Aldeir Ronaldo Silva – Engenheiro agrônomo e doutorando direto em Fisiologia e Bioquímica de Planta – ESALQ/USP – aldeironaldo@usp.br
João Pedro Ramos da Silva – Engenheiro agrônomo – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) – joaopedro_r@outlook.com
As hortaliças são de grande importância nutricional para o consumo humano, devido aos diversos benefícios à saúde humana. Além disso são utilizados na indústria farmacêutica devido às propriedades como antioxidante, antisséptico, analgésico e expectorante (Oliveira et al., 2003).
Durante o cultivo de hortaliças, se faz o uso intenso do solo, promovendo o aumento das exigências nutricionais nas plantas. Essa exigência pode representar até 25% do custo de produção, com relação ao uso de fertilizantes. Dessa forma, é importante o manejo nutricional eficiente, com o objetivo de fornecer quantidades de nutrientes adequadas de maneira economicamente viável.
A baixa concentração desses nutrientes minerais nas plantas pode ocorrer por meio de vários fatores, como a existência de uma baixa concentração no solo, impossibilitando a absorção pelas plantas.
Outro fator é o excesso ou a deficiência de um nutriente, que podem provocar o acúmulo ou a redução de outro nutriente, referente a uma relação de sinergismo ou antagonismo. Além disso, a incidência de algumas doenças pode produzir sintomas semelhantes à deficiência nutricional.
Dessa forma, o uso de corretores nutricionais envolve uma complexidade, afim de obter alta eficiência da técnica. Dessa forma, se faz uso de corretores nutricionais com o objetivo de suplementar concentrações dos nutrientes em deficiência no cultivo.
Corretores de carência nutricional
Esses fertilizantes corretivos viabilizam para plantas, nutrientes minerais em concentrações adequadas, afim de não promover efeito tóxico ou antagônico a outro nutriente. Esses nutrientes minerais são classificados em macro e micronutrientes, divisão essa em função da quantidade exigida pela planta.
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São elementos que exercem funções essenciais em vários processos ao longo do cultivo, por exemplo, o nitrogênio é constituinte de aminoácidos, que por sua vez são importantes para crescimento e produção dos frutos. Além disso, o nitrogênio é constituinte de proteínas, ácidos nucleicos e clorofila. Já o ferro é considerado um micronutriente, que participa na transferência de elétrons no processo de fotossíntese.
Outro importante nutriente é o potássio, sendo responsável pela manutenção do turgor das folhas, também requerido como cofator de reação fisiológica de mais de 40 enzimas. As baixas concentrações desses elementos nas plantas provocam distúrbios metabólicos, levando à redução no crescimento, redução da tolerância ao ataque de doenças e pragas e perda de produtividade.
Nisto os corretores nutricionais fornecem de maneira rápida e eficiente a forma química disponível para absorção das hortaliças, promovendo assim uma rápida reposta aos sintomas de deficiências nas hortaliças.
Benefícios
Entre os benefícios proporcionados pelo uso de corretivos, pode-se destacar: a rápida disponibilidade do nutriente específico para hortaliça, sendo importante em virtude que grande parte das hortaliças apresenta ciclo rápido de cultivo, requerendo assim uma quantidade elevada de nutriente em um curto espaço de tempo.
Além disso, a disponibilidade adequada para plantas promove o ganho no desenvolvimento vegetativo, e por consequência ocorre o maior acúmulo de fotoassimilados, resultando assim no aumento da produção de frutas ou órgão de interesse comercial no setor de hortaliça.
Outro benefício indireto promovido pelos corretivos nutricionais é a diminuição da incidência de pragas e doenças, uma vez que plantas bem nutridas se tornam mais resistentes aos danos causados pelo ataque. Em virtude disso, ocorre uma menor utilização de defensivos químicos, reduzindo o custo de produção durante o ciclo de cultivo das hortaliças.
Manejo
Apesar de ser uma prática bastante difundida na agricultura, trata-se de uma técnica complexa, em que tomadas de decisões incorretas podem resultar em perdas significativas da produção e aumento no custo de produção. Dessa forma, é recomendável um acompanhamento profissional, com conhecimento técnico da área.
A primeira medida a ser adotada é a realização de um levantamento histórico da área, com a obtenção de informações como produção obtida, quantidade de chuvas, tipo de preparos do solo utilizados e época de plantio, que irão auxiliar na tomada de decisões em função de dados mais reais da área de cultivo.
Posteriormente, é recomendável a realização de uma diagnose nutricional correta da cultura, que deve ser realizada por meio da análise de solo, quanto à concentração dos principais macro e micronutrientes.
Além disso, também é recomendável a análise de textura do solo. Outro ponto importante é a análise foliar dos nutrientes. Após essas etapas, é importante identificar os sintomas de deficiência na cultura agrícola, com o intuito de identificar os estágios iniciais dos sintomas para realização da suplementação.
Posteriormente, com auxílio de um profissional, deve-se realizar a escolha do produto mais adequado para cada cultura, sendo importante a aquisição de produtos com garantia quanto à composição e eficiência. Já com relação à época da aplicação, é recomendável aplicar os corretivos de maneira que coincida com a fase de maior demanda da cultura, que acontece geralmente no período vegetativo para hortaliças.
Todavia, o uso de corretivo pouco solúvel, por exemplo, o caso de fosfatos naturais e calcário, deve ser implementado com a necessária antecedência, para que ocorra o processo de dissolução e haja elevação dos níveis de nutrientes na solução do solo.
Quanto à aplicação dos corretivos, no mercado nacional existem produtos indicados tanto para aplicação via solo como foliar, mas, em geral, a aplicação dos corretivos acontece via foliar, e nesse caso a aplicação deve ser realizada em dias com temperaturas não elevadas, não chuvosos e com baixa velocidade dos ventos, com o objetivo de evitar perdas.
Produtividade e lucratividade
A aplicação de corretivos nutricionais possibilita condições próximas do ideal, para que as plantas consigam expressar máxima capacidade genética de desenvolvimento. Dessa forma as plantas como as hortaliças, aumentam a produção e armazenamento de carboidratos (fotoassimilados), desenvolvendo assim uma maior quantidade de frutos em virtude dessa translocação dessa reserva. Nisto é observado um ganho de produção a partir do uso dos corretivos, bem como diminuição dos custos relacionados ao manejo de pragas e doenças.
Teoria e prática, juntas
Vários trabalhos realizados tanto em condição de campo como em casa de vegetação demonstram o efeito benéfico do uso dos corretivos. A aplicação do corretivo líquido em plantas de tomateiro e pimentão cultivadas em casa de vegetação elevou em 60 e 90% a produção de ambas culturas agrícolas.
Esse mesmo efeito foi observado no cultivo do maracujazeiro-amarelo com uso de fertilizante foliar de potássio, aumentando a produtividade e a qualidade química dos frutos (Junqueira et al., 2011). O uso de corretivos nutricionais também promoveu o aumento do diâmetro da espiga e produção do milho, em experimento realizado no Estado de Minas Gerais (Mortate et al., 2018).
Erros e soluções
A aplicação dos corretivos nutricionais pode promover ganho produtivo para a maioria das hortaliças, todavia, quando realizada de forma inadequada acarreta em problemas de toxicidade, redução do desenvolvimento das plantas e da produtividade.
Nesse caso, podemos destacar alguns erros bastante recorrentes na aplicabilidade da técnica, como por exemplo a aplicação de produtos sem garantias quanto à composição e a eficiência. Dessa forma o produtor pode promover uma redução no crescimento e produtividade, além de aumentar a suscetibilidade a pragas e doenças.
Outro erro também comum é a aplicação de doses altas ou baixas, muito em função da ausência de uma precisa análise de solo ou foliar. Tal erro propicia o surgimento de efeito tóxico ou prolongamento dos sintomas de deficiência nutricional, resultando em perda de produtividade e aumento do custo de produção.
É importante ressaltar que a aplicação via foliar dos corretivos nutricionais deve ser realizada em dias com baixa precipitação pluviométrica, com o objetivo de evitar perdas durante aplicação do produto. Também deve-se evitar dias com temperatura elevada ou alta velocidade do vento.
Investimento x retorno
Em função dos diversos benefícios diretos ou indiretos, observados com a aplicação de corretivos nutricionais, associado também à diversidade de produtos comerciais no cenário nacional, o uso é viável tanto por parte do grande produtor como pequeno produtor.
Além isso, o aumento no custo de produção a partir dessa técnica tende a ser compensado pelos ganhos em produtividade e qualidade dos frutos, sendo esse importante fator por parte dos consumidores de hortaliças. Dessa forma, o uso dos corretivos nutricionais é economicamente viável em virtude do retorno quanto à produção de qualidade das hortaliças.