Lucas Alves de Oliveira
Engenheiro agrônomo – Unesp
lucasa.oliveira@outlook.com.br
A agricultura desempenha um papel fundamental na economia do Brasil, sendo um dos pilares do desenvolvimento nacional. É responsável pela produção de alimentos para a população, geração de empregos em áreas rurais, com contribuição significativa para as exportações do país e para o PIB nacional.
Além disso, o agro brasileiro é diversificado, com cultivos que vão desde grãos até frutas tropicais, posicionando-nos como um dos principais contribuintes globais no setor agrícola. Porém, alguns fatores podem contribuir de forma negativa, sendo um destes os insetos-praga.
Prejuízos
As perdas causadas por insetos-praga à agricultura brasileira são significativas, afetando a produção e a qualidade dos cultivos. Esses insetos podem causar danos diretos às plantas, reduzindo o rendimento das colheitas e aumentando os custos de produção devido à necessidade de controle.
Além disso, podem transmitir doenças às plantas, comprometendo ainda mais a produtividade agrícola. O controle dessas pragas é um desafio constante para os agricultores, exigindo o uso responsável de inseticidas e práticas de manejo integrado para minimizar os impactos econômicos e ambientais.
DESTAQUE
O caso da vaquinha verde-amarela
Por favorecimento geográfico e climático, a entomofauna brasileira é rica e gigante em diversidade de espécies, algumas muitas maléficas à produção agrícola.
A vaquinha verde-amarela ou Diabrotica speciosa surge como um fator de perda significativo nas lavouras de feijão, soja e milho, por apresentar diversas características, tais como:
Alerta
Além das características citadas, as larvas da vaquinha ocasionam danos severos às plantas, uma vez que podem se alimentar das raízes das plantas hospedeiras, causando danos diretos ao sistema radicular.
Alimentar das folhas das plantas jovens, causando perfurações e danos no tecido foliar, resulta em desfolha parcial ou total das plantas, reduzindo a área fotossintética disponível. Este comportamento resulta em perdas de potencial vegetativo e reprodutivo da planta, além de permitir que patógenos agravem ainda mais a saúde fisiológica da lavoura, resultando em redução significativa na produtividade.
Estudos
Como medida paliativa à Diabrotica speciosa, muitos estudos relacionados a fungos entomopatogênicos têm gerado interesse às empresas do ramo de defensivos, produtos biológicos e produtores, por apresentarem controle significativo.
Um destes exemplares é o fungo Beauveria bassiana, que apresenta características que viabilizam e potencializam o controle e competem com defensivos químicos tradicionais.
Tais características são:
– Quem é ele: um fungo entomopatogênico, ou seja, capaz de infectar e causar doenças em insetos. Ocorre naturalmente no solo e pode ser isolado e cultivado para uso em programas de controle biológico.
– Modo de ação: o fungo infecta o inseto pela penetração de suas estruturas, como conídios (esporos). Uma vez em contato com o inseto, os conídios aderem à superfície do corpo do inseto, germinam e penetram através da cutícula, alcançando o interior do inseto.
– Patogenicidade: dentro do corpo do inseto, o fungo se multiplica e libera toxinas que causam a morte da vaquinha. Este processo pode ocorrer dentro de alguns dias a algumas semanas, dependendo das condições ambientais favoráveis para o crescimento do fungo.
– Persistência no ambiente: o fungo pode persistir no ambiente por um período razoável, desde que as condições sejam adequadas para sua sobrevivência e atividade patogênica. Ele pode ser aplicado no solo ou diretamente sobre as plantas, visando o controle da praga em diferentes estágios do seu ciclo de vida.
– Segurança e sustentabilidade: o controle biológico com Beauveria bassiana é considerado uma alternativa sustentável aos defensivos químicos, pois não deixa resíduos tóxicos no ambiente e não impacta negativamente os organismos não-alvo, como outros insetos benéficos.
– Uso prático: o fungo é aplicado em formulações comerciais que são utilizadas pelos agricultores como parte de programas de manejo integrado de pragas. A eficácia do controle pode variar com base nas condições ambientais, densidade populacional da praga e método de aplicação.
Eficácia
Para otimizar a eficiência do controle, o agricultor deve se atentar às condições climáticas de sua região e área de cultivo. A temperatura e umidade podem afetar a eficiência e persistência do fungo no ambiente, uma vez que não é recomendada a aplicação em dias com temperaturas acima de 30ºC, abaixo de 20ºC e umidade inferior a 70%.
Portanto, o uso em áreas irrigadas, estufas e casas de vegetação beneficia a eficiência do produto. Para áreas não irrigadas/protegidas, o agricultor deve dar preferência de uso em estações chuvosas.
O manejo adequado de solo, com o uso de plantas de cobertura, também pode proporcionar aumento da viabilidade do fungo no ambiente, uma vez que fornece proteção, umidade e temperatura.
O uso de defensivos químicos no momento errado, como fungicidas, pode gerar alterações no desempenho do Beauveria bassiana, portanto, o agricultor deve sempre estar ciente de quais produtos possuem certificação em bula, o grau de compatibilidade e tempo de carência no ambiente, para uso mais adequado.
Recomendações
Os agricultores podem implementar práticas de controle biológico com Beauveria bassiana de maneira eficaz seguindo algumas diretrizes, como por exemplo:
– Escolha da formulação: utilize produtos comerciais com Beauveria bassiana registrados e testados para o controle da vaquinha verde-amarela. Verifique a concentração de esporos e a validade do produto.
– Condições ambientais: aplique o fungo em condições climáticas favoráveis, preferencialmente em dias nublados ou durante a manhã, quando a umidade está mais alta, pois isso pode aumentar a eficácia da aplicação.
– Método de aplicação: utilize equipamentos adequados para garantir uma cobertura uniforme das plantas. A aplicação pode ser feita por pulverização foliar, especialmente nas partes da planta onde as vaquinhas estão mais ativas.
– Monitoramento da praga: monitore regularmente as lavouras para identificar a presença de vaquinhas e determinar o momento ideal para a aplicação. O controle é mais eficaz quando realizado no início da infestação.
– Integração com outras práticas: combine o uso de Beauveria bassiana com outras práticas de manejo integrado de pragas (MIP), como rotação de culturas, uso de variedades resistentes e controle cultural.
– Educação e treinamento: participe de cursos ou treinamentos sobre controle biológico para entender melhor o uso do Beauveria bassiana e as melhores práticas de aplicação.
– Documentação e avaliação: registre as aplicações e avalie a eficácia do controle biológico ao longo do tempo, ajustando as práticas conforme necessário.
É importante lembrar que cada região e área possuem sua particularidade, portanto, é imprescindível que o agricultor faça uma análise clínica de sua atual condição e selecione a melhor forma ou busque o auxílio de um especialista para atender às necessidades.