Nilva Teresinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora e professora de Bioquímica, Nutrição de Plantas e Produção Orgânica (UniPinhal)
nilva@unipinhal.edu.br
O feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) é de alta importância social e econômica, pelas suas qualidades alimentícias, já que conta com teor
proteico, respondendo à necessidade alimentar de grande parte da população. Destaque-se, ainda, o grande número de pequenos agricultores que o cultivam, o que aumenta a sua importância social e econômica.
Trata-se de cultura de ciclo curto e adaptável às várias condições climáticas. No Brasil, é cultivada em três diferentes épocas:
Primeira: das águas, ou primavera- -verão;
Segunda: da seca ou verão-outono;
Terceira: de outono-inverno.
Características de cada ciclo
O feijoeiro cultivado na época das águas, apesar da vantagem de dispensar a irrigação, pode enfrentar alguns problemas, tais quais: encharcamento do solo, em áreas planas e de má drenagem, abortamento causado por altas temperaturas no florescimento, dificuldade de controle de ervas invasoras e o grande risco de perda completa da colheita pelas chuvas na época de colheita ou, pelo menos, produção de grãos manchados que causam prejuízos ao valor comercial.
Há, também, possibilidade de ocorrência de problemas fitopatológicos (o excesso de umidade favorece alguns patógenos). Já o feijão da seca (plantio no final das chuvas) é colhido em época praticamente isenta, o que favorece a qualidade dos grãos. Porém, para suprir o problema causado pela má distribuição de chuvas e evitar a queda de produtividade, é necessário irrigação.
A escassez ou má distribuição de água provocam queda de rendimento. A época é favorável ao ataque da cigarrinha-verde e do mosaico dourado, que causam importantes prejuízos à cultura em questão.
Água é fundamental
A irrigação é fundamental para cultivar o feijoeiro no outono-inverno, o que se configura como desvantagem. Entretanto, a produtividade geralmente é elevada, podendo superar 3.000 kg/ha.
Este ciclo permite melhor utilização das áreas de plantio – o cultivo é feito nas entressafras de espécies como o milho, arroz e soja. A colheita é feita em época de seca, o que facilita as operações necessárias e propicia obtenção de boa qualidade.
Considerando as várias épocas de cultivo, pode-se concluir que as principais causas estressantes para a cultura são: falta de água, incidência de pragas e doenças e o enfrentamento de altas temperaturas na época de colheita (das águas ou primeira época).
As algas
Entre as tecnologias para o enfrentamento de tais problemas, como irrigação, manejo de pragas e doenças, o emprego de formulados compostos por algas marinhas pode ser uma escolha. Mas, como agem as algas marinhas?
As algas marinhas são organismos que vivem em ambiente agreste, com variações diuturnas de temperatura enorme e elevada concentração de sais, o que faz com que elas desenvolvam metabolismo secundário que possibilita a formação de substâncias que as protegem permitem sua sobrevivência.
São ricas em nutrientes de plantas, aminoácidos, proteínas, glicoproteína, alginato (que tem grande capacidade de retenção de água), hormônios análogos aos produzidos pelos vegetais, como citocininas, auxinas, ácido abscísico, giberelinas e betaínas, que contribuem para o desenvolvimento vegetal, resistência aos fatores bióticos e abióticos e sua produtividade.
Qual a vantagem?
A literatura indica benefícios da inclusão das algas marinhas nos cultivos no enfrentamento de estresses abióticos, responsáveis por grandes perdas de produção, auxiliando na tolerância dos vegetais à seca. É preciso esclarecer que tais produtos, apesar de auxiliarem, não são 100% eficientes.
Eles estimulam a atividade de várias enzimas do sistema antioxidante, bem como a síntese de outros compostos importantes na tolerância aos estresses abióticos. Também há evidências de que o emprego de algas marinhas mitiga os problemas causados por altas temperaturas, que prejudicam o desenvolvimento e a produtividade vegetal.
Há importantes indícios de que tais respostas são causadas pelo aporte de hormônios, como citocinina, auxina e giberelina e estímulo de síntese deles pelas plantas. Relata-se, também, que as algas marinhas beneficiam, nas plantas, a atividade de enzimas do sistema antioxidante, que combate os radicais livres, prejudiciais às membranas celulares e à manutenção da integridade celular.
O desenvolvimento e a produtividade das plantas podem se prejudicar com o excesso de luminosidade, por causar danos à taxa fotossintética. A inclusão de extrato de algas pode minimizar tais efeitos.
Os pigmentos encontrados nas algas desempenham um papel fundamental na proteção das plantas contra o estresse ambiental,
como a radiação excessiva. As clorofilas, os carotenoides e as antocianinas são ativados em resposta a essas condições adversas, estimulando também a atividade de enzimas que combatem os compostos prejudiciais produzidos pelo estresse.
Esse fenômeno explica a capacidade protetiva das algas em relação às plantas nessas condições desafiadoras. Além disso, o uso de formulações contendo algas marinhas tem demonstrado melhorar as respostas das plantas a baixas temperaturas e à salinidade.
Estudos indicam que a aplicação desses extratos pode alterar a expressão de genes relacionados à tolerância ao frio, sugerindo uma influência direta sobre a resposta das plantas a esse estresse.
Da mesma forma, a presença de alginato nas algas contribui para a resistência das plantas à salinidade, promovendo a retenção de água no solo e nas próprias plantas, além de induzir a formação de substâncias que minimizam os efeitos da salinidade nas células.
As algas desempenham também um papel importante na resistência das plantas aos fatores bióticos, como fungos, bactérias e vírus, que podem afetar negativamente a produtividade agrícola.
Os extratos de algas têm demonstrado uma ação de amplo espectro contra esses microrganismos fitopatogênicos, tanto diretamente, reduzindo seu desenvolvimento e virulência, quanto indiretamente, estimulando o desenvolvimento de microrganismos benéficos
para as plantas.
Além disso, a inclusão de formulações com algas marinhas tem sido associada à redução dos danos causados por nematoides, tanto pelos efeitos diretos, como a morte desses organismos e a redução da fertilidade das fêmeas, quanto pelas alterações na regulação gênica e no metabolismo das plantas, bem como na promoção do crescimento de organismos antagonistas.
Apesar de estudos limitados, também há evidências de que as algas marinhas induzem a resistência das plantas aos insetos-praga, estimulando o metabolismo vegetal e a formação de enzimas como a quitinase, que quebram a quitina presente no exoesqueleto dos insetos.
Para o feijoeiro
A aplicação de formulados contendo extratos de algas via solo pode resultar em uma maior velocidade de germinação e desenvolvimento radicular das plantas. Isso se deve ao fato de que os princípios ativos presentes nas algas estimulam a germinação, por meio de hormônios análogos aos vegetais, e também proporcionam uma maior oferta de água, graças à presença do alginato.
Além disso, esses princípios ativos estimulam as enzimas do Ciclo de Krebs e da Cadeia Respiratória, que são fontes de energia para as plantas e promovema formação de hormônios como o ácido indolacético e giberelinas, responsáveis pela multiplicação celular.
Portanto, a aplicação via semente ou no sulco de plantio, por meio de fertirrigação, por exemplo, é uma opção interessante. A rápida germinação e o desenvolvimento radicular aumentado contribuem para uma exploração mais eficiente do solo, resultando em um melhor aproveitamento dos nutrientes e da água disponíveis.
Quando aplicar
Durante a fase vegetativa, a inclusão de formulados com algas estimula as taxas respiratórias e fotossintéticas das plantas, proporcionando maiores níveis de energia e carboidratos. Isso ocorre pelo estímulo à fotossíntese e à síntese de clorofilas,
favorecendo o crescimento da planta e a formação de produção.
Em períodos de estresse ambiental, como veranicos, altas temperaturas e alta radiação solar, a aplicação foliar de formulados com algas pode tornar as plantas mais resistentes a esses fatores. O metabolismo da planta é estimulado, fornecendo mais energia, e os pigmentos envolvidos na fotossíntese, como clorofilas, carotenoides e antocianinas são protegidos, garantindo a manutenção do
processo fotossintético em taxas mais altas do que na ausência do produto.
Além disso, os formulados com algas marinhas reforçam a resistência das plantas a pragas, doenças e nematoides. Observações da literatura científica demonstram algumas das possibilidades do uso das algas marinhas em feijoeiros.
Pesquisas
Um estudo realizado por Martins (2022) avaliou o efeito de bioestimulantes no desenvolvimento e produção do feijoeiro, incluindo o tratamento com um formulado comercial contendo glicina associada a algas marinhas Ascophyllum nodosum, aplicado via foliar nas fases V4 e R5.
Os resultados indicaram efeitos positivos do uso das algas, com aumento significativo no número de grãos por vagem (14% em relação ao controle) e na produtividade (aumento de 23%, equivalente a 9,3 sacas em relação ao controle).
Matias; Stadnik; Ribeiro (2021) estudaram os efeitos do polissacarídeo ulvana, obtido da parede celular da algamarinha Ulva fasciata na resistência à antracnose, em plantas inoculadas. A avaliação da severidade foi feita nos dias 5, 7, 9, 11, 13 e 15 após a inoculação. Os resultados obtidos mostraram-se promissores na bioestimulação das plantas e na indução de resistência.
Estratégia eficiente
Além de desempenharem um papel crucial na resistência das plantas a uma variedade de fatores bióticos e abióticos, as algas marinhas oferecem uma série de benefícios adicionais quando incluídas no sistema de cultivo de qualquer espécie vegetal.
A aplicação estratégica desses extratos pode proporcionar vantagens significativas em diferentes estágios de desenvolvimento das plantas, promovendo um crescimento mais robusto e uma produção mais saudável.
Por exemplo, quando adicionadas via sementes ou através da fertirrigação nos sulcos de plantio, as algas estimulam a germinação, o enraizamento e o desenvolvimento inicial das plantas.
Durante o período vegetativo, elas impulsionam a formação da planta, preparando-a para uma produção mais vigorosa. Próximo à florada, as algas promovem um aumento na floração, enquanto durante esse processo melhoram a formação dos grãos e vagens, aumentando assim o potencial de produção.
Ao incluir extratos de algas em diferentes estágios de desenvolvimento das plantas, os produtores podem preparar suas lavouras para enfrentar com mais eficácia os estresses causados pela escassez de água, temperaturas extremas e problemas fitossanitários. Essa abordagem integrada contribui para a resiliência das plantas e a maximização da produção agrícola.
É importante ressaltar que o uso adequado das algas, assim como de qualquer outro insumo agrícola, requer assistência técnica especializada. A escolha das doses corretas e a aplicação adequada da tecnologia são fundamentais para garantir o sucesso da utilização desses produtos, e dependem tanto das características específicas da lavoura quanto da forma de aplicação adotada.
Portanto, ao considerar a inclusão de algas marinhas em seu sistema de cultivo, não deixe de consultar um profissional qualificado para orientá-lo sobre as melhores práticas e estratégias para aproveitar ao máximo os benefícios desses extratos na sua produção agrícola.