Afonso Peche FilhoPesquisador científico do Instituto Agronômico de Campinas (IAC)afonsopeche@gmail.com

Solo – Crédito: Shutterstock

Sem alarmismo, mas com prudência, convém olhar com atenção os crescentes problemas que a exposição do solo traz para áreas agrícolas, seus efeitos atuais, em médio e longo prazo.

Com a adoção do sistema convencional de preparo e condução de lavouras quando a safra termina, fatalmente o solo está mais fragilizado, mostrando sinais de empoçamento, desarranjos superficiais, deslocamento de partículas e, invariavelmente, processos erosivos, pequenos ou grandes.

Mesmo que não aconteça erosão em grandes proporções, o agricultor sempre faz o sacrifício de perder qualidade produtiva do solo que ele vem construindo há décadas ou mesmo a uma vida inteira.

Vulnerabilidade

No atual estágio da agricultura brasileira e de todos os países tropicais, a cada safra o problema de controle da degradação das áreas produtivas fica mais complicado. É fato que com o passar dos anos as terras agrícolas aumentaram sua vulnerabilidade com o manejo convencional.

Os dados da Embrapa mostram que o Brasil tem por volta de 63.994.709 ha de área cultivada e a Federação de Plantio Direto e Irrigação mostra dados em seu site que em 2018 o Brasil tinha por volta de 33 milhões de hectares com o sistema implantado – só Deus sabe com que qualidade da cobertura e das práticas conservacionistas.

Fato é que ainda temos no País uma enorme quantidade de área com solo exposto por pastos degradados ou por áreas que sofrem mobilização e exposição pela adoção de sistemas convencionais de plantio. Eis aí um excelente motivo para redesenhar o manejo tradicional e caminhar para um modelo que elimine a mobilização e adote constantemente a cobertura biodiversa do solo.

Essa perda progressiva da capacidade produtiva do solo nada tem a ver com a falta de tecnologia, e sim com o modelo reducionista e impactante de ocupação e uso das terras agrícolas tropicais. O que ocorrerá na próxima safra? Quantos milhões de dólares vamos perder pela erosão? Qual é o custo ambiental de sacrificar áreas produtivas com a exposição do solo? Respostas estas que eu gostaria de poder responder.

Na ponta do lápis

No Brasil, parece que o planejamento de safra não inclui medidas efetivas de prevenção e controle de perdas da capacidade produtiva dos solos agrícolas. A avaliação produtiva das áreas sempre se refere aos dados de quilogramas de produtos colhidos por hectare, nunca quanto de degradação foi produzida.

Processos erosivos de grandes proporções têm sido administrados sem que pareçam problemas, nem analistas e nem investidores levam em conta perdas por erosão na agricultura brasileira. Muito menos as empresas que vivem do agronegócio brasileiro, somente o agricultor administra o risco ou fica no prejuízo. E aí vale o clássico ditado: “O agricultor passa, mas a terra fica, e sabe-se lá como”.

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