João Eduardo Pereira Cardoso
Engenheiro agrônomo – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
joaoeduardo1011ha@gmail.com
Sinara de N. Santana Brito
Engenheira agrônoma e mestra em Agronomia/Horticultura – Universidade Estadual Paulista (UNESP)
sinara.santana@unesp.br
Harleson Sidney Almeida Monteiro
Engenheiro agrônomo, mestre em Agronomia/Horticultura e especialista em Fitotecnia, Fertilidade, Manejo de Solos e Nutrição de Plantas
harleson.sa.monteiro@unesp.br
A abobrinha (Cucurbita pepo) se destaca entre as principais espécies olerícolas mais comercializadas e consumidas, apresentando grande valor econômico no Brasil, principalmente para os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná, que são responsáveis pela maior parte produzida no país.
Seu ciclo de produção dura de 40 a 80 dias. Sua produção corresponde a cerca de 627 mil toneladas por ano. Nesse sentido, trata-se de uma espécie olerícola que possui algumas características climatológicas, de manejo nutricional, e modos de cultivo que podem interferir na sua produtividade, dependendo de como é estabelecida.
Condições para o plantio
Sendo originária de clima tropical, a cultura da abobrinha apresenta bom desenvolvimento entre temperaturas de 18 e 30° C. Durante o outono e o inverno, quando as temperaturas são mais baixas, o uso de cultivos protegidos pode reduzir perdas e aumentar a produção, sendo épocas em que o preço por quilo pode triplicar. Dessa forma, a abobrinha pode ser cultivada em campo aberto durante o verão e a primavera.
No entanto, temperaturas muito elevadas podem prejudicar a polinização e o processo de fecundação, resultando na paralisação do desenvolvimento dos frutos e, posteriormente, na sua queda, o que reduz a produtividade.
Manejo nutricional
É possível observar que as regiões sul e centro-oeste do país ainda apresentam os maiores níveis de produtividade da cultura da abobrinha, apesar da influência periódica de climas mais frios. Dessa maneira, é importante considerar, além dos fatores climatológicos, o manejo nutricional durante seu cultivo.
Com relação ao manejo nutricional requerido pela abobrinha, alguns estudos indicam quatro nutrientes como os mais exigidos para o bom desenvolvimento vegetativo da cultura, sendo: nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K) e cálcio (Ca).
Além desses, é importante ressaltar que toda cultura precisa de doses adequadas dos nutrientes quando em maior quantidade (macronutrientes) e menor (micronutriente) para um bom estabelecimento produtivo.
Dessa maneira, é possível apontar a influência do N proporcionando aumento na área foliar desta espécie, o que interfere no efeito produtivo de fotoassimilados, que irá resultar na produção de frutos, que nesse caso é a parte comercializada in natura pelos produtores.
No caso do P, esse nutriente tem função importante na estrutura química de compostos vitais na planta, como ácidos nucleicos, coenzimas e fosfolipídios, que serão responsáveis pelo processo de liberação de energia necessária para o desenvolvimento vegetal, como de raízes, celular e produção de açúcares.
Outro elemento requerido pela abobrinha é o K, que participa de processos como o controle da turgidez celular, ativação de enzimas usadas na atividade respiratória e na fotossíntese, além do transporte de carboidratos na planta.
Com relação ao Ca na abobrinha, sua presença está ligada à elongação e multiplicação de células, que irá interferir no crescimento radicular e também proporcionar maior resistência à planta, reduzindo desordens fisiológicas. Após identificar os nutrientes mais importantes, é vital entender como as necessidades da planta mudam ao longo do seu ciclo de crescimento.
As fases fenológicas são importantes para estudo de como a planta se desenvolve em cada etapa do ciclo vegetativo, e no caso da abobrinha, algumas pesquisas compreendem seu ciclo com as fases ordenadamente em: crescimento vegetativo, florescimento e início da frutificação, plena frutificação e colheita.
Observa-se que sua produção é bastante pulverizada, principalmente por influência das condições edafoclimáticas de cada região do país (Figura 1).
Figura 1. Calendário de produção por região do Brasil.
Região | Plantio a colheita | Colheita (dias após o plantio) |
Norte | Abril-Agosto | 40 a 80 |
Nordeste | Março-Outubro | |
Sul | Setembro-Maio | |
Sudeste | Agosto-Maio | |
Centro-oeste | Ano todo |
Fonte: Adaptado de Embrapa, por Harleson Monteiro.
Fase a fase
Crescimento vegetativo
Em vista disso, algumas fases fenológicas da abobrinha requerem atenção no manejo nutricional de determinados nutrientes devido a função estabelecida por eles. Dessa forma, é possível citar a essencialidade do nitrogênio durante a fase de crescimento vegetativo, por ser um elemento que irá influenciar no desenvolvimento das folhas e também do caule.
Existem pesquisas que demonstram o acúmulo do N, durante todo o ciclo, tornando esse elemento vital para o bom desenvolvimento da cultura devido seu papel, em que sua falta pode causar rápida senescência.
Floração e frutificação
Seguidamente, nas fases de floração e frutificação, o fósforo e o potássio passam a ter destaque, pois auxiliam na formação de flores e frutos, sendo estes acumulados nas respectivas fases do ciclo.
Somado a isso, o cálcio e boro (B) tornam-se importantes para a qualidade dos frutos, sendo o Ca possibilitador de mais firmeza aos frutos, o que é benéfico na fase de florescimento e frutificação, sendo o terceiro nutriente exigente na cultura durante o processo de crescimento vegetativo.
Além desses, também pode ser citado macronutrientes como Mg com função no metabolismo vegetal, como produção de proteínas, enzimas e clorofilas, sendo essencial para a realização da fotossíntese, com sua maior taxa de absorção na fase de florescimento, onde há o processo de maior translocação de fotoassimilados para estágio de frutificação da cultura.
Manejo assertivo
Compreendendo essas variações, podemos então explorar a forma ideal de aplicação desses nutrientes para garantir a melhor absorção pela planta, levando em conta suas particularidades.
Nesse contexto, o nitrogênio, devido às suas contribuições para o desenvolvimento vegetativo, se torna um elemento importante para ser absorvido, por isso, deve estar sempre disponível. Em vista do rápido crescimento da abobrinha em relação a folhas e frutos, sua falta pode ocasionar consequências negativas.
Técnicas efetivas
Pesquisas apontam a fertirrigação por gotejamento, quando em solos argilosos, para aplicação com resultados positivos à produtividade quando em comparação com fertilizantes na forma sólida.
Este fato pode ter relação com a mobilidade do elemento, que é alta no solo e por isso pode ter interferência da lixiviação, quando a aplicação ocorre sem prévio direcionamento. Além disso, é significativo considerar a quantidade de matéria orgânica no solo, e em caso de rotação de culturas no local de plantio, qual a cultura anterior, que podem ser fatores auxiliares para a disponibilização do nitrogênio no solo.
Fósforo na adubação de plantio
O fósforo deve ser um nutriente com boa distribuição ao longo do ciclo produtivo, devido ao papel que desempenha. Dessa maneira, a aplicação do P pode ser toda realizada durante a adubação de plantio, dando preferência para adubos mais solúveis.
Em caso de solos argilosos, a preferência de aplicação é do tipo granulada na linha de plantio e no processo de amontoa, enquanto na de cobertura é recomendado o gotejamento para maior precisão de aplicação em ambientes que detêm menor fixação de fósforo.
Potássio parcelado
Com relação ao potássio, sua recomendação é de aplicação parcelada para que esteja disponível ao longo do ciclo e possa estabelecer corretamente suas funções, sendo válido lembrar que a abobrinha possui um sistema radicular que não é tão desenvolvido, o que pode acarretar deficiência desse elemento, além de esse elemento poder sofrer com a lixiviação devido à sua reduzida falta de capacidade de fixação no solo.
Cálcio via foliar
Em relação à aplicação de cálcio, é válido destacar que se trata de um elemento com pouca mobilidade dentro da abobrinha, e por esse motivo, os estudos apontam que a aplicação via foliar tem mostrado resultados significativos, quando realizada na pré-florada e durante a floração, resultando em frutos mais firmes.
Contudo, a fertirrigação também se apresenta como uma aplicação válida e mais utilizada para esse nutriente, em especial em áreas mais quentes e com baixa umidade, que em conjunto a manutenção de alta umidade durante períodos noturnos, podem contornar problemáticas e amenizar a deficiência do nutriente no fruto.
Vale ressaltar, que todas as aplicações devem ser realizadas com concordância a análise de solo feita no local de plantio. Mesmo tendo em vista os principais elementos que devem fazer parte do manejo nutricional da abobrinha, é importante identificar a real necessidade do solo para cada elemento, e assim garantir uma aplicação eficiente, de acordo com a dosagem.