Vanessa Alves Gomes – Engenheira agrônoma, mestra em Fitopatologia, doutora em Proteção de Plantas e professora – Centro de Ensino Superior de São Gotardo (CESG) – vavvgomes@gmail.com
Carolina Alves Gomes – Engenheira agrônoma e mestranda em Produção Vegetal – Universidade Federal de Viçosa (UFV/CRP) – carol.agomes11@gmail.com
Os nematoides são um grande problema para os produtores no Brasil e no mundo. Existem diversos nematoides importantes e capazes de causar prejuízos em diversas culturas. Antigamente, pouco se sabia a respeito destes patógenos.
Os produtores não realizavam o monitoramento das áreas, por meio das análises nematológicas, bem como ao descobrir um nematoide na área nada era feito. Muitas vezes o produtor mantinha a informação em sigilo, sobre a presença de nematoides em determinadas propriedades, em busca de não desvalorizar suas terras.
Atualmente, vemos uma valorização dos estudos dos nematoides. Com o passar dos anos, os produtores receberam mais informações e sentiram as perdas produtivas na presença deste patógeno. Diante disso, foi possível gerar uma maior aceitação do problema em questão e iniciar medidas de manejo visando reduções populacionais.
Prevenir é o único caminho
Quando um nematoide é inserido na área, a sua erradicação é dada como impossível. Assim, é necessário ficar atento às medidas preventivas existentes e aplicáveis às propriedades. A partir do momento que uma área se encontra infestada por nematoides é necessário manejar em prol de reduções de populações para possibilitar o cultivo e não inviabilizar a área.
A disseminação dos nematoides acontece de forma passiva. Esses patógenos não se locomovem sozinhos e infectam novas áreas. Podemos observar a disseminação acontecendo por meio do solo aderido às botinas, rodas de carros, máquinas e implementos, enxurradas e até mesmo pelo vento, quando há o transporte de partículas de solo.
Visto a facilidade de disseminação desses patógenos, é importante monitorar as áreas produtivas buscando impedir a entrada do patógeno no local ou, quando já presentes, evitando sua disseminação nos talhões onde o nematoide ainda não está presente.
De olhos abertos
O monitoramento é realizado por meio das análises nematológicas. Assim, o produtor faz a coleta de solos e raízes, envia a um laboratório especializado e obtém o laudo de como está a saúde de seu solo em relação à presença de nematoides.
Ao comprar ou arrendar uma área é necessário, antes, buscar informações a respeito dos nematoides e realizar a análise nematológica, bem como são realizadas as análises de solo.
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Antes de iniciar o plantio é necessário conhecer o solo, se há nematoides na área, para organizar o sistema de rotação, a escolha de cultivares e determinar todo o manejo da área. A depender da presença de nematoides, algumas medidas precisam ser adaptadas para não proporcionar um aumento do patógeno na área e apresentar quedas quali-quantitativas na produtividade.
A coleta do material deve ser realizada respeitando a distribuição espacial e atemporal. As amostras devem ser coletadas de forma estratificada e sistemática, tendo em vista que a distribuição espacial-horizontal desses patógenos é agregada.
É necessário coletar amostras compostas de várias subamostras. Recomenda-se coletar de 10-30 amostras para cada hectare. Áreas muito grandes recomenda-se subdividir a área em quadrantes com no máximo 10 ha. No entanto, tudo é variável, o que vale ressaltar é que quanto mais subamostras forem coletadas, maior será a representatividade da área.
Especificidades
O responsável por realizar a coleta do material deve se atentar às condições do solo, que não pode estar encharcado, nem seco. É necessário realizar a coleta em condições de solo próximo à capacidade de campo.
As raízes das plantas precisam ser coletadas também para auxiliar na diagnose, principalmente as radicelas (raízes secundárias e terciárias). Normalmente, nos solos encontramos os ovos dos nematoides e nas raízes conseguimos encontrar os juvenis e adultos vivos, possibilitando a identificação e quantificação. Isso acontece por se tratar de organismos parasitas obrigatórios, ou seja, requerem uma planta hospedeira viva para sua sobrevivência.
Em relação à quantidade de material que precisa ser coletado, sugere-se a coleta de aproximadamente 1,0 kg de solo e aproximadamente 200 g de raízes. Este material será suficiente para a realização das análises laboratoriais. O material precisa ser corretamente identificado, conter informações do histórico da área e informar de qual planta são as raízes enviadas.
Assim que o material é coletado, as raízes precisam ficar inseridas no meio do solo coletado para garantir uma melhor conservação até o dia de serem analisadas. O material deve ser colocado em saco plástico, devidamente identificado, e armazenado em local fresco e arejado, quando possível, em caixa de isopor ou geladeira e deve ser encaminhado o mais rápido possível para o laboratório responsável. Temperaturas entre 10 – 15ºC prolongam a sobrevivência dos nematoides nas amostras.
Falso negativo, fuja dele
O material vai ser representativo e mostrar o que realmente existe na área apenas quando todo o processo de coleta, armazenamento e transporte forem realizados da forma correta. Caso contrário, podemos encontrar laudos com resultados apresentando falso negativo de nematoide na área ou apresentando resultados subestimados.
O melhor momento para realizar a coleta das amostras de solo e raízes é no período reprodutivo das plantas. Neste período a planta encontra-se bem desenvolvida, não iniciou seu período natural de senescência, atuando como uma boa hospedeira para o patógeno.
Nesses casos são encontrados mais nematoides nas análises, expressando de forma mais representativa a população de nematoides na área. Por meio desse resultado é possível determinar, da melhor forma, o cultivo seguinte.
Em áreas que apresentam reboleiras, é necessário realizar a coleta nas bordas delas. Assim, realiza-se a coleta de plantas vivas e que trarão resultados representativos para sua área. Quando a coleta é realizada no centro da reboleira, normalmente as plantas já não se encontram em boas condições, devido ao ataque do patógeno, e as raízes já estão em processo de decomposição.
Assim que o material chega ao laboratório são realizadas extrações do solo e das raízes obtendo suspensões de ovos e nematoides. A quantificação e identificação realizada em microscópio óptico ou eletrônico permite obter um resultado a nível de gênero. No entanto, o produtor pode requerer uma análise molecular para receber o resultado a nível de gênero e a nível de espécie. Atualmente, sabe-se da importância de se conhecer um nematoide a nível de espécie para determinar as melhores medidas de manejo e obter os melhores resultados.
Por onde começa o perigo
O principal nematoide no Brasil é o Meloidogyne spp. (nematoide-das-galhas), seguido pelo nematoide Pratylenchus spp. (nematoide-das-lesões-radiculares). Em ambos os casos mencionados acima, os patógenos são polífagos, capazes de se hospedarem em diversas culturas.
A depender da espécie do nematoide presente na área, é possível estabelecer uma estratégia de manejo. É preciso escolher culturas ou cultivares resistentes a esses nematoides no sistema de rotação associando com outras medidas de controle disponíveis.
Nos casos de populações mistas de nematoides na área, o controle requer mais cuidado e atenção. Muitas vezes, ao reduzir a população de um determinado nematoide, você possibilita o aumento da população de outra espécie no local.
Desse modo, fica evidente a necessidade da realização de análises nematológicas periódicas. Os nematoides são patógenos que expressam sintomas no campo e perdas de produtividades apenas quando já se encontram em altas populações. Por meio das análises periódicas o produtor consegue acompanhar a sua área e detectar a presença de nematoide em níveis menores, impedindo grandes danos às lavouras.
Necessidade de monitoramento
Por se tratar de um patógeno de difícil controle e impossível erradicação, a necessidade de monitoramento se torna um aliado no processo produtivo. Somente com uma avaliação qualitativa (a nível de gênero e espécie do nematoide) e quantitativa (níveis populacionais do nematoide na área) é possível determinar medidas de controle eficientes, minimizando os prejuízos para o produtor.