e, em seguida neutralizadas com solução contendo carbonato de cálcio.
Este processo de deslintamento apresenta algumas restrições – uma delas é o processo de lavagem seguido de rápida secagem, o qual pode comprometer a qualidade fisiológica das sementes, especialmente o vigor.
O método químico utiliza ácido de difícil manipulação e não é aceito nos sistemas orgânicos ou ecológicos. Então, o método por flambagem constitui o mais adequado para esse tipo de agricultura.
Flambagem
No deslintamento através da flambagem, as sementes de algodão passam, por gravidade, no interior de um tubo vertical que possui de um a três bicos queimadores de gás na sua parte inferior e média, cujas chamas flambam grande parte do línter, dependendo da frequência de passagem das sementes pelo tubo: uma, duas e três vezes pelo fogo.
Há equipamentos com capacidade de deslintar em torno de 150 kg de sementes de algodão/dia-1 (apenas uma passagem). Após a flambagem, é crucial que ocorra rápido resfriamento, para que haja queima das sementes.
Estudos comparando sementes de algodoeiro submetidas a diferentes métodos de deslintamento observaram que aquelas que receberam ácido sulfúrico apresentaram percentagens de germinação superior, enquanto o deslintamento à flama ocupou posição intermediária.
O deslintamento mecânico se mostrou o menos favorável à qualidade fisiológica de sementes (geminação e vigor).
Além disso, foi observado que a flambagem permite diminuir o volume das sementes e utilizar uma semeadora mecânica com melhor distribuição, além de facilitar a manipulação e melhorar o estado sanitário, eliminando os organismos aderentes ao línter, reduzindo, assim, a quantidade de fungicida necessária à desinfestação.
Pré-limpeza
Após as etapas de deslintamento e de secagem, em geral, todos os lotes de sementes devem passar inicialmente pela máquina de ar e peneiras. A máquina de pré-limpeza de sementes de algodão sem línter deve ser projetada para remover eficientemente os outros materiais contidos dentro do lote.
A eficiência da máquina dependerá do desempenho da etapa de deslintamento realizado sobre as sementes.
Seleção de sementes em mesa de gravidade
Sementes submetidas ao processo de seleção em mesa de gravidade podem apresentar maior valor cultural, o que contribui para a redução dos custos de produção, por dispensar as práticas do desbaste e do replantio e, assegurar uma melhor regulagem das máquinas.
Em toda a linha de beneficiamento, estima-se uma perda de 20 a 25% de massa de sementes. Ou seja, cada 100 kg de sementes com línter irá resultar em 75 a 80 kg de sementes deslintadas de alta qualidade no final do processo de classificação em mesa de gravidade.
Tratamento de sementes
Na manutenção da qualidade das sementes e na prevenção e controle de doenças e pragas no campo, o controle químico é essencial. Neste contexto, o tratamento das sementes com fungicidas e inseticidas tem sido uma prática indispensável.
Além do controle exercido sobre os microrganismos transmitidos pelas sementes, os produtos químicos têm, com bastante frequência, ação residual que protege as sementes e as plântulas contra a invasão de microrganismo do solo e de armazenamento, principalmente quando as condições ambientais não são favoráveis à germinação, ao crescimento e à conservação.
Envasamento e armazenamento de sementes
Após o deslintamento e a classificação, as sementes tratadas são embaladas em sacaria de papel e armazenadas, aguardando a próxima semeadura. A recomendação de armazenamento das sementes de algodão tem sido de no máximo oito meses, nas condições ambientais e com teor de umidade inferior a 10%.
O saco de embalagem cumpre a função não apenas de facilitar o manuseio e o transporte, mas, também, de manter a qualidade das mesmas. Em cada sacaria, a rotulação deve conter todas as informações capazes de identificar o produto e o produtor de sementes, como sementes certificadas, nome e endereço do produtor de sementes, número de registro do produtor junto ao MAPA, CNPJ da empresa de sementes, espécie, cultivar, lote, peneira, safra, pureza e germinação mínima, prazo de validade do teste de germinação, peso líquido, etc.