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Produção de tomate no vaso: você conhece?

Crédito: Franciely Ponce

Adriano Edson Trevizan Delazeri
Hidroponic Consultoria em Hidroponia
contato@hidroponic.com.br

O tomate é a segunda olerícola em importância agrícola e a maior parte da sua produção é destinada à mesa. É uma cultura com elevado risco econômico e grande complexidade. O Brasil, segundo a FAO (Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas), ocupava em 2020 a 10ª posição em produção mundial, superando 5 milhões de toneladas.

Pode ser plantado em todo o Brasil, sendo Goiás o primeiro no ranking nacional. Segundo o levantamento Sistemático da Produção Agropecuária (LSPA) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2021), o Estado continua sendo o maior produtor nacional de tomate e a estimativa é de uma produção de 1,15 milhão de toneladas, com produtividade acima de 97 ton/ha.

A produtividade varia muito. Roraima, por exemplo, tem uma produção que chega a pouco mais de 17 ton/ha, contudo, temos no Brasil produtores e sistemas de cultivo com rendimento superior a 200 ton/ha, em cultivos hidropônicos em estufa.

Realidade brasileira

A recente elevação dos custos de adubos e insumos, altas temperaturas, excessos de chuva, solos mal drenados, mudas de baixa qualidade, pragas, doenças e mão de obra não qualificada são ‘inimigos’ da cultura.

Sua produção é melhor no clima tropical de altitude, em regiões de serra e planalto, com altitudes superiores a 1.000 m. Pode ser cultivado em clima subtropical ou temperado, desde que seco e com alta luminosidade.

Na cultura do tomate, o ataque de doenças e pragas está ligado ao clima, temperatura e umidade elevada, sendo muito problemática em climas tropicais úmidos.

Cultivo protegido em vaso

O cultivo em vasos com substrato é uma técnica de cultivo hidropônico, ou o chamado semi-hidropônico. Nessa forma de produção não se faz a utilização de solo – a planta é cultivada dentro de estufas.

Os nutrientes que a planta precisa para seu desenvolvimento e produção são fornecidos em água enriquecida (solução nutritiva) com os elementos necessários: nitrogênio, potássio, fósforo, magnésio etc., dissolvidos, ou seja, os tomateiros são cultivados em vasos ou calhas contendo um substrato inerte (areia, casca de arroz, perlita,…) que substitui o solo, e a planta é irrigada com essa solução nutritiva.

Benefícios

Entre as vantagens temos: produção de melhor qualidade, pois as plantas crescem em um ambiente controlado de temperatura, disponibilidade água e controle da adubação; o tamanho e a aparência são iguais, ou podemos, a partir de tratos culturais, controlar essas características.

O trabalho também é mais leve e limpo longe de intempéries. Há menor quantidade de mão de obra, pois parte dos tratos são facilitados ou mesmo extintos, como controle de daninhas. Não é necessária a rotação de cultura; observa-se alta produtividade e colheita precoce.

Outro ponto é a não utilização de alguns defensivos, ou ao menos diminuição drástica, pois longe do solo não temos necessidade de aplicar nenhum defensivo de solo, e por estar dentro de ambiente protegido temos menos pragas. Assim, como a planta tem um desenvolvimento controlado, ela fica mais resistente a todas as pragas e doenças.

Há do aproveitamento da água e nutrientes, que são vantagens a considerar. Utilizamos um quinto da água normalmente usada em um cultivo a campo. Assim, os adubos são mais bem aproveitados e temos ainda maior duração pós-colheita.

Por ser um produto de alta sanidade, apresenta mais resistência ao transporte e exposição, até a chegado ao consumidor final.

Focar nessas características, em embalagens que diferenciam o produto, e em rastreabilidade, oferece ao mercado um produto com elevado valor agregado, compensando o investimento no sistema.

Potencial produtivo

Crédito: Wéber Velho

O tomateiro é cultivado como uma planta anual com ciclos de 5 a 12 meses. A primeira colheita pode ser realizada 45-55 dias após a florescência, ou 90 – 120 dias depois da sementeira. A forma dos frutos difere conforme a cultivar (variedade cultivada) e a cor deles varia entre amarelo e vermelho.

A vantagem desse sistema de cultivo fica evidente quando comparada com a produção em sistema convencional no solo, em que a média nacional em campo aberto é de 6,5 kg/m2 em ciclos de até seis meses e em ambiente protegido de 15 kg/m2 para tomates salada e italianos. Já para mini-tomates, a produção é de 10 kg/m2.

Na Espanha, em sistemas mais tecnificados, temos produtividade de mais de 65 kg m2 em ciclos de 12 meses. Estamos falando em 650 ton/ha/ano.

Mais um ponto a ressaltar é que, enquanto no sistema convencional temos em muitas regiões a possibilidade de só um ciclo de produção, por conta do clima, em estufa, com alguma tecnologia, uma produção contínua nos 12 meses do ano dobram o rendimento da área.

Sendo uma cultura que tem grande variabilidade de preços decorrente de safra e entressafra da cultura, o cultivo em sistema hidropônico permite a produção em momentos onde o retorno econômico é maior.

Primeiros passos

Conhecer a cultura é importante para não ser surpreendido por particularidades. É sempre bom chamar a atenção para a alta complexidade da tomaticultura, por conta da diversidade de variedades e de manejos, que diferem bastante, passando por dificuldades características da cultura, como doenças e pragas, considerando ainda a diversidade de climas no Brasil e entendendo que existem preferências diversas dos consumidores.

Para produtores do solo, passar para a produção em ambiente protegido é um passo natural. A escolha da variedade depende das condições locais e do objetivo do cultivo, além do tipo de mercado a atender.

Os critérios de seleção baseiam-se em características como o tipo de fruto, a forma da planta, a vitalidade e a resistência a pragas e doenças, mas também em fatores relativos ao clima e ao manejo do cultivo. Os agricultores devem selecionar variedades que mostraram ter o melhor desempenho sob condições locais.

Essas considerações devem ser avaliadas por um técnico com experiência. O manejo nas atividades que precedem o cultivo interfere de forma direta no resultado final, visando um produto de excelência, tanto sob o aspecto fitossanitário como na sua aparência e qualidade.

Mudas

O produtor pode escolher produzir suas próprias mudas, mas existe nos mercados a possibilidade da aquisição de materiais de alta qualidade, produzidas por viveiristas profissionais e certificados.

Essa pode ser uma alternativa mais cara, a princípio, mas considero um recurso importante para quem está iniciando e não tem muita experiência na cultura, afinal, no início o importante é ter um produto de confiança para vender do que dominar todo o processo, da muda ao produto final.

Se optar por produzir a muda, escolha uma semente de qualidade e observe a sua data de vencimento, se a variedade apresenta as características que busca, se tem resistência a doenças comuns da cultura. Usar bandejas higienizadas e substratos de boa procedência.

É importante ter assessoria sobre a nutrição da cultura. O tomateiro tem uma relação de nutrientes na fase inicial e outra na fase produtiva, e deve ser manejado para o máximo de produtividade. Isso também interfere na qualidade final do produto. A durabilidade pós-colheita tem relação direta com a nutrição da planta.

Recomendações

Crédito: Cícero Araújo

A planta do tomateiro tem um desenvolvimento que pode chegar a mais de 3,0 m de comprimento, o que deve ser considerado no cultivo protegido. As melhores estufas para essa cultura têm pé direito de mais de 4,0 m.

Os vasos de cultivo estão relacionados ao substrato e forma de rega. Ao optar por vasos menores, de 5,0 a 6,0 litros de substrato, use um material com boa drenagem, que ofereça boa oxigenação para as raízes e regue mais vezes por dia.

Se a opção for por usar vasos de 10 a 11 litros, pode-se diminuir o número de regas. Um tomateiro em plena produção consome até mais de 4,0 litros de água por dia, então, tenha uma reserva de água de boa qualidade e fracione a rega para fornecer essa quantidade em alguns momentos durante o dia. Se regar tudo de uma vez, a maior parte vai fora.

É importante que a cada rega uma parcela do drenado, 10 a 15%, saia fora em sistemas abertos, para não salinizar os vasos. Para sistemas em substrato, dividimos a rega da seguinte forma: logo após o transplante, duas regas por dia, considerando a quantidade que começa a percolar do vaso.

Quando a planta apresentar aproximadamente 50 cm de altura até as primeiras flores, três regas por dia. Daí, então, seis regas por dia, oferecendo uma quantidade aproximada de 4,0 litros de solução por planta desse estágio em diante.

Tratos culturais

Os tratos culturais são os mesmos do cultivo convencional. Nessa forma de cultivo, as plantas deverão ser suportadas com fitilhos, para facilitar as podas, a colheita e outras práticas de cultivo.

É necessário que os tomateiros sejam podados, para melhorar a intercepção da luz, a circulação do ar e facilitar o manejo sanitário. À poda das brotações laterais chama-se desponta lateral. À poda da cabeça do caule chama-se desponta apical.

Regas, pragas e doenças devem ser monitoradas e manejadas todos os dias.

Custos

O custo de construção de uma estufa em aço, com instalações hidráulicas e elétricas, suportes para as plantas, vasos e substrato, parte, em 2022, de R$ 180,00/m2, tendo durabilidade de 25 anos para a estrutura, com a troca do plástico a cada três anos e substrato a cada ciclo.

Considerando uma área aproximada de 1.000 m2, com 2.400 plantas, espaçamento entre plantas de 30 cm e entrelinha de 1,5 m, em um ciclo de 180 dias, considerando uma produção média de 5,0 kg por planta por ciclo, com imposto e a depreciação da estufa e instalações em um período de 10 anos, podemos esperar uma lucratividade acima de 35%, em relação ao preço de venda médio.

Sempre lembrando que o resultado se deve também à distância entre a produção e os pontos de comercialização e negociações comerciais entre produtor e comprador.

Novas tecnologias

Crédito: Luize Hess

Com o crescente interesse do mercado em causas ambientais, que pedem um melhor aproveitamento dos recursos, surgiram no mercado novos sistemas de produção, como as calhas, onde os vasos são encaixados de forma que o drenado aplicado possa ser recolhido, corrigido e reaplicado no sistema. Dessa forma, não se perde água e o uso do adubo é quase total.

Também surgiram calhas de cultivo onde as plantas podem ser cultivadas diretamente, permitindo que as plantas, em cada calha, compartilhem todo o substrato da calha, assim como os nutrientes.

Esses dois sistemas são vistos com bons olhos pelo consumidor e produtores, por conta da diminuição de custos de montagem, economia de insumos e preservação de recursos. São sistemas ainda mais produtivos, com melhor resultado econômico, mas exigem um acompanhamento mais técnico.

Sistemas de monitoramento da água no sistema, controles ambientais e nutricionais automatizados também estão em alta. Afinal, a mão de obra ainda é um dos maiores impeditivos para a cultura do tomate.

 O futuro

O mercado está em expansão, seja por melhora das condições econômicas ou da globalização na distribuição de produtos, exigindo que o produtor vá investindo e mudando sua forma de produção de para continuar competitivo.

A todo o momento surgem novas ferramentas, seja de monitoramento ou de gestão, que podem ser aplicadas à cultura. Felizmente, o produtor, hoje, tem acesso a muitas publicações sobre o assunto, mas nada é mais importante que o acompanhamento técnico e o olho do produtor!

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