Maiara Silva Costa
Mestranda em Agronomia – Universidade Federal do Piauí (UFPI)
maysc19@gmail.com
Antonio Santana Batista de Oliveira Filho
Professor e coordenador do curso de Agronomia – Centro Universitário de Balsas (Unibalsas)
coord.agronomia@unibalsas.edu.br
A mancha-alvo, ocasionada pelo fungo Corynespora cassiicola, está se tornando cada vez mais relevante nas plantações de soja, especialmente nas regiões de cerrado. Esta relevância se deve à sua severidade acentuada e ao potencial danoso para as plantas.
Em muitos casos, o emprego de métodos de controle químico tem demonstrado eficácia e viabilidade econômica na manutenção de altas produtividades e na garantia da qualidade dos cultivos.
O ataque
Segundo informações da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o fungo C. cassiicola é conhecido por sua polifagia, tendo a capacidade de atacar aproximadamente 530 espécies de plantas.
Esse fungo apresenta a habilidade de se deslocar entre diferentes culturas e sobreviver em restos culturais presentes na lavoura. Como resultado dessa característica, é comum observar a migração da doença, originada na soja ou em plantas de cobertura, para o algodoeiro ao término de cada safra.
Sintomas visíveis
A presença da mancha-alvo representa um desafio considerável para os produtores de soja e algodão, impactando negativamente sua produção. Os sintomas característicos dessa doença incluem o surgimento de pequenas manchas amareladas que evoluem para lesões maiores, apresentando anéis concêntricos de coloração castanha, com um centro necrótico circundado por um halo amarelo, lembrando a aparência de um alvo.
Essas lesões podem atingir até 2,0 cm de diâmetro. Pesquisas recentes indicam uma redução significativa de até 42% na produtividade de cultivares suscetíveis devido à infecção pela mancha-alvo.
Em cultivares suscetíveis, é comum observar desfolha prematura, lesões em hastes e apodrecimento de estruturas reprodutivas, além de o fungo poder também afetar as sementes.
A disseminação ocorre principalmente através do vento e gotas de chuva, logo, condições adequadas, como períodos prolongados de chuva e umidade elevada, com uma umidade relativa do ar acima de 80%, favorecem a infecção.
É importante ressaltar que o fungo possui uma fase parasitária nas plantas hospedeiras e outra saprofítica nos restos culturais, o que pode contribuir para a persistência da doença no ambiente agrícola.
Nessas condições, as primeiras lesões podem surgir nas folhas das plantas, principalmente em lavouras com alta densidade populacional e espaçamento reduzido, que proporcionam um ambiente propício para a disseminação da doença.
Parceria é o caminho
A Aprosoja Brasil e a Abrapa como entidades representativas dos produtores de soja no país, por sua vez, desempenham um papel fundamental na gestão e prevenção de doenças que afetam as lavouras, como a mancha-alvo.
Essas associações, como representantes dos produtores dessas culturas, têm o compromisso central de promover práticas agrícolas sustentáveis e eficazes para enfrentar desafios fitossanitários.
A colaboração entre produtores, instituições de pesquisa e autoridades governamentais é fundamental para garantir a sustentabilidade e produtividade contínuas das culturas de soja e algodão no Brasil.
O que fazer no campo?
A adubação adequada desempenha um papel crucial na prevenção da mancha-alvo, contribuindo para fortalecer a resistência das plantas a essa doença. Estudos recentes destacaram o papel do silicato de potássio na eficiência do controle da mancha-alvo.
Observou-se que, quando aplicado isoladamente, o silicato de potássio reduziu significativamente a severidade da doença. Além disso, a associação desse composto a alguns fungicidas revelou efeitos antagônicos, diminuindo sua eficiência.
No entanto, também foram observados efeitos sinérgicos decorrentes dessa associação, o que contribuiu para o controle eficaz da mancha-alvo.
Papel do fosfito
Outro nutriente essencial na prevenção da mancha-alvo é o fosfito, que desempenha um papel fundamental na autodefesa das plantas contra fungos patogênicos. Os fosfitos agem diretamente nos fungos, funcionando como fungicidas biológicos e promovendo a produção de fitoalexinas pelas plantas, o que as torna mais resilientes aos ataques desses patógenos.
Além disso, o uso de fosfitos na agricultura apresenta diversas vantagens, como baixo custo, prevenção e controle de doenças fúngicas, melhoria na nutrição das plantas e fornecimento suplementar de nutrientes, especialmente fósforo, devido à sua rápida absorção pelas plantas em comparação com outros produtos à base de fosfato.
A composição dos fosfitos, obtida pela neutralização do ácido fosforoso com hidróxido de sódio, potássio ou amônia, permite uma alta absorção pelas plantas, facilitando sua translocação através do xilema e floema.
Essas descobertas destacam a importância de uma adubação equilibrada que forneça os nutrientes essenciais em quantidades adequadas, a qual pode promover o desenvolvimento de plantas mais saudáveis e robustas, capazes de resistir melhor aos ataques de patógenos como o fungo C. cassiicola, podendo ser uma estratégia eficaz na prevenção e controle da mancha-alvo, contribuindo para a saúde e produtividade das lavouras de soja e algodão.
Redobre a atenção
A mancha-alvo é uma das principais preocupações para os produtores de soja e algodão, sendo crucial entender as variedades resistentes disponíveis e as estratégias de manejo para controlar sua propagação e minimizar perdas de produtividade.
Existem, atualmente, no mercado, variedades de soja e algodão com diferentes níveis de resistência à mancha-alvo. Cultivares resistentes apresentam sintomas localizados principalmente nas folhas inferiores, enquanto as suscetíveis podem sofrer desfolha severa, afetando toda a planta.
No entanto, a disponibilidade limitada de cultivares resistentes torna o manejo da cultura, por meio de fungicidas, uma alternativa amplamente adotada.
Integração de medidas
Para gerenciar eficazmente a mancha-alvo na soja e no algodão, é crucial adotar práticas culturais e ferramentas adequadas, como manejo eficiente de fungicidas, controle de plantas daninhas, uso de sementes certificadas, seleção de cultivares tolerantes, tratamento de sementes, aplicação de fungicidas registrados e diferentes grupos químicos, bem como monitoramento constante da doença.
A rotação de culturas também é importante para reduzir a disseminação da doença. Essas medidas ajudam a proteger a produção contra os impactos da mancha-alvo.
Portanto, é fundamental que os agricultores estejam atentos aos sinais precoces da mancha-alvo e implementem medidas preventivas e de manejo adequadas. Em suma, o manejo eficaz da mancha-alvo requer uma abordagem integrada, combinando o uso de cultivares resistentes, estratégias de rotação de culturas e o uso de fungicidas.