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Algas + inoculantes: resultados na floração da soja

A nodulação tem o seu pico na floração e as algas marinhas aplicadas nessa fase auxiliam a formação de clorofila e nutrientes fundamentais para incrementar o nível metabólico.

Nilva Teresinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora e professora de Bioquímica, Nutrição de Plantas e Produção Orgânica (UniPinhal) nilva@unipinhal.edu.br

Segundo a Embrapa (2024), a estimativa de produção de grãos de soja no mundo, safra 2023/24 é de 395,91 milhões de toneladas e o Brasil contribui com 147,35 milhões de toneladas, o que representa cerca de 37,21% do total mundial.

Além dos grãos, o nosso país, também exporta óleo e farelo. A soja é um dos pilares do agronegócio brasileiro, influenciando nosso produto interno bruto, gerando empregos e contribuindo, assim, social e economicamente. Pode-se disser que é uma das explorações agrícolas que movem o país.

O berço da produtividade

A nutrição equilibrada das plantas é fundamental para a produtividade e resistência das plantas às pragas e doenças, sendo que os macronutrientes primários (nitrogênio, fósforo e potássio) são os de maior consumo na agricultura.

O Brasil é dependente da importação de aproximadamente 80% de nitrogênio, 60% de fósforo e mais de 90% de potássio na média dos últimos dez anos, o que torna elevado o custo de tais insumos.

A soja é uma espécie de alta exigência nutricional, especialmente de nitrogênio e potássio. Porém, como toda leguminosa, é capaz, associada a bactérias fixadoras (Bradyrhizobium; Azospirilum), de fixar o nitrogênio atmosférico.

Assim, a introdução de tais microrganismos no sistema produtivo, que pode ser feita via sementes ou em pulverização do sulco de plantio, pode suprir ou reduzir as quantidades necessárias do referido elemento, propiciando expressiva redução dos custos, com garantia de produtividade.

A bactéria Bradyrhizobium pode suprir totalmente, ou quase totalmente, as necessidades de nitrogênio da cultura da soja e a Azospirillum parcialmente. Porém, a Azospirillum produz hormônios, ocorrendo a possibilidade de uso conjunto das duas bactérias em questão, ou seja, praticar a coinoculação, com excelentes resultados.

Eficácia

As estirpes de Azospirillum brasilense são altamente eficientes na produção de hormônios similares aos dos vegetais, como o ácido indolilacético, que promove a divisão e o elongamento das células, o que beneficia o crescimento das raízes, que aproveitam melhor o solo, favorecendo o enraizamento.

Assim, a associação com o rizóbio pode estimular o processo de fixação de nitrogênio. As algas marinhas são seres ricos em elementos nutritivos, como vitaminas, aminoácidos, proteínas e hormônios semelhantes aos sintetizados pelos vegetais, como ácido giberélico e ácido indolacético, entre outros componentes.

Os hormônios referidos promovem a divisão e a elongação celular. Quando as algas marinhas são introduzidas via semente ou no solo, por ocasião da semeadura, melhoram o desenvolvimento das raízes. Aplicados via parte aérea, podem beneficiar o crescimento vegetativo, a floração e a formação do produto agrícola.

Para entender como ocorrem os benefícios da associação algas marinhas e a introdução das bactérias fixadoras, é necessário saber como ocorre o processo da fixação.

A fixação de N

Os rizóbios, como o Rhizobium e Bradyrhizobium e outros, são bactérias aeróbicas de solo, ocorrendo naturalmente. Cada estirpe de tal bactéria tem a capacidade de se associar com uma espécie vegetal, o que se chama de inoculação cruzada.

Portanto, ao plantar a soja, é preciso existir no solo para que ocorra a fixação a estirpe específica para soja, e assim sucessivamente para as outras leguminosas, o que é feito pela técnica da inoculação, usando-se o que se denomina de inoculante.

A inoculação, sempre feita com a estirpe adequada a cada espécie cultivada, pode ser aplicada via tratamento das sementes ou pulverizando-se o sulco de plantio. Após a semeadura há a germinação e o desenvolvimento das plântulas.

O Rhizobium presente no solo é atraído para as raízes, por meio de um sinal químico emitido pelo vegetal, penetrando nas raízes e se alojando no parênquima radicular. As plantas reagem multiplicando as células, formando o que se denomina de nódulos.

Cria-se, então, uma simbiose: as plantas cedem os carboidratos gerados pela fotossíntese e as bactérias as enzimas necessárias para a fixação, que é a transformação do nitrogênio presente no ar (N2) em nitrogênio assimilável pelas plantas.

Onde entram as algas

E como as algas podem auxiliar em tal processo? Para a multiplicação celular são necessários fitohormônios, como ácido indolilacético e giberelinas, com o que as algas podem contribuir.

Também, para o êxito da fixação vitaminas são importantes. Assim, a vitamina B12, que é um dos constituintes das algas, estimula a fixação, já que é precursora da leghemoglobina (pigmento indispensável para o processo).

Além do referido às algas, por terem rica composição, estimulam o desenvolvimento radicular, que se aprofunda no solo, entrando em contato com mais nutrientes e água, o que favorece a nodulação o desenvolvimento e produtividade da cultura.

Um pelo outro

Como se referiu, a introdução dos inoculantes pode ser via solo (pulverizando o sulco de plantio) ou tratando-se as sementes.

Tal associação traz benefícios, já que as algas, pela rica composição, estimulam o crescimento das raízes principais e secundárias – as radicelas, que respondem pela maior parte do processo de absorção de água e de nutrientes, o que propicia aumento de nodulação, de fixação de nitrogênio, de aproveitamento de água e de nutrientes, desenvolvimento e produtividade.

Atenção

Há que se considerar que o êxito da introdução dos organismos fixadores de nitrogênio e dos formulados contendo algas marinhas depende das condições físicas e químicas do solo: solos arejados, com adequados teores de matéria orgânica, pH, cálcio, magnésio, fósforo, zinco, boro, entre outros nutrientes.

As bactérias fixadoras são aeróbicas e, para formação dos nódulos, os nutrientes da planta são importantes. A inclusão das algas marinhas pode diminuir a necessidade dos nutrientes de plantas, não substituindo as adubações.

O uso da inoculação em soja é fundamental para os produtores: pode substituir totalmente os fertilizantes nitrogenados, ou requerer uma introdução de dele em pequena quantidade, o que reduz o custo de produção (o custo dos inoculantes por hectare é muito inferior ao dispêndio com tais adubos).

Floração da soja

A nodulação, em qualquer leguminosa, tem o seu pico na floração: a fase reprodutiva é de grande exigência nutricional e os derivados fotossintéticos (carboidratos) são dirigidos para a formação das flores, vagens e grãos.

As algas marinhas aplicadas nessa fase auxiliam a formação de clorofila e aporte de hormônios e de nutrientes fundamentais para incrementar o nível metabólico, garantindo o nível de energia, auxiliando na formação de novas raízes, na absorção de água, de nutrientes e na continuidade da nodulação, o que se refletirá na produtividade.

Entretanto, como toda tecnologia, o uso isolado ou combinado dos inoculantes e das algas marinhas deve ser cuidadoso.

Na dose certa

O inoculante e as algas devem ser aplicados na dose correta. Se via semente, semear no mesmo dia da inoculação. Quando da aplicação conjunta com defensivos contra pragas e doenças iniciais, introduzir o inoculante por último.

Se a aplicação for associada às algas marinhas, colocá-las antes do inoculante. No caso de aplicação via sulco, preferir as horas de temperatura amena.

No caso da aplicação das algas marinhas via pulverização, na época da floração, aplicar nas horas de temperatura e seguir as recomendações técnicas.

A literatura indica expressivos aumentos de produtividade no caso da aplicação associada inoculante + algas marinhas. Entretanto, o êxito obtido com a adoção da prática depende da correção adequada, umidade, estrutura do solo (aeração e retenção de água), clima, aplicação em doses e forma corretas, cultivar adequada, etc. Enfim, é preciso seguir as recomendações técnicas de um profissional da área.

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