Paulo Sergio dos Santos
Biólogo, mestre e coordenador de pesquisa na área de Nematologia do Instituto Phytus – RS
Nos últimos anos, a utilização de substâncias derivadas de plantas com propriedades nematicidas vem sendo muito estudada como mais uma alternativa no controle de fitonematoides. A eficiência de controle destes compostos “extratos vegetais e/ou óleos essenciais“ tem sido demonstrada por vários pesquisadores, com resultados extremamente satisfatórios.
Atingem-se valores de controle que podem variar entre 50 e 90%, dependendo da planta em estudo e a forma do composto (extrato ou óleo essencial). Vale aqui ressaltar que produtos derivados de plantas apresentam uma série de características que os tornam bastante promissores, quando comparados a nematicidas sintéticos.
As principais características são: baixa toxicidade ao meio ambiente, rápida degradação no solo, amplo mecanismo de ação que pode atuar diretamente sobre as formas juvenis e ovos dos fitonematoides, possível ativação de mecanismos de defesa latentes existentes nas plantas (área ainda pouco explorada), além de serem obtidos de fontes renováveis.
Na literatura já existem vários estudos apontando o efeito nematicida e/ou nematostático destas substâncias sobre diversos fitonematoides.
Plantas nematicidas
Na literatura são apresentadas várias plantas que possuem efeitos nematicidas e/ou nematostáticos já comprovados. Entre as mais conhecidas estão: extratos vegetais de Azadirachta indica (neem), Tagetes spp. (cravo-de-defunto), Mucuna aterrina, Ricinus communis (mamona), Crotalaria spectabilis, etc.
No que tange os óleos: os derivados da mostarda, gergelim, manjericão, cravo, melaleuca, alfazema, entre outras, são destaque. Os compostos derivados dessas plantas (extratos vegetais e/ou óleos essenciais) apresentam uma série de substâncias químicas (terpenos, terpinen-4-ol, monoterpenos, sesquiterpenos, fenóis, polifenóis, alfatertienil, álcoois, alcaloides, monocrotalina, álcool alifático 1- triacontanol, eugeno, éster triacontiltetracosanato, cetonas, ésteres, acetatos, timol, ácidos carboxÃlicos, linalol, carvacrol, entre outros)que podem ser extraÃdos de diferentes partes da planta (sementes, caules, folhas, flores, raízes e frutos).
A árvore-do-chá
Conhecida como árvore-do-chá (Tea Tree), é pertencente à família das Myrtaceae, à Melaleuca alternifolia, e possui aproximadamente 100 compostos ativos. Entre eles estão: hidrocarbonetos, terpeno, monoterpenos, sesquiterpenos e álcoois associados.
A atividade antimicrobiana do óleo essencial é atribuÃda principalmente ao componente Terpinen-4-ol, componente majoritário do óleo 30 – 40% (Tabela 1). O Instituto Phytus (RS), em parceria com a Universidade Franciscana UNIFRA (RS), testou em condições de laboratório “in vitro“ a atividade nematicida e/ou nematostática do óleo essencial de M. alternifolia no controle de Meloidogyne javanica.
Tabela 1 ” Constituintes do óleo de M. alternifolia expressos em porcentagem. Traços (Tr); Ãndice de Retenção Experimental (IRE) com base na série homóloga de n-alcanos C7-C30; e Ãndice de Retenção da Literatura (Adams, 1995). ISO 4730.
Pico | Compostos | IRE | IRL | Quantidade (%) | ISO 4730 Faixa (%) | Fórmula Molecular |
1
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 |
α-Pineno
Sabineno α-Terpineno p-Cimeno Limoneno 1.8-Cineol γ-Terpineno Terpinen-4-ol Terpinoleno α-Terpineol Aromadendreno Ledene δ-Cadineno Globulol Viridiflorol |
937
976 1016 1025 1032 1037 1062 1178 1089 1190 1440 1521 1539 1583 1591 |
939
976 1018 1026 1031 1038 1062 1177 1088 1189 1439 1525 1538 1583 1590 |
3,51
0,46 9,85 2,27 1,39 6,03 20,15 41,98 4,17 2,43 1,04 0,80 0,63 0,97 0,18 |
1-6
Tr-3,5 5-13 0,5-8,0 0,5-1,5 Tr-15 10-28 30-48 1,5-5 1,5-8 Tr-3 Tr-3 Tr-3 Tr-1 Tr-1 |
C10H16
C10H16 C10H16 C10H14 C10H16 C10H18O C10H16 C10H18O C10H16 C10H18O C15H24 C15H24 C15H24 C15H26O C15H26O |
Total Identificado (%) | 95,86 |
Os resultados obtidos mostraram em todas as concentrações testadas uma ação nematicida sobre os juvenis J2 de M. javanica, sinalizando um potencial produto para o uso no controle desta espécie de nematoide. Novos estudos deverão ser realizados, em nível de campo e casa de vegetação, nesta segunda etapa, visando entender melhor a dinâmica do óleo de M. alternifolia no controle dos fitonematoides e se os resultados obtidos em condições de laboratório refletirão nestes dois cenários.
Portanto, a utilização de extratos vegetais e/ou óleos essenciais, sem dúvida poderá, em um futuro próximo, compor o arsenal de ferramentas no combate a esta praga de solo. Contudo, ainda há um longo caminho para se percorrer, no que diz respeito à dinâmica destas substâncias no solo, à tecnologia de aplicação adequada, bem como à questão dos custos para sua implementação.
Utilização
Embora os esforços realizados por inúmeros pesquisadores na busca de novas moléculas ou substâncias com efeito no controle de fitonematoides, sua aplicação em nível de campo ainda caminha a passos lentos.