Antônio LuisSanti
Professor da UFSM – Campus Frederico Westphalen, e pesquisador em Agricultura de Precisão
Claudir José Basso
Professor da UFSM – Campus Frederico Westphalen
Lisandra Pinto Della Flora
Professora do Instituto Federal Farroupilha – CampusFrederico Westphalen
Leila Daiane Almeida dos Santos
ManúciaPiaia
Júnior MeloDamian
Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Agronomia – Agricultura e Ambiente, UFSM – Campus Frederico Westphalen
Alencar Zachi da Fonseca
Romano Augusto Martini Dal Bello
Acadêmicos do curso de Agronomia, UFSM “Campus Frederico Westphalen
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Há quase duas décadas, as ferramentas de agricultura de precisão (AP) vêm contribuindo no Brasil, positivamente, para o manejo de solo, das culturas, racionalização de insumos e para o monitoramento do sistema de produção agrícola mais detalhado e responsável.
Por isso, a AP tem como foco a gestão de um sistema produtivo agrícola considerando, de forma integrada, os vários fatores que interferem na produtividade, buscando analisar, quantificar, qualificar e espacializar esses fatores que podem ser previsÃveis, ou seja, de natureza humana e/ou imprevisÃveis, que se referem aos efeitos ambientais.
Apesar de haver muita especulação e tentativa de remeter a AP ao uso massivo de tecnologia embarcada em máquinas e implementos agrícolas, o que tem feito a diferença e realmente dado resultado aos produtores, tanto em termos de acréscimo de produtividade como vantagens econômicas, tem sido decisões agronômicas baseadas, obviamente, em informações georreferenciadas ” ter a informação da lavoura e tomar uma decisão assertiva.
Continuar trabalhando pela média ou considerando a média nas decisões ou mesmo avaliações de resultados é um risco para com a sustentabilidade da lavoura.
Teoria e prática, juntas
Resultados práticos e de pesquisa mostram que a aplicação de insumos à taxa variada, comparada com a aplicação pela maneira tradicional (uniformemente na área), promove a otimização desses, contribuindo para o conceito de “suplementar com a quantidade, no tempo e no local correto“, o que culmina em ganhos econômicos e ambientais (Figura 1).
Figura 1 – Representação esquemática de uma lavoura monitorada pela média (Ã esquerda) e monitorada com estratégias da agricultura de precisão (Ã direita).
Desta forma, dentre as várias estratégias da AP que mais têm sido utilizadas pelos agricultores e preconizada pelos prestadores de serviços e consultores tem sido a prática da taxa variada de corretivos. A explicação agronômica é um tanto simples, pois todo o sucesso das adubações e o desenvolvimento de plantas deve ser precedido de um solo sem problemas de acidez e presença de alumÃnio tóxico.
Neste sentido, conhecer a variabilidade de atributos como do pH do solo, alumÃnio, saturação de alumÃnio e saturação de bases pode conduzir a uma prescrição mais assertiva de onde e quanto precisa de corretivos no talhão ou mesmo em toda a propriedade.
Implementação da taxa variada de corretivos
Em qualquer circunstância, dentro da agricultura de precisão, antes de tomar uma decisão são necessários cuidados básicos quanto à qualidade dos dados em questão. Uma das preocupações pertinentes, e que é importante considerar, é a grade amostral utilizada, pois, dependendo de como ela é definida, pode mudar significativamente a caracterização da área e também a recomendação técnica de quantidade e espacialidade das taxas de calcário a serem utilizadas.
Um trabalho desenvolvido pela equipe do Laboratório de Agricultura de Precisão do Sul ” LAPSul da UFSM, demonstrou que com o aumento da malha amostral há perdas significativas em termos de resolução espacial em variáveis como o pH do solo, um dos atributos utilizados para a elaboração de mapas de prescrição de calcário, principalmente no Sul do Brasil.
Figura 2 – Variabilidade espacial do pH do solo em função da grade amostral utilizada.
Importante verificar que quando se preconizam malhas amostrais superiores a 1,5 hectare, praticamente se aproxima de intervenções pela média, o que não traria vantagens em termos econômicos, como técnicas, quando comparado com a intervenção em taxa variada plena.
Essa percepção é extremamente importante, pois a forma tradicional de se obter informações dos atributos de solo na agricultura de precisão é a amostragem de solo em grade. Respeitar os princípios da geoestatÃstica e da dependência espacial são condições primordiais para se chegar a um mapa de aplicação agronomicamente correto.
Sem receita de bolo
Outro aspecto importante é que não há um modelo ou prescrição geral para as áreas. A variabilidade espacial, além de existir, não se repete de uma área para a outra, mesmo dentro de um mesmo talhão, logo, a assertividade depende de se realizar uma caracterização em cada talhão e uma prescrição personalizada.
Figura 3 – A variabilidade espacial, além de existir, não se repete de um talhão para outro.