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Uniformidade do grão de café

Carolina Alves Gomes
Engenheira agrônoma e mestranda em Produção Vegetal – Universidade Federal de Viçosa (UFV/CRP)
carol.agomes11@gmail.com
Vanessa Alves Gomes
Engenheira agrônoma, mestre em Fitopatologia, doutoranda em Proteção de Plantas e professora – Centro de Ensino Superior de São Gotardo (CESG)
vavvgomes@gmail.com

O café é a segunda bebida mais consumida no mundo, ficando atrás somente da água. A exigência do mercado por cafés de qualidade tem fomentado, ainda mais, o mercado nacional e internacional. A qualidade da bebida se transformou em uma premissa para a permanência e conquista de espaço no mercado.
Segundo dados do IBGE, estima-se que o Brasil deve produzir para a safra de café em 2021, 2,7 milhões de toneladas de café. Isto representa um declínio de 27,3% em relação ao ano anterior, devido à bienalidade negativa do café arábica no ciclo deste ano. Além da redução da produção, acredita-se haver também uma redução na qualidade da bebida.
Para minimizar as perdas econômicas, os produtores precisam se atentar ao manejo das lavouras. A produtividade sofre influência direta do manejo nutricional pré e pós-florescimento.
Em relação à qualidade do café, esta é obtida pela soma de fatores, tais como os componentes físicos e químicos, responsáveis pelas características sensoriais do grão torrado, o que garante o sabor e aroma. No geral, as condições edafoclimáticas, espécie e variedade, bem como os manejos da cultura, colheita e pós-colheita vão interferir diretamente na produtividade e qualidade do produto final.

Classificação

Os grãos de café podem ser classificados quanto ao tamanho e formato. Quanto ao formato, os grãos se dividem em mocas e chatos, separados por peneiras de crivo alongado e crivo redondo, respectivamente. Quanto ao tamanho, existe o intervalo de peneiras entre n° 08 a 22, porém, o mercado externo prioriza os cafés de peneira 16 acima.
Os cafés que possuem maior peneira, combinados a outros aspectos de qualidade, apresentam maior valor de mercado. Para isto, é importante a escolha da variedade e um bom manejo nutricional, garantindo a uniformidade e o tamanho dos grãos. Além disso, a uniformidade no tamanho dos grãos garante uma torrefação mais uniforme e de maior qualidade.
Os cafés mais jovens têm a tendência de produzir grãos maiores, devido a sua compensação, pois há um menor número de grãos por roseta. Porém, cafés com cultivo em condições e manejos adequados produzem grãos de café de maior tamanho, independentemente da idade da lavoura. Por isso, é importante que o manejo nutricional atenda todas as exigências nutricionais e o manejo fitossanitário garanta o desenvolvimento saudável das plantas.

Como funciona

O cafeeiro realiza a extração de nutrientes no solo. Posteriormente, acumula e utiliza estes nutrientes nas raízes, caule, ramos, folhas, flores e frutos. A planta que possui deficiência ou excesso de nutrientes pode apresentar comprometimento na produtividade final.
Esse problema pode reduzir a capacidade de florescimento da planta, bem como a produção e o tamanho dos grãos. Dessa maneira, deve-se conhecer os principais nutrientes exigidos para o café e seus principais sintomas, para repô-los no momento correto.

Quais são os nutrientes do cafeeiro

O nitrogênio é um nutriente altamente exigido e o mais acumulado. Isto porque ele contribui para o crescimento estrutural da planta, florescimento e frutificação. O potássio é o segundo nutriente mais demandado pelo cafeeiro, pois atua na fotossíntese, respiração e condução de seiva.
Este nutriente é muito importante devido a colaborar nos períodos de seca, aumentando a resistência das plantas ao frio. Já o fósforo é o nutriente menos exigido em grandes quantidades em plantas adultas por atuar, principalmente, na formação de raízes e lenho.
O cálcio tem grande importância no desenvolvimento radicular, que é a principal forma de absorção de nutrientes nas plantas. O magnésio está presente nos componentes da clorofila, contribuindo para a fotossíntese e apresentando grande importância na produção de fotoassimilados.
Já o enxofre apresenta funções estruturais em proteínas e atividades metabólicas, contribuindo para o desenvolvimento da planta.
O zinco pode limitar a produção do cafeeiro, isso porque está ligado às áreas de crescimento das plantas, germinação do tubo polínico, influenciando na florada e no tamanho dos grãos produzidos.
Assim como o zinco, o boro também pode limitar a produtividade. É um nutriente que pode ser encontrado na matéria orgânica, bem como pode ser lixiviado pelas chuvas. Seu acesso pode ser dificultado pela calagem e adubação nitrogenada excessiva.
Quanto ao ferro, ele está presente na clorofila e também atua no processo de respiração. Neste caso, deve-se atentar ao excesso de calcário e matéria orgânica, a fim de evitar problemas de deficiência desse elemento. O manganês também atua na fotossíntese e pode colaborar na ação de várias enzimas.

Contribuição agrícola

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Deste modo, o estado nutricional das plantas contribui para o acúmulo dos fotoassimilados. Isso porque muitos elementos contribuem para o processo da fotossíntese, respiração e metabolização de compostos.
A concentração de carboidratos é altamente relacionada à bebida, assim, quanto maior a quantidade encontrada (1,9 – 10%), normalmente sacarose, melhor a qualidade.
Em casos de atraso na adubação durante o período de enchimento de grãos, o metabolismo do ácido clorogênico e do triptofano é afetado, prejudicando a qualidade da bebida. Deste modo, a bebida do café apresenta características de adstringência, metálica e dura.
Caso haja redução de fotoassimilados durante o enchimento de grãos, pode influenciar também na qualidade da bebida. Além disso, é possível observar reduções nos tamanhos dos grãos. Ao reduzir a peneira, há uma redução também do volume de café produzido após o beneficiamento.
A extração de nutrientes promove o acúmulo destes nas partes das plantas, como caules e frutos. Por isso, quando se retira partes vegetais no campo, por meio de podas e no processo da colheita, é importante devolver os galhos e a palha do café à lavoura. Assim, tanto as palhas como os galhos tornam-se adubos orgânicos, repondo o que foi exportado durante a poda e colheita. Esta medida reduz os gastos com adubos sintéticos, por fazer a reposição dos nutrientes que foram exportados de forma natural na lavoura.

Ponto de colheita

É importante também se atentar à maturação dos grãos de café durante a colheita, pois tem grande influência na qualidade da bebida. O café deve ser colhido em ponto ótimo de maturação – grãos cereja.
A desuniformidade dos grãos secos e verdes pode prejudicar as características sensoriais na bebida final. Essa desuniformidade na maturação se dá principalmente pelas diversas floradas que ocorrem durante o mesmo ciclo produtivo.
Assim, conclui-se que a qualidade do café é composta pelos processos de manejo no campo, como nutrição e fitossanidade. Mas, é complementado na colheita e, principalmente, durante os processos da pós-colheita.
Dessa forma, é importante que os manejos no campo sejam bem feitos, produzindo grãos uniformes em tamanho e de alta qualidade. A colheita deve ser realizada com o maior número de grãos cereja e deve-se realizar a secagem, bem como o beneficiamento de forma adequada.
Além disso, a uniformidade dos grãos em tamanho, formato e maturação são essenciais para a qualidade da bebida. Essa uniformidade também garante que a torra seja mais uniforme, promovendo uma melhor degustação dos aspectos sensoriais do café. A qualidade do café se dá em todos os processos, desde o manejo da lavoura até o preparo da bebida.

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