Krishna de Nazaré Santos de Oliveira – Engenheira agrônoma – Universidade Federal da Amazônia (UFRA) – krishna.oliveira14@gmail.com
Thiago Feliph Silva Fernandes – Engenheiro agrônomo e mestrando em Agronomia/Produção Vegetal – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (FCAV/UNESP), Campus de Jaboticabal – SP – thiagofeliph@hotmail.com
Lucas Guilherme Araujo Soares – Técnico agrícola e graduando em Agronomia – UFRA – lucasifpa@gmail.com
Há necessidade de aumentar a produção agrícola para atender a demanda mundial por alimentos, que está diretamente ligada à utilização, em larga escala, de insumos agrícolas. Embora os benefícios dos insumos para a cultura cultivada possam ser observados em termos de incremento ao desenvolvimento, se não forem manejadas adequadamente, terão um impacto negativo na sustentabilidade dos solos agrícolas a longo prazo (Loss et al., 2010).
Neste contexto, compreender que o solo é um sistema rico, com microrganismos em contínua evolução e que a matéria orgânica fornece energia e nutrientes necessários para sua sobrevivência, garante modelos agrícolas mais sustentáveis, com maior eficiência de utilização dos nutrientes e reduz a dependência de fertilizantes.
A matéria orgânica
A matéria orgânica do solo é composta por uma mistura de compostos em vários estágios de decomposição, que é causada pela biodegradação dos resíduos vegetais e animais pela atividade sintética de microrganismos (De Carvalho, 2018). Consequentemente, temos como produtos substâncias que podem ser classificadas como húmicas e não húmicas, sendo este último formado por compostos com propriedades químicas claras, como polissacarídeos, aminoácidos, açúcares, proteínas e ácidos orgânicos com substâncias polares baixas.
Por outro lado, as substâncias húmicas (SH) possuem carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e enxofre na sua composição estrutural. É válido ressaltar que as SH são subdivididas em ácido húmico, ácido fúlvico, ácido algínico tecidual e húmus, de acordo com suas características de solubilidade, e não têm propriedades químicas e físicas claras.
Considerando especificamente os ácidos húmicos, é relatado na comunidade científica que essa substância está envolvida em diversos processos fisiológicos e bioquímicos das plantas, tais como: fotossíntese, sínteses de ácidos nucleicos e nos ciclos de desenvolvimento e produtivos (Canellas et al., 2005; Caron, 2015).
Ação no solo
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Segundo Cunha (2005) e Marques Junior (2010), o húmus é fundamental no processo de formação estrutural dos agregados do solo, em função do conteúdo das substâncias húmicas, pois seus compostos constituem a maior parte da matéria orgânica do solo nos ambientes tropicais (Cunha, 2005; Marques Junior, 2010), e influenciam diretamente a estrutura física, química e microbiológica dos ambientes onde estão presentes.
Além disso, são usadas como insumos com a finalidade de melhorar as condições do solo para o desenvolvimento, principalmente, do sistema radicular das culturas implantadas (Caron, 2015). As matérias orgânicas são constituídas, em sua maior fração, de substâncias húmicas. Tratam-se de precipitados de coloração escura, solúveis em ácidos minerais e solventes orgânicos.
Têm elevado peso molecular, capacidade de troca de cátions entre 350 e 500 miliequivalentes (mEq) 100 gramas (g-1), com origem na lignina, possuem alto teor de ácidos carboxílicos e significativas quantias de nitrogênio (Tan, 1993; Caron 2015).
Neste sentido, os compostos presentes nas SH apresentam atributos interessantes para o agricultor como ferramenta para aplicar em seu cultivo e proporcionar um incremento no crescimento do mamoeiro (Caron, 2015). Entretanto, é recomendado que esses compostos sejam utilizados em associação com adubos convencionais e dentro do manejo nutricional para a cultura.
Pesquisas
Apesar dos poucos trabalhos na literatura científica com a temática de ácidos húmicos, Pire (2004), avaliando doses de ácido húmico em combinação com fertilizantes nitrogenados sobre o crescimento vegetativo de mudas de C. papaya L, concluiu que as variáveis área foliar, altura, diâmetro do caule e massa seca total foram favorecidas com as combinações de maiores dose de húmus e N no substrato.
Em estudos semelhantes, Salmerón Torres (2013) avaliaram o crescimento, a produtividade e a rentabilidade do mamão (Carica papaya L.), utilizando três doses de composto húmico, nas concentrações de 10, 15 e 20 toneladas hectares por ano (t/ha ano), aplicadas com frequência bimestral, em dois períodos: verão e inverno em 2009 e 2010.
Os autores concluíram que os tratamentos com 10 e 20 t/ha obtiveram melhores resultados, a saber: diâmetro superior do caule com 6,29 cm; diâmetro do caule inferior com 13,71 cm; comprimento do caule com 353,59 cm; altura de inserção da primeira flor com 81,56 cm; altura de inserção do primeiro fruto com 116,49 cm; número de folhas vivas com 18,68; número de folhas mortas com 67,18 e número de folhas com 23,17.
b) Variáveis de rendimento: número de frutos colhidos, obtendo melhores resultados o tratamento 20, com 55.500 mamões (ha-1 ciclo); peso dos frutos colhidos, obtendo-se maiores rendimentos no tratamento 10, com 34.750 kg ha-1; eixo maior do mamão com tratamento 20, com 27,27 cm e eixo menor do mamão apresentando melhor tratamento 10, com 12,20 cm.
c) Variável de rentabilidade econômica; usando a metodologia CIMMYT 1998, os dados econômicos foram analisados e revelaram que o tratamento 10, com R$ 20,15 é mais lucrativo.
Metodologias
Quanto ao método de aplicação dos ácidos húmicos em viveiro e ou em campo, há poucos trabalhos relatando qual o melhor método ou dose ideal para o mamoeiro. Existem algumas indicações positivas neste sentido.
De acordo com Baldotto e Baldotto (2014), recomenda-se aplicar o ácido húmico em baixas concentrações e que a aplicação deve ser realizada no estágio fisiológico adequado de cada cultura. Por exemplo, antes do plantio, no material propagativo (sementes, estacas, bulbos, etc.).
Esses compostos podem ser aplicados por via irrigação, o que contribui para reduzir a perda de nutrientes durante o processo de lavagem e melhorar o fornecimento de elementos essenciais, para que as plantas possam crescer normalmente.
Outra opção é no transplante de mudas, onde a aplicação de ácido húmico por imersão pode favorecer a absorção de inseticidas, pois, além de reduzir o estresse e estimular um maior enraizamento, esses inseticidas podem proteger a planta no início do desenvolvimento (Bacilieri, 2018).
Custo-benefício
Em termos de custo-benefício, a utilização de substâncias húmicas supera os custos a longo prazo, visto que a matéria orgânica e seus componentes do húmus não só beneficiam o crescimento e o desenvolvimento das plantas, mas também melhoram a saúde do solo em termos de qualidade química, física e biológica.