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Adubação + silício: como ajudam a evitar impactos climáticos?

Fabio Olivieri de Nobile
Doutor e professor – Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB)
fabio.nobile@unifeb.edu.br

O silício, embora não seja considerado essencial para as plantas, desempenha um papel importante na resistência delas em diferentes ambientes. Geralmente encontrado como óxido de silício no solo, pode ser absorvido pelas plantas e depositado em seus tecidos na forma de ácido silícico (H4SiO4).

Esse elemento fortalece a parede celular das plantas, proporciona proteção contra pragas e doenças, além de aumentar a capacidade das plantas de resistir a condições adversas, como salinidade e seca.

Onde entra o silício?

Com as mudanças climáticas afetando os padrões globais de clima, o papel do silício na agricultura e nos ecossistemas naturais torna-se cada vez mais relevante. As alterações climáticas podem intensificar os estresses causados por fatores abióticos e bióticos nas plantas, incluindo temperaturas extremas, variações na disponibilidade de água e aumento da incidência de patógenos e herbívoros.

O uso do silício pode auxiliar as plantas a enfrentar esses desafios, aumentando sua capacidade de adaptação e contribuindo para a sustentabilidade da produção agrícola e a estabilidade dos ecossistemas naturais diante das mudanças climáticas

Papel essencial

A adubação pode desempenhar um papel fundamental na redução dos impactos climáticos na agricultura, auxiliando no aprimoramento do desenvolvimento fisiológico vegetal e produtividade das culturas em condições ambientais desfavoráveis.

Dentre esses papéis está o equilíbrio nutricional. Isso porque a aplicação adequada de nutrientes fornece os elementos essenciais necessários para o crescimento saudável das plantas.

Nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio, cálcio, magnésio, enxofre e micronutrientes também têm funções importantes. Um equilíbrio nutricional permite que as plantas se desenvolvam de forma mais robusta, tornando-as mais adaptáveis a condições climáticas adversas, como secas e altas temperaturas.

A adubação também pode influenciar a capacidade do solo de reter água, o que é crucial durante períodos de escassez hídrica. A incorporação de matéria orgânica, por exemplo, melhora a estrutura do solo e sua capacidade de retenção hídrica, minimizando o estresse relacionado à falta d’água nas plantas.

Uma adubação adequada, especialmente com nitrogênio, é essencial para a fotossíntese, que é o processo pelo qual as plantas geram energia. Nutrientes apropriados permitem que as plantas mantenham uma alta taxa de fotossíntese, mesmo sob situações de estresse.

Por meio da adubação, é viável ajustar as práticas agrícolas para se adaptarem melhor às alterações nos padrões climáticos quanto à chuva e temperatura, modificando os tipos e quantidades de fertilizantes empregados conforme as necessidades específicas influenciadas pelo clima.

Mais resistência

O silício pode desempenhar um papel importante na promoção da resistência das culturas agrícolas às mudanças climáticas, pois é armazenado nas células das plantas na forma de sílica, aumentando a resistência das paredes celulares, fazendo com que as plantas se tornem mais robustas e capazes de suportar danos mecânicos causados por ventos fortes, chuvas intensas e outros eventos relacionados às variações climáticas.

O silício pode tornar as plantações menos vulneráveis a doenças e infestações por pragas. A presença de sílica nas plantas dificulta a entrada e alimentação de insetos herbívoros, assim como impede a invasão por patógenos fúngicos e bacterianos.

Essa barreira física oferece uma camada adicional de proteção que pode ser crucial, especialmente diante do aumento das mudanças climáticas, que podem favorecer a propagação de certas pragas e doenças.

O elemento também tem potencial de impactar positivamente a eficiência fotossintética das plantas e otimizar o metabolismo celular. Em situações de estresse, plantas que recebem uma quantidade adequada de silício geralmente apresentam maior atividade fotossintética e produção de biomassa ampliada, características essenciais para manter a produtividade das colheitas em condições favoráveis.

A utilização do silício também pode otimizar a forma como as plantas absorvem outros nutrientes, como fósforo, nitrogênio e micronutrientes. Isso se mostra especialmente relevante em solos degradados ou em situações nas quais as mudanças climáticas afetam a disponibilidade dos nutrientes.

Absorção do silício

Levando em consideração a forma como o silício pode contribuir para tornar a lavoura mais resiliente às variações climáticas, fica muito claro que integrar o uso do elemento nas práticas agrícolas pode representar uma estratégia valiosa para potencializar a sustentabilidade e produtividade das lavouras.

Mas, fica um alerta – existem algumas diferenças significativas na aplicação de fertilizantes contendo silício em comparação com fertilizantes tradicionais, principalmente devido às propriedades químicas do silício e à forma como as plantas o absorvem e utilizam.

A forma mais comum de silício em fertilizantes é o ácido silícico ou formas solúveis de sílica, que estão prontamente disponíveis para as plantas. Esses podem ser aplicados tanto líquidos quanto sólidos, dependendo do produto. O silício também pode ser fornecido como parte de subprodutos industriais, como cinzas da casca de arroz ou escórias da siderurgia, que contêm silicatos.

O método de aplicação recomendado é incorporá-lo ao solo antes do plantio ou superficialmente, em culturas já estabelecidas. A eficácia depende da mobilidade do silício no solo, que geralmente é baixa. Assim sendo, a proximidade das raízes é importante.

A aplicação foliar, embora menos frequente, pode ser uma opção viável em situações em que a absorção pelo solo é limitada ou quando uma resposta rápida é necessária.

Detalhes cruciais

A frequência de aplicação do silício no solo pode ser um desafio, já que o elemento tem baixa mobilidade no solo. Isso pode exigir aplicações mais frequentes ou em quantidades maiores, especialmente em solos arenosos ou altamente lixiviados.

Quanto à compatibilidade com outros nutrientes, o silício geralmente se dá bem com a maioria deles. No entanto, a forma e o modo de aplicação podem afetar a eficiência de outros elementos. Por exemplo, a combinação de doses elevadas de potássio e silício ao mesmo tempo pode impactar a disponibilidade no solo desses nutrientes.

Pergunte às plantas

É importante considerar as necessidades específicas de cada cultura ao fertilizar com silício, pois a eficácia varia entre diferentes tipos de plantas. Além disso, ao usar fertilizantes que contêm silício, é fundamental avaliar os possíveis impactos ambientais. Mudanças no pH do solo e o acúmulo de formas não disponíveis de silício devem ser considerados para garantir a biodisponibilidade adequada dos demais elementos no solo.

Devido a essas diferenças, é importante consultar as recomendações específicas de manejo de nutrientes para cada cultura e condições do perfil, utilizando análises de solo e foliares para ajustar a adubação de forma a maximizar os benefícios e minimizar os custos e impactos ambientais.

Algumas culturas respondem à adubação com silício, especialmente no que diz respeito ao aumento da resistência aos impactos climáticos, como estresses abióticos (seca, salinidade, temperatura) e bióticos (doenças e pragas).

Entre elas, podemos destacar a cultura do arroz, pois absorve grandes quantidades de silício, o que ajuda a fortalecer as paredes celulares contra ataques de patógenos, melhora a resistência à seca e salinidade e aumenta a rigidez dos colmos, reduzindo o risco de tombamento.

A cana-de-açúcar, assim como o arroz, acumula silício, fortalecendo a planta contra estresses físicos e bióticos. O silício melhora a resistência ao tombamento, aumenta a eficiência no uso da água e pode reduzir o aparecimento de doenças fúngicas.

Culturas como cevada e trigo também colhem benefícios do silício, principalmente na melhoria da resistência a doenças foliares e ao tombamento, além de contribuir para uma melhor tolerância à seca e salinidade.

O milho pode se beneficiar do silício ao aumentar sua resistência a doenças como ferrugem e auxiliar na resistência ao tombamento e estresse hídrico.

Rumo às pesquisas

Embora o uso de silício não seja uma prática agrícola tradicionalmente difundida, à medida que as pesquisas avançam e os benefícios se tornam mais visíveis, é cada vez mais comum incluir fertilizantes contendo silício nas técnicas de manejo agrícola.

Por outro lado, existem várias técnicas agrícolas que podem auxiliar os agricultores a lidar com a instabilidade do clima e proteger as suas plantações. Estas práticas são introduzidas para aumentar a resistência das culturas, promover a melhoria física, química e biológica do solo e a eficiência no uso de recursos, reduzindo os impactos negativos das alterações climáticas.

A rotação de culturas e a diversificação vegetal podem contribuir para interromper os ciclos de pragas e doenças, melhorar a qualidade do solo e diminuir os riscos financeiros. Ao plantar uma variedade de culturas, também é possível mitigar o impacto de condições climáticas adversas específicas para determinadas plantas.

MIP em destaque

A adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP) consiste na utilização de diversas técnicas para controlar as pragas de forma eficaz e sustentável, reduzindo a dependência de pesticidas químicos e promovendo a biodiversidade. A técnica inclui o recurso de controle biológico, práticas culturais e resistência genética das plantas.

Práticas como o plantio direto, cobertura morta e manutenção dos resíduos da colheita no campo podem contribuir para preservar a estrutura do solo, melhorar a retenção da água e reduzir a erosão.

A utilização de sistemas de irrigação eficientes, como o gotejamento ou a aspersão, pode otimizar o uso da água, especialmente em regiões propensas à seca. Além disso, programar a irrigação com base nas necessidades reais das plantas contribui para a preservação dos recursos hídricos.

Tecnologias avançadas

Com relação à seleção de variedades resistentes e optar por tipos de plantas geneticamente adaptadas para resistir a condições adversas, como temperaturas extremas, seca ou salinidade, é uma estratégia eficaz para manter a produtividade em cenários climáticos desafiadores.

Adotar tecnologias avançadas, como sensores, drones e sistemas geográficos de informação (GIS) para monitorar e gerenciar as práticas agrícolas com precisão pode elevar a eficiência no uso dos recursos e reduzir os impactos ambientais.

Uma técnica muita difundida e que vem crescendo nos últimos anos é a implantação de sistemas agroflorestais e agrossilvipastoris, que consiste na introdução de árvores e arbustos nos sistemas agrícolas (agrofloresta). Integrar agricultura, silvicultura e pecuária (sistemas agrossilvipastoris) pode fortalecer a adaptabilidade das atividades agrícolas, ao aumentar a diversidade biológica e proporcionar benefícios tanto ambientais quanto econômicos.

Por último, a adaptação às mudanças climáticas, pela implementação de medidas específicas para se adequar às variações climáticas, como ajustar os cronogramas de plantio e colheita, melhorar o sistema de drenagem e infraestrutura contra enchentes, além de utilizar coberturas plásticas ou outras formas de proteção para as plantações, é igualmente importante.

A combinação dessas técnicas não apenas auxilia na resistência das plantações contra as mudanças climáticas, mas também promove um modelo agrícola mais duradouro e resistente a longo prazo.

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