Thiago Alberto Ortiz
thiago.ortiz@prof.unipar.br
Franciely S. Ponce
francielyponce@gmail.com
Silvia Graciele Hulse de Souza
silviahulse@prof.unipar.br
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia e professores – Universidade Paranaense (UNIPAR)
A cafeicultura brasileira ocupa a liderança no ranking produtivo mundial, sendo de extrema relevância para a economia do país. Contudo, a atividade tem sido responsável pela degradação de solos, dada a realização de queimadas, o uso irracional de agrotóxicos e o manejo inadequado da cobertura do solo.
Desta forma, o cultivo do café tem contribuído na geração de muitas áreas degradadas, devido à ausência do uso de práticas conservacionistas, tornando preocupante o futuro produtivo.
Sistema agroflorestal
Com a produção voltada para a monocultura sem considerar as especificidades locais, as condições do relevo e as possibilidades de empobrecimento e esgotamento dos solos, o cultivo a pleno sol tem acarretado em perda de produtividade, em razão de práticas como queimadas e ausência de cobertura do solo.
Estudos têm demonstrado que o cultivo convencional garante a produção por alguns anos, entretanto, sofre, posteriormente, queda de produção. Já em sistema agroflorestal, a produção pode ser estável por mais de 100 anos.
Os sistemas agroflorestais são classificados como opções agroecológicas do uso da terra e contemplam os principais componentes da sustentabilidade, ou seja, o econômico, o social e o ambiental.
Equilíbrio nutricional
A prática de cultivo objetiva o equilíbrio nutricional do solo e as condições ideais de temperatura, vindo recuperar, manter e até mesmo aumentar o nível de produtividade por meio do sistema agroflorestal, que consiste no cultivo integrado de espécies agrícolas e silviculturais na mesma área.
O cultivo do café à sombra tem se mostrado vantajoso, tanto do ponto de vista legal, por não exigir desmatamento para o plantio, como pela sua adaptação ao sistema de consórcio.
Com o café sombreado, tem tido ganho em qualidade e quantidade, pois o cultivo com essa técnica contribui para a revitalização dos cafeeiros e a manutenção da biodiversidade, culminando em ganho para o meio ambiente e para o produtor rural.
O sistema agroflorestal tem como base interações em que as condições climáticas, ambientais e fisiológicas são determinantes para o crescimento e o desenvolvimento da cultura.
Tem-se constatado que o cafeeiro sob a copa de árvores resiste melhor às intempéries, protegendo as plantas do excesso de radiação solar e da chuva. Por sua vez, a queda das folhas das árvores favorece a ciclagem de nutrientes.
Café sombreado
Evidencia-se o fato do café sombreado, em sistema agroflorestal, ser cultivado livre de agrotóxicos e adubos químicos, unindo qualidade e sustentabilidade. Vale ressaltar que a boa qualidade do solo se constitui um elo entre as práticas agrícolas e a agricultura sustentável.
Estudos têm observado que, no cafeeiro, o sombreamento também pode melhorar a qualidade da bebida, agregando valor ao produto.
As lavouras arborizadas ou em consórcios agroflorestais possibilitam ao cafeicultor um maior retorno econômico, especialmente para pequeno produtor. A produção diversificada, em consórcio, proporciona uma melhor remuneração para o agricultor e favorece segurança alimentar aos produtores e consumidores.
As vantagens dessa técnica de uso da terra são substanciais. Tanto no manejo agroflorestal quanto orgânico, tendências ecológicas na agricultura constituem tecnologias relevantes para a recuperação dos solos.
Dependendo das condições da região, o cafeeiro, um arbusto de crescimento contínuo, pode atingir de 2 a 4 m de altura. Na arborização ou sombreamento, que tem a função de atenuar os extremos climáticos, as copas das árvores devem ser bem altas e não podem se sobrepor, para que haja a circulação do ar e permita que os raios solares entrem na medida certa na lavoura.
Uma boa opção
As leguminosas também são consideradas boa opção para o cultivo do café, tanto em consórcio como antes do plantio, com a finalidade de utilizá-las como adubação verde.
Isso se deve em razão de serem rústicas, terem elevada produção de matéria seca e, dado o seu sistema radicular geralmente profundo e ramificado, são capazes de extrair nutrientes das camadas mais profundas do solo e, quando decomposta, retorna esses nutrientes ao solo, sendo fontes de matéria orgânica de alta qualidade; além do efeito alelopático e supressivo sobre as plantas daninhas.
Dentre as leguminosas promissoras para a prática da adubação verde em consórcio com o cafeeiro, ou mesmo antes do plantio do café, destacam-se: crotalária-juncea, feijão-de-porco, feijão-guandu e mucuna-preta, as quais apresentam desenvolvimento vegetativo eficiente, com boa adaptação em condições adversas, tais como baixa fertilidade e temperaturas elevadas; proporcionando acréscimos produtivos a médio e longo prazos.
Quebra-ventos
O quebra-vento é uma barreira vegetal usada para proteger as plantas contra a ação de ventos fortes, melhorando as condições ambientais para o desenvolvimento da cultura.
Recomenda-se utilizar espécies eretas, perenifólias, com rápido crescimento, pouco agressivas na competição radicular e de copa não muito densa. Além disso, a espécie vegetal utilizada como quebra-vento deve possuir altura de duas a três vezes superior ao café, e ser implantada com uma densidade que permita de 30 a 40% de penetrabilidade do vento.
Para a cultura cafeeira, indica-se a utilização de plantas como o eucalipto e o ingá (na divisa) e a crotalária (nas entrelinhas) para cafés novos, devendo ser feita com renques plantados a cada três a quatro linhas do cafezal, desde o plantio até o segundo ano da lavoura. Para lavouras adultas, pode-se utilizar árvores, tais como eucalipto e frutíferas (ingá, abacate, ponkan e banana).
O foco de medidas devem ser as áreas problemáticas, que sofrem com ventos frios continuados, evitando prejuízos diretos e indiretos sobre a plantação do cafezal, principalmente nas plantas mais novas – são as mais prejudicadas pela ação dos ventos.
Essas barreiras são muitos importantes para evitar danos físicos às áreas foliares, dessecação dos solos e disseminação de pragas e doenças, como cercosporiose, phoma, ferrugem e ácaros no cafeeiro.
Controle de plantas daninhas
O método de controle biológico consiste basicamente na utilização de um agente que mantenha a população de plantas daninhas em um nível mais baixo do que ocorreria naturalmente, não causando danos econômicos à cultura.
Dentre os métodos de controle biológico, tem-se a alelopatia entre plantas, que consiste na inibição química exercida por uma planta, quer seja viva ou morta, sobre a germinação ou o desenvolvimento de outra.
O agente causal é um grupo de substâncias químicas denominadas de aleloquímicos, que são secretadas pela parte aérea ou subterrânea das plantas em desenvolvimento ou liberadas pelo seu resíduo durante sua decomposição.
A utilização da alelopatia entre plantas no controle das plantas daninhas do cafezal é caracterizada basicamente pela deposição de coberturas mortas ou de resíduos vegetais e pelo plantio de coberturas verdes ou plantas leguminosas nas entrelinhas da lavoura.
A cobertura morta proporciona a conservação do solo e água da lavoura, protege o solo de temperaturas e chuvas elevadas, o enriquece com matéria orgânica e alguns nutrientes e incrementa a produção do cafezal.
Possibilita, também, a inibição das plantas daninhas por competição, por meio de sombreamento e por alelopatia por meio de seus aleloquímicos, os quais se mantêm nos tecidos mesmo com estas plantas se encontrando mortas, cuja liberação ocorre pela ação da chuva e do orvalho que os lixiviam para o solo.