Johnny Rodrigues Soares
Pesquisador de Pós-Doutorado – Feagri/Unicamp
Renan de Campos Vieira
Engenheiro agrônomo da Prefeitura Municipal de Guareà (SP)
A recomendação de adubação nitrogenada para a cultura da melancia no Brasil varia de 80 a 130 kg/ha de nitrogênio (N). As quantidades maiores ou menores dependerão da análise de solo, análise foliar, cultivar e produtividade esperada. É sugerido que a aplicação de N seja parcelada a fim de evitar os danos do excesso de fertilizante no início do desenvolvimento da cultura, bem como perdas excessivas de nutrientes devido à lixiviação.
Recomenda-se aplicar metade, ou 30 kg/ha de N, na adubação de plantio e o restante em cobertura, dividido em três aplicações aos 15, 30 e 50 dias após a emergência das plantas. Porém, a aplicação de N em cobertura exige operação de maquinário e gastos.
A adoção de um fertilizante de liberação lenta é uma estratégia adequada para a realização da adubação de cobertura, reduzindo o número de aplicação de três para apenas uma, isso devido à gradativa liberação do nutriente pelo fertilizante.
Ao se aplicar o fertilizante aos 15 dias, este liberará o nutriente até os 50 dias, período em que as plantas atingem a máxima absorção de nutrientes; após os 50 dias, a eficiência de absorção dos nutrientes pela planta diminui, sendo inadequada a aplicação de cobertura após esse período.
Como funcionam
Os fertilizantes de liberação lenta ou controlada são produtos que têm na base o adubo comum, como ureia, por exemplo, e são recobertos por camadas de polímeros, enxofre ou outras substâncias de baixa solubilidade que prolongam a sua liberação no solo em um período mais longo que as fontes convencionais.
Muitos desses fertilizantes se encontram em fase de aprimoramento, e o amplo uso deles pode reduzir as perdas de N por volatilização de amônia e lixiviação de nitrato, substituir a necessidade de parcelamento, proporcionar melhor aproveitamento desse nutriente pelas plantas, e possivelmente aumentar a produtividade.
Estudos
Diversos fertilizantes à base de ureia com recobrimento foram avaliados em experimentos de laboratório e de campo no Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Alguns produtos foram bastante eficientes, mostraram liberação lenta, e assim reduziram em grande parte a perda de nitrogênio por volatilização de amônia.
Porém, outros produtos não mostraram resultados positivos, devido às falhas no recobrimento ou à composição do material de recobrimento, e tiveram o mesmo comportamento que a ureia comum.
Um produto de sucesso à base de ureia testado no centro de solos do IAC mostrou liberação de N de forma gradual, sendo que 50% do N foram liberados em 15 dias e o restante em 30 dias após a aplicação no solo. Essa liberação gradual do N reduziu a perda por volatilização de amônia.
Tratando-se da cultura da melancia, conforme já dito, a adubação nitrogenada consiste no parcelamento em quatro vezes da dose recomendada, no plantio, e após 15, 30 e 50 dias. Assim, este produto seria adequado para se aplicar em cobertura aos 15 dias, garantindo a liberação adequada de N até os 50 dias.
Vantagens para a melancia
Dados da literatura indicam que o parcelamento se faz necessário, uma vez que o excesso de N causa o excessivo vigor de plantas, fato esse que dificulta o controle fitossanitário e também o pagamento de frutos.
Outro benefÃcio da liberação lenta de N por parte do fertilizante é evitar o consumo de luxo (absorção de um nutriente em excesso pela planta), fato esse que torna a planta mais susceptÃvel ao ataque de insetos sugadores (tripes e pulgões, principalmente).
Além disso, tratando-se da ureia não seria necessário incorporar o fertilizante ao solo a fim de reduzir a perda de N por volatilização de amônia. Outro aspecto que vem sido debatido atualmente é que esses fertilizantes de liberação controlada podem reduzir a emissão de gases do efeito estufa, além de diminuir a lixiviação de nitrato e volatilização de amônia.
Investimento
Os fertilizantes de liberação lenta ou controlada são normalmente utilizados em culturas de alto valor agregado, devido ao preço mais elevado em comparação às fontes convencionais. Na cultura da melancia, fazendo uma análise dos custos, haveria um acréscimo médio de aproximadamente R$70,00/ha, considerando os preços atuais e que o fertilizante de liberação controlada nitrogenado é 20% mais caro que o convencional.
Por outro lado, esses fertilizantes podem reduzir o gasto com aplicações em cobertura, que são acima de R$100,00/ha. Deste modo, o uso de fertilizantes de liberação lenta se torna vantajoso para o cultivo de melancia, desde que adotado um produto que tenha sua tecnologia garantida por pesquisas.