Autores
Rhaiana Oliveira de Aviz
rhaianaoliveiradeaviz@gmail.com
Luana Keslley Nascimento Casais
luana.casais@gmail.com
Emanoel dos Santos Vasconcelos
manoeldsvogm@gmail.com
Graduandos em Agronomia – Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
Luciana da Silva Borges
Doutora e professora – UFRA, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Horticultura da Amazônia (Hortizon) e Núcleo de Pesquisa em Agroecologia (NEA)
luciana.borges@ufra.edu.br
Atualmente, com o acesso facilitado à informação, a população brasileira está cada vez mais atenta à sua qualidade de vida, e em relação à alimentação há uma crescente preocupação relacionada à forma de produção dos alimentos. Tem-se uma procura por alimentos produzidos de forma orgânica, livres de defensivos químicos e com manejo racional dos recursos naturais. Entretanto, nesse sistema ainda predomina a agricultura familiar, que tem sua produção voltada para o mercado local.
Um dos desafios desse sistema é produzir uma quantidade que não abasteça somente a região, mas que seja suficiente também para outros Estados. Algumas formas de evitar perdas e incrementar a produção é utilizando coberturas no solo, cultivo em ambiente protegido e o cultivo múltiplo (Montezano & Peil, 2006).
Uma modalidade do cultivo múltiplo é o consórcio entre culturas. Essa prática consiste no arranjo espacial de duas (ou mais) culturas diferentes dentro de uma mesma área, as quais se desenvolvem simultaneamente. O consórcio possui várias vantagens, dentre elas o baixo uso de herbicidas, as capinas podem ser feitas manualmente, há maior eficiência de uso dos recursos naturais, como água, luz e nutrientes, e há também aumento de produtividade por unidade de área, possibilitando colheitas escalonadas (Sediyama e al, 2014).
Vantagens
O aumento da produtividade é um dos principais motivos da escolha dessa prática, entretanto, para obter sucesso é necessário que as culturas tenham algumas características que as complementem e evitem que durante seu desenvolvimento ocorra alguma forma de competição entre as plantas. Diferença de arquitetura, ciclo e faixa de absorção de nutrientes são algumas dessas características a serem consideradas (Montezano & Peil, 2006).
A alface e a cebola são duas olerícolas que possuem características favoráveis ao plantio em consórcio. A alface possui um porte baixo e um ciclo mais curto, comparado com a cebola, e isso mostra a complementariedade entre elas, tornando-as uma excelente opção para cultivo consorciado.
Manejo orgânico
Para dar início à produção, a área deve ser preparada com o uso de arado e grade, e de acordo com a análise de solo deve ser corrigida a acidez do solo. Também é recomendado incorporar esterco bovino ou resíduos vegetais no solo para melhorar a sua fertilidade.
É importante realizar a produção de mudas da alface, para obter plantas sadias e posteriormente produtivas. O transplante das mudas deve ocorrer 30 dias após a emergência das plântulas. O substrato deve ser composto de materiais que proporcionem um bom desenvolvimento às raízes. Materiais como palha de arroz e cascas de árvores trituradas favorecem uma boa aeração e porosidade, e compostos orgânicos proporcionam nutrientes essenciais ao desenvolvimento.
Para a cebola, pode ser realizada tanto a produção de mudas quanto a semeadura direta, utilizando o espaçamento de 30 x 10 cm. Já a alface é transplantada nas entrelinhas da outra cultura, quando essa já tiver emergido, utilizando espaçamento entre plantas de 30 cm.
Durante o desenvolvimento das plantas devem ser realizadas adubações utilizando composto orgânicos, esterco bovino ou de aves, tanto em cova (durante o transplante) quanto em cobertura.
A irrigação pode ser manual (regador) ou por meio dos sistemas de aspersão ou gotejamento. O controle de plantas daninhas não é realizado com frequência no consórcio, pois o espaço disponível pela cultura principal (cebola) é totalmente ocupado pela cultura secundária (alface).
A colheita da cebola é realizada em torno de 90 dias após o transplante, quando a maior parte das plantas sofre o chamado “estalo” (tombamento das plantas), que é resultado do murchamento das folhas. Como o ciclo da cebola é maior que o ciclo da alface, pode ser realizado o plantio da folhosa até três vezes na área do consórcio, e consequentemente obter mais de uma colheita.
A colheita da alface deve ser realizada aproximadamente 30 dias após o transplante das mudas, quando as folhas se apresentam tenras e atrativas.
Qualidade e produtividade
No cultivo consorciado, a produção de cebola como cultivo principal ocorre da mesma forma que na monocultura, e em relação à produção e qualidade também não há diferença, pois a produção de alface na entrelinha não interfere nesses fatores, devido a possuírem características que as complementam, e não gera competitividade pelos recursos naturais. Na época de colheita, a produtividade pode chegar a 59,11 t.ha-1 de cebola.
Já para a alface é possível detectar um aumento da produtividade, pois o cultivo na entrelinha pode ser realizado mais de uma vez durante a produção de cebola, gerando uma renda extra ao produtor. Além disso, no consórcio com manejo orgânico a alface pode apresentar diâmetro de cabeça maior que no monocultivo.
Em campo
Existem alguns estudos de campo, realizados por pesquisadores, sobre a consorciação entre hortaliças. São feitas as mais variadas combinações de plantas, espaçamentos, adubações, entre outros tratamentos.
No trabalho realizado por Paula et al (2009), avaliando a viabilidade agronômica do consórcio entre cebola e alface no cultivo orgânico, foi possível observar que essa prática é vantajosa. A cebola consorciada tem a mesma produtividade do cultivo solteiro (59,11 t.ha-1), e indicou ser mais favorável o transplante de mudas de alface após 15 dias do transplante das mudas de cebola.
Já no trabalho de Leite et al. (2011), realizando o cultivo consorciado de olerícolas no sistema agroecológico, foi visto que no consórcio entre cebola e alface esta última apresentou um bom diâmetro de cabeça (23,30 cm) e peso comercial satisfatório (57,34 g), enquanto o diâmetro (5,41 cm) e o peso da cebola (85,70 g) não apresentaram diferença em relação ao plantio solteiro.
Erros
Para obter sucesso no plantio, é necessário atentar-se a alguns cuidados de manejo que podem interferir e prejudicar na produtividade. Para a escolha das plantas que serão consorciadas, é necessário se atentar às características botânicas e fisiológicas, que elas difiram entre si para não ocorrer competição por água, luz, espaço e nutrientes (Sugasti, 2012).
Outro fator importante é o espaçamento, que, sendo adequado, proporciona melhor aproveitamento dos recursos e a planta consegue expressar o seu potencial produtivo. A cultura principal deve ter o mesmo espaçamento usado no monocultivo, enquanto a secundária é cultivada na entrelinha da principal, entretanto, tem um espaçamento entre plantas estipulado (Paula et al, 2009).
Como evitar os erros
Para evitar que erros de manejo ocorram durante o cultivo, antes da escolha das cultivares a serem adquiridas é necessário obter informações sobre as características botânicas, como porte, projeção de copa e também as características técnicas para o cultivo, como espaçamento, época de plantio, ciclo, entre outros.
Manter-se informado sobre o ciclo e as fases de produção é importante, pois é a partir disso que é realizado o planejamento de produção, e também é feito o calendário de adubações, e as quantidades de nutrientes definidas a partir da análise de solo.
Custo-benefício
A agricultura familiar no nosso País é o principal meio de abastecimento de hortaliças nas feiras de um município. Apesar disso, ainda é carente de tecnologias que possam incrementar a produtividade e trazer maiores ganhos ao produtor rural.
O cultivo consorciado tem as características do monocultivo para a cultura principal, entretanto, no espaço que antes era ocupado por plantas invasoras tem-se uma outra cultura, e a colheita gera uma renda extra ao produtor, que antes não tinha. O produtor vai ter os mesmos gastos que tinha com o monocultivo, entretanto, vai estar produzindo duas culturas diferentes.
Além de reduzir os gastos, atividades como limpeza de plantas daninhas não serão necessárias, dessa forma otimizando o tempo do trabalhador. Como a alface possui ciclo rápido (60 dias proximamente), pode ser feito mais de um plantio na mesma área, e com isso há possibilidade de cobrir os gastos de produção.
No cultivo orgânico é importante fazer o reaproveitamento de alguns materiais, como restos de culturas, resíduos de beneficiamento de vegetais e estercos, que são materiais utilizados para obtenção da compostagem e posterior adubação das plantas. Essa prática, além de sustentável, reduz os custos de produção, visto que além de fornecer nutrientes, os compostos orgânicos também melhoram a estrutura do solo, prevenindo a degradação.