Construção do perfil de solo para altas produtividades

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Construção do perfil de solo para altas produtividades: confira por onde começar, como definir a física do solo e consequentemente, ter mais produtividade.

Raphael de Paula Gonçalves
Engenheiro agrônomo, mestre em Fitotecnia, pós-graduando em Proteção de Plantas e coordenador de Pesquisa no Instituto de Pesquisa Agrícola do Cerrado (IPACER)
goncalves.raphaelp@gmail.com

Nelson Júnior Corrêa Lima
Engenheiro agrônomo e coordenador de Consultoria – IPACER
nelsonlima01998@gmail.com

 Solo em boas condições após a rotação de culturas
Foto Marcelo Krause

A construção do perfil do solo significa adotar práticas de manejo que permitam o melhor desenvolvimento possível do sistema radicular das plantas, por meio de melhorias da estrutura química, física e biológica do solo, que acarretará em ganhos de produtividade, podendo, muitas vezes, resultar na redução do uso de insumos.

A adoção de práticas de manejo que implicam na melhoria do perfil do solo é cada vez mais indispensável para gerar altas produtividades de maneira sustentável. Porém, a adoção de práticas conservacionistas é uma tarefa desafiadora para os produtores, devido à falta de conhecimento técnico adequado, além de fatores econômicos, operacionais e temporais, pois a construção do perfil deve ser realizada de forma gradativa ao longo dos anos.

Construção do perfil de solo: por onde começar?

O reconhecimento do perfil do solo é de suma importância para tomada de decisões. A diagnose das condições do perfil do solo auxilia na inserção de práticas de manejo conservacionistas mais assertivas, visando melhorias nos ambientes de cultivo.

Entre os fatores que geram degradação do solo, podemos salientar os processos naturais, como solos ácidos e erosões, que são impulsionados por práticas errôneas de uso do solo, como compactação, salinização e desequilíbrios nutricionais.

Quanto aos desafios da diagnose do perfil do solo, podemos citar o mapeamento da fertilidade e da física do solo, para correta correção do perfil na superfície e na subsuperfície do solo. A caracterização química se dá pelas análises químicas de uma amostra representativa do solo, sendo que a amostragem deve ser realizada nas camadas superficiais, de 0 a 20 cm de profundidade, e nas camadas subsuperficiais, de 20-40 cm de profundidade, sendo recomendado o reconhecimento mais profundo do solo.

Física do solo

A definição da física do solo pode ser realizada por meio de ferramentas que permitam o conhecimento da compactação do solo, gerada por aumento da densidade do perfil e redução da porosidade, que gera restrição no desenvolvimento do sistema radicular das plantas. As consequências são reduções de produtividade devido à dificuldade de absorção de água e nutrientes, que ficam menos disponíveis em solos com camadas compactadas.

A diagnose da compactação do solo pode ser realizada por observação direta do desenvolvimento das raízes, por meio de aberturas de trincheiras na lavoura e de penetrômetros, que geram valores de resistência à penetração das raízes em diferentes profundidades por meio da densidade do solo.

As práticas que favorecem a construção do perfil são as melhorias da estrutura química, física e biológica do solo. Dentre as práticas químicas, podemos evidenciar operações de calagem, gessagem, potassagem e fosfatagem.

A calagem é realizada pela incorporação de calcário no solo para correção da acidez, que irá neutralizar os efeitos tóxicos do excesso de alumínio, além de fornecer cálcio e magnésio, o que gera um aumento no crescimento radicular, que consequentemente promove maior absorção de água e nutrientes, favorecendo também o aumento da atividade microbiana.

Após a correção das camadas mais superficiais com calcário, se necessário, é realizada a prática da gessagem, que consiste na utilização do gesso agrícola. Após sua aplicação, o gesso promove a movimentação do sulfato para as camadas mais inferiores do solo, que leva consigo cátions como Ca2+.

Com essa movimentação de cátions para a subsuperfície, os teores de cálcio, magnésio e enxofre aumentam e os níveis de alumínio são reduzidos, promovendo melhores condições para o desenvolvimento da planta.

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Próximo passo para a construção perfil de solo

Depois da correção do solo com calcário e gesso agrícola, é necessário aumentar os níveis de fósforo e potássio no sistema a níveis adequados para serem disponibilizados às plantas, levando em consideração os critérios da análise de solo.

Dentre as práticas que influenciam na melhoria das condições físicas do solo, podemos evidenciar práticas conservacionistas, como a implementação de terraços e plantio em nível, que auxiliam na perda de carga da água, reduzindo o efeito gerado pela erosão laminar.
Além disso, os tráfegos de máquinas devem ser controlados durante as operações mecanizadas, gerando menor índice de compactação na lavoura.

Outra maneira de melhorar a física dos solos é através da implementação do sistema de plantio direto na palha, em que a interferência de máquinas agrícolas no plantio é mínima, ocorrendo quando há a necessidade do recobrimento de sementes, controle de plantas daninhas, manejo das plantas de cobertura e eventuais manejos, como aplicação de fertilizantes em cobertura e de defensivos agrícolas, sendo utilizados nas principais culturas de grãos do Brasil, como soja e milho.

Consorciação e rotação de cultivos

Em culturas como hortaliças, as operações de mecanização são mais intensas em relação às operações realizadas na produção de grãos, pois além da prática de aração, gradagem e subsolagem, há também a necessidade de construção de canteiros, o que acarreta em maior entrada de maquinas nas áreas.
Com a cultura de interesse em campo, após o sistema estabelecido é necessário adotar a prática da rotação de culturas, que consiste em alternar, de forma planejada, diferentes espécies vegetais em determinado período de safra, na mesma área.
O planejamento das espécies a serem utilizadas na rotação deverá ser criteriosamente elaborado, levando em consideração as condições climáticas, o objetivo do produtor e as características das espécies selecionadas, como por exemplo: o ciclo, a utilização de plantas que possuam diferentes sistemas radiculares.
As gramíneas e as leguminosas, que irão explorar diferentes camadas de solo, terão diferentes efeitos na produção de biomassa e irão auxiliar no controle de plantas invasoras, promovendo a cobertura do solo, aumentando a matéria orgânica, diminuindo a evapotranspiração e contribuindo com a manutenção da umidade no solo.
Vale ressaltar que o acompanhamento constante da lavoura e outras práticas conservacionistas de proteção do solo e da água, principalmente de controle à erosão, irão proporcionar maior sustentabilidade ao sistema ao longo dos anos.

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