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Abelhas: sem elas, o agro não seria o mesmo

A apicultura e a fruticultura, a depender do cultivo, possuem uma relação complementar. Enquanto as abelhas obtêm alimentos (pólen e néctar) nas plantações, muitas frutíferas se beneficiam da polinização realizada por elas, resultando no aumento da produção e da qualidade de frutos e sementes.

Segundo o Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil, a abelha africanizada (Apis mellifera) – espécie manejada na apicultura – é uma das que predomina nos registros como visitantes florais e polinizadores de cultivos alimentares (ou seja, vai além da fruticultura), tendo sido registrada como polinizadora de ao menos 50 cultivos.

Espécies recomendadas para polinização de frutas. No Brasil, aponta Kátia Aleixo, bióloga da Associação A.B.E.L.H.A., 250 espécies de animais atuam como polinizadores de cultivos (ou seja, vai além da fruticultura) e a maior parte (87%) são abelhas. “Entre as abelhas, um estudo selecionou 14 espécies importantes, sendo seis sociais e oito solitárias, e a associação as reuniu em um pôster para facilitar a disseminação desse conhecimento”, conta.

Além das 14 espécies de abelhas polinizadoras, o pôster também mostra os principais cultivos que polinizam: https://abelha.org.br/poster-abelhas-e-producao-de-alimentos-no-brasil/. Na fruticultura, as abelhas polinizam no mínimo 10 cultivos presentes em nosso cotidiano, de acordo com a série de artigos também preparada pela associação A.B.E.L.H.A. para a campanha Hortifrutis da Estação.

Kátia diz que há um compilado de informações científicas sobre polinização e polinizadores para o melão, a melancia, a goiaba, o maracujá, o abacate e a laranja, entre outros. Há, também, os pôsteres ilustrados, que apresentam alguns frutos que se beneficiam, em diferentes níveis, da polinização realizada por abelhas e algumas das espécies que fazem bem esse serviço.

Kátia Aleixo, bióloga
da A.B.E.L.H.A.

Para quem deseja se aprofundar ainda mais sobre o assunto, há um curso online produzido pela Embrapa em parceria com a A.B.E.L.H.A. e o Senar, sobre capacitação em polinização agrícola. O curso aborda aspectos gerais da polinização, mas também aulas sobre diferentes cultivos que são beneficiados pela polinização realizada pelas abelhas. A maioria dos cultivos são frutíferas.

Por fim, Kátia ressalta que o aumento da produção e a melhora da qualidade de frutos e sementes depende de um conjunto diverso e complementar de polinizadores. “A diversidade de polinizadores na lavoura geralmente é mais importante do que a abundância de uma única espécie.”

Como maximizar os benefícios dessa integração

Para cada cultivo, cuja abelha africanizada (Apis mellifera) é um importante polinizador, existe um protocolo que considera as suas especificidades para maximizar a produtividade.

Para obter sucesso na introdução de colmeias para a polinização agrícola, é preciso planejamento com base nas características das variedades cultivadas e das abelhas, como o seu comportamento de coleta de recursos florais.

Por exemplo, para o meloeiro, que é um cultivo que usa fortemente o serviço de polinização assistida, há um documento publicado pela Embrapa que aborda as melhores práticas de manejo, tanto das plantações quanto das colmeias da abelha africanizada, para uma polinização adequada.

É importante considerar, também, que vários cultivos necessitam da polinização por outras espécies de abelhas com características específicas não presentes na abelha africanizada, como a acerola, o maracujá e a castanheira-do-brasil.

Nesse sentido, é essencial que os fruticultores realizem manejos que promovam a atração e a permanência dos polinizadores silvestres em suas propriedades para se beneficiarem do serviço de polinização natural, que é prestado gratuitamente.

Tais práticas incluem a conservação e a restauração das áreas de preservação permanente e das reservas legais, bem como o plantio de outras espécies vegetais, como a adubação verde e espécies nativas na propriedade, para a disponibilização de alimento ao longo do ano para as abelhas.

Kátia conta que a manutenção da vegetação nativa também contribui para a oferta de locais para as abelhas construírem seus ninhos.

Manejo fitossanitário com as abelhas

As abelhas, diretamente, não atuam no controle de pragas e doenças nas culturas. Contudo, aponta a bióloga, quando o agricultor implementa ações de melhoria na qualidade dos habitats para os polinizadores, também ocorre a melhoria de outros serviços ecossistêmicos, como a regulação natural de populações de pragas, a proteção dos mananciais de água e a fertilidade do solo, reduzindo o uso de defensivos agrícolas e fertilizantes.

“O principal ganho em incorporar as abelhas na agricultura é garantir o aumento da produtividade agrícola e o fornecimento seguro e diversificado de frutos sem depender da expansão de áreas de plantio”, pontua. Outros benefícios incluem: gestão mais racional no uso de defensivos agrícolas e controle de pragas; mitigação de acidentes de mortandade de abelhas e do impacto social na atividade apícola; estímulo à geração de renda de apicultores e de agricultores familiares que têm na apicultura uma de suas atividades econômicas.

Kátia Aleixo observa que, em alguns casos, a integração da apicultura nos sistemas agrícolas pode ser uma prática essencial, por exemplo, em áreas extensas de cultivos, distantes das áreas de vegetação nativa ou em áreas cultivadas com paisagem nativa muito deteriorada. “Nessas situações, a polinização oferecida pela natureza não basta para obter boa produção agrícola”.

Nesse cenário, a introdução de colmeias da abelha africanizada (Apis mellifera) nas plantações durante a sua floração, a depender do cultivo, é uma solução para mitigar o déficit de polinização, ou seja, a diferença entre o que é produzido e o potencial máximo de produção. Entretanto, ela lembra, novamente, que várias frutíferas necessitam da polinização realizada por outras espécies de abelhas, muitas delas silvestres e que não são manejadas, como a abelha africanizada.

Por isso, é importante que os agricultores compreendam a importância do manejo da paisagem natural para a conservação desses insetos e a oferta do serviço de polinização.

Impacto dos agroquímicos nas abelhas

Para evitar impacto negativo em insetos não-alvo da ação dos produtos químicos, existem normas e recomendações de aplicação que reduzem significativamente os riscos para as abelhas. “É essencial seguir todas as recomendações presentes nos rótulos e nas bulas dos defensivos agrícolas”, enfatiza Kátia.

Reduzir ou evitar a exposição das abelhas aos defensivos agrícolas, sobretudo os químicos, é uma forma de diminuir os riscos dos efeitos negativos desses produtos aos polinizadores.

Os cuidados incluem: A pulverização de defensivos agrícolas deve ser evitada na pré-florada e durante a florada, com o objetivo de minimizar os riscos de contaminação de abelhas e outros polinizadores que buscam alimento nas plantações. Quando o tratamento fitossanitário for indispensável para evitar danos econômicos na lavoura, práticas devem ser adotadas para reduzir o uso, como seguir estritamente as recomendações do Manejo Integrado de Pragas (MIP).

O monitoramento da população de insetos-praga na lavoura tem o objetivo de identificar o nível de dano econômico (NDE) e o momento certo para realizar a aplicação de defensivos agrícolas químicos ou biológicos. Quando for necessária a aplicação de defensivos químicos durante a pré-florada e a florada, a pulverização deve ser realizada com produtos de baixa toxicidade para as abelhas, ao entardecer ou à noite, quando elas não estão em atividade no campo.

As boas práticas de tecnologia de aplicação dos defensivos agrícolas, tanto por via aérea quanto terrestre, devem ser rigorosamente observadas, principalmente para evitar a deriva (porção do defensivo aplicado que não atinge o alvo desejado). Isto inclui o tipo de produto, sua formulação, a dose a ser aplicada, o horário de aplicação, a seleção e a calibração de pontas de pulverização, a altura de barra ou de voo, a velocidade, a temperatura, a umidade e a velocidade do vento.

Evitar a aplicação de defensivos químicos em uma distância menor que 300 m das bordas de lavouras adjacentes a áreas de vegetação natural e outras culturas em floração. Nessa área de bordadura, é importante dar preferência a técnicas agronômicas de MIP e ao controle biológico para minimizar os riscos de exposição dos visitantes florais dos cultivos.

Se possível, reduza o uso de defensivos químicos, mesmo em outros períodos do ciclo da lavoura, além da floração, optando também por técnicas agronômicas preconizadas de MIP (como controle biológico ou variedades resistentes a pragas), pois algumas abelhas visitam as plantas ruderais e espontâneas nas lavouras, as quais podem florescer em épocas distintas da floração do cultivo.

Biodiversidade local

“A polinização assistida pode causar impactos ambientais negativos quando praticada de forma inadequada, assim, precisa ser realizada tomando cuidados de trânsito controlado e regular de colmeias”, esclarece Kátia Aleixo. Para ilustrar, ela diz que devem ser deslocadas apenas colônias saudáveis para que não ocorra a disseminação de doenças e parasitas para abelhas e outros insetos que vivem no hábitat que está recebendo os apiários.

Por outro lado, a prática de polinização assistida tem ajudado na conscientização dos agricultores quanto à adoção de práticas agrícolas amigáveis às abelhas e ao uso racional de defensivos agrícolas, uma vez que a presença dos polinizadores é vital para melhorar a produção e a qualidade de frutos em suas lavouras.

Vamos falar de investimento? O primeiro passo, assinalado pela bióloga, é conhecer se a frutífera de interesse depende, em algum grau, da polinização animal para a produção de frutos, pois existem cultivos que produzem frutos e outras partes vegetais comestíveis sem a necessidade de polinização, como o abacaxi e a banana.

Após verificar que o cultivo necessita de polinização animal, o segundo passo é saber se a frutífera possui a abelha africanizada (Apis mellifera) como o principal polinizador, ou um dos mais frequentes, para investir na introdução de colmeias dessa espécie, no caso da integração com a apicultura. Feito isso, diz Kátia, é preciso entender que a dependência de polinização realizada por abelhas varia entre os cultivos agrícolas e, inclusive, de uma variedade para outra. “Há cultivos que são essencialmente ou altamente dependentes da visita de abelhas para frutificarem, como o melão e a maçã”, destaca.

Para essas frutíferas, ela explica que, se não houver polinizadores em quantidade suficiente no ambiente, não haverá produção, ou ela será muito baixa. Nesse caso, é mandatório a introdução de colmeias de abelha africanizada no plantio, do contrário, o produtor terá que realizar a polinização manual para que haja produção, e isso pode ser ainda mais custoso.

Outras frutíferas são beneficiadas pela polinização realizada pelas abelhas, ou seja, até produzem frutos por polinização realizada pelo vento ou por autopolinização, no entanto, esse processo não é capaz de assegurar o máximo potencial produtivo das plantas. “Para essas frutíferas, a contribuição pode ser moderada (aumento de 10% a <40% da produção na presença de polinizadores), a exemplo da laranja e goiaba, e baixa (aumento de até 10% da produção na presença de polinizadores), como no caso do caqui”, ensina Kátia.

Retorno

Dito isso, para calcular o retorno, há dois caminhos: (1) buscar na literatura científica a taxa de dependência de polinização animal da frutífera de interesse para conhecer o quanto esse cultivo depende de polinizadores para uma produção ideal de frutos e sementes e, a partir disso, ter uma estimativa do incremento da produção multiplicando esse valor pela receita atual; ou, para ter um valor próximo à realidade da propriedade, (2) introduzir as colmeias e realizar experimentos de polinização.

Na laranja, um exemplo de variedade que se beneficia da polinização cruzada é a Pera Rio, cuja produção de frutos aumenta em 35% quando suas flores são visitadas por polinizadores, além de serem mais pesados e doces.

Segundo Kátia, a melhoria na qualidade dos frutos é outro benefício proporcionado pelas abelhas, podendo agregar ainda mais valor de mercado aos alimentos.

Outros polinizadores

Além das abelhas, os besouros, as borboletas e mariposas, as vespas e as moscas também são insetos polinizadores. “Os besouros, por exemplo, são essenciais para a produção de frutos e sementes nas anonáceas, que incluem a pinha ou fruta-do-conde, os araticuns e o marolo”, conta a bióloga, acrescentando que as moscas são importantes polinizadoras do cacaueiro e da mangueira.

Potencial da polinização

No Brasil, os produtores de maçã no sul e de melão no nordeste já utilizam fortemente o serviço de polinização comercial por meio do aluguel de colmeias da abelha africanizada, pois, como explicado anteriormente, ambos os cultivos são dependentes da polinização realizada por abelhas para a fecundação das flores e a produção dos frutos e sementes. E, dentre os polinizadores, a abelha africanizada (Apis mellifera) desempenha bem esse papel.

Os produtores de laranja não costumam utilizar o serviço comercial de polinização para aumentar a produção de frutos. Mas, Kátia confirma que a oportunidade é grande, já que a cultura se beneficia da polinização realizada por abelhas e é uma das mais importantes para o setor apícola no estado de São Paulo, sendo muito procurada durante o período de floração para a instalação de colmeias visando a produção de mel. “O néctar das flores de laranjeira é altamente atrativo para as abelhas-africanizadas. Sendo assim, é comum o estabelecimento de parcerias entre produtores de laranja e apicultores para a produção de mel de laranjeira, um dos mais apreciados pela suavidade do sabor”, relata Kátia Aleixo.

A abelha africanizada também poliniza a melancia, a goiaba e o abacate, entre outros. No abacate, inclusive, tem crescido entre os produtores o uso de colmeias para a polinização dos pomares, sendo uma ótima oportunidade para o estabelecimento de parcerias com apicultores, que podem alugar suas colmeias e gerar renda alternativa.

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