Sphenophorus levis na cana-de-açúcar: como combater?

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Sphenophorus levis na cana-de-açúcar: como combater? Leia no artigo abaixo os desafios, as alternativas e como combater essa praga da cana-de-açúcar.

Vinicius Ribeiro Rossignoli

Natanael Motta Garcia

Graduandos em Agronomia – Centro Universitário de Ourinhos (UNIFIO)

Aline Mendes de Sousa Gouveia

Doutora em Horticultura e professora – UNIFIO

aline.gouveia@unifio.edu.br

Sphenophorus levis em plantação de cana
Crédito: Arquivo

A cana-de-açúcar é afetada por diversas pragas, desde sua implantação até a reforma. Dentre as que ganharam importância nos últimos anos está Sphenophorus levis Vaurie, considerada fator limitante para essa cultura, devido aos prejuízos que causa e às dificuldades de controle.

Prejuízos do Sphenophorus levis

Em áreas com infestações superiores a 35% de tocos atacados, é necessário que se proceda com a reforma precoce dos canaviais. Em algumas áreas, o ataque ocorre de forma tão intensa que o canavial é reformado logo após o primeiro corte.

Os danos se refletem no número, tamanho e diâmetro de colmos finais para a colheita, sendo que as perdas econômicas podem ser estimadas em relação à redução em toneladas de cana esperadas por hectare. Em determinados locais, tem-se observado cerca de 50 a 60% de perfilhos atacados, provocando uma queda na produtividade da ordem de 20 a 30 toneladas ha/ano.

Para cada 1% de rizomas atacados pelo Sphenophorus levis Vaurie, há redução de 0,32% no peso de colmos antes da colheita, e de 0,68% no número de brotos gerados por rizoma após a colheita dos colmos, resultando em um total de perda de 0,92% a partir do primeiro corte.

Desafios no controle do Sphenophorus levis

Por se tratar de uma praga de solo, os danos são observados nos toletes abaixo do nível do solo e na base das brotações. A destruição dos colmos reflete em amarelecimento das folhas, seguido pelo secamento e morte dos perfilhos, prejudicando a rebrota da cultura para os anos seguintes.

Os sintomas são visualizados principalmente nas épocas mais secas do ano, podendo ser confundidos com fitotoxicidade causada por herbicidas, estresse hídrico e até aplicação excessiva de vinhaça, por isso, é fundamental verificar a presença de larvas no interior dos colmos para confirmação do dano pelo inseto.

Os sintomas gerados pelo ataque de S. levis Vaurie podem levar à morte das touceiras, promovendo danos indiretos, como o aumento do número de plantas invasoras que competem com a cultura, além da redução na produtividade agrícola, qualidade da matéria prima e longevidade dos canaviais.

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Alternativas de controle do Sphenophorus levis

A adoção de medidas de controle inicia-se com o preparo do solo no momento da renovação do canavial em que foi constatada a presença do ataque do bicudo. A utilização do destruidor mecânico de soqueiras ou de outros equipamentos mecânicos, aliado a um bom preparo de solo, são práticas importantes para destruir larvas e pupas presentes no solo visando expô-las a seus predadores e causar secamento dos rizomas.

Também impede que adultos emergidos das soqueiras mortas ocorram nos novos brotos em formação. Pode ser realizada de uma única vez ou pulando duas linhas para retornar nestas após 15 a 20 dias.

O momento adequado para sua execução é no período mais seco do ano, quando se tem maior infestação de larvas na área. Embora seja uma medida eficiente na redução populacional do bicudo, bons resultados são observados somente no primeiro corte, pois muitas larvas e adultos conseguem sobreviver alimentando-se da matéria orgânica deixada no campo após a destruição das soqueiras.

Para evitar que isso ocorra, recomenda-se a eliminação total de remanescentes do canavial e a aplicação de inseticidas antes do plantio da nova lavoura. Outra estratégia que pode ser adotada quando se tem altas infestações é manter a área livre de vegetação hospedeira por períodos superiores a três meses.

No entanto, para evitar que o solo fique exposto e sujeito à erosão, recomenda-se o plantio de adubos verdes, como o feijão-guandu (Cajanus cajan) e crotalária (Crotalaria juncea).

Fique de olho

A rotação de culturas com plantas de importância econômica que não são hospedeiras também é recomendável. Pode-se optar pelo plantio de leguminosas como soja (Glycine max) e amendoim (Arachis hypogaea), evitando-se o uso de gramíneas, principalmente milho (Zea mays), pois já foi relatado sua presença nesta cultura.

O uso de mudas sadias na implantação da nova lavoura é ferramenta crucial para redução dos problemas fitossanitários da cultura. Dessa forma, cuidados preventivos devem ser tomados de forma criteriosa para evitar a propagação da praga para áreas onde ela ainda não ocorre.

É essencial a realização de vistorias em viveiros, assim como a limpeza de máquinas e implementos nas mudanças de áreas de operação, a limitação de cargas para evitar quedas de toletes pelo caminho e, principalmente, não utilizar canas para muda de áreas cujo ataque de S. levis tenha sido registrado, a menos que estas sejam expurgadas com inseticida antes de deixarem esses locais.

Além disso, é importante o uso de mudas que foram colhidas em sistema de corte basal elevado com pelo menos 30 cm do corte acima do nível do solo e acondicionadas em local protegido, evitando o contato direto com o solo.

Controle químico do Sphenophorus levis

O método químico inclui a utilização de inseticidas sintéticos com aplicações preventivas no sulco de plantio no momento da implantação do canavial e na soqueira logo após a colheita cortando a linha da cana.

Outra modalidade de controle é o uso de iscas tratadas com inseticidas químicos para o controle de insetos adultos em campo. Porém, é um método que apresenta alto custo, pois exige mão de obra para preparo, distribuição em campo e posterior revisão.

Por essa razão, tem sido empregado exclusivamente para monitoramento visando detectar a praga, principalmente em pequenas propriedades e áreas de viveiros. Atualmente, existem inseticidas sintéticos registrados para o controle do bicudo da cana-de-açúcar, sendo para aplicação direta no sulco de plantio (cana planta) e no corte de soqueira (cana soca).

Obstáculos

O controle químico pode apresentar deficiências de acordo com o modo em que ele é aplicado. Autores relatam que a baixa eficiência é atribuída à palha residual, que dificulta o contato dos inseticidas com o inseto-alvo quando esta não é removida no momento da aplicação.

Como menciona Garcia e Botelho (2016), para obter um controle satisfatório, é preciso, antes da aplicação, realizar o desenleiramento da palhada para que o inseticida alcance o inseto, tendo em vista que, se não forem tomados os devidos cuidados, este pode se tornar um método de controle economicamente inviável.

Tal fato está associado à ocorrência das larvas e pupas do bicudo no interior da planta, e do comportamento dos adultos, pois além de se movimentarem pouco, permanecem abrigados na palhada, dificultando o alcance dos produtos químicos.

Dicas

Após o desenleiramento, recomenda-se a aplicação de inseticidas nas soqueiras por meio do cortador de soqueiras no sistema 70/30. O cortador direciona 70% da calda dentro da linha da cana-de-açúcar a profundidades de 10 a 15 cm, focando atingir larvas e pupas.

Os 30% restantes são direcionados sobre a linha de plantio visando atingir os insetos adultos. Por outro lado, existem estudos que demonstram resultados positivos. Dinardo-Miranda e Fracasso (2010), ao avaliarem alguns inseticidas aplicados no sulco de plantio, observaram que os inseticidas fipronil e imidacloprid contribuíram para redução populacional do bicudo e incremento na produtividade da cana-de-açúcar.

Souza et al. (2019) concluíram que o fipronil proporcionou os melhores resultados no controle populacional e na redução de danos, quando aplicado em campo no corte da soqueira, apresentando eficiência de 83% aos 30 dias após a aplicação.

Em condições laboratoriais, o efeito letal dos inseticidas cartap e tiametoxam em diferentes dosagens apresentou níveis de mortalidade superiores a 80% em insetos adultos. Em condições de campo, bons resultados de mortalidade foram encontrados quando utilizadas iscas impregnadas com inseticidas.

Controle biológico do Sphenophorus levis e biotecnologia

Considerando o hábito de vida do bicudo, o uso do controle biológico utilizando produtos à base de microrganismos entomopatogênicos no manejo integrado é uma estratégia interessante, especialmente sob o ponto de vista econômico e ambiental. Contudo, necessita de condições ambientais favoráveis para obter sucesso no controle.

Dentre os mais promissores para o controle de S. levis na cultura da cana-de-açúcar, destacam-se o uso de fungos entomopatogênicos, como B. bassiana e Metarhizium anisopliae, aplicados isoladamente, associados a inseticidas ou com outros entomopatógenos.

Os fungos entomopatogênicos possuem a capacidade de causar doenças e morte de inúmeros artrópodes. Agem por contato com o corpo do hospedeiro, penetrando ativamente na cutícula por meio de enzimas, colonizando o corpo do inseto e levando-o a morte em poucos dias.

Estudos realizados em campo apresentaram alta eficácia, com até 92% de mortalidade de adultos, utilizando iscas com tolete de cana inoculadas com o fungo B. bassiana em doses de 4,9 x 10¹¹ conídios por pedaço de cana-de-açúcar tratado.

Em outro estudo de eficácia, B. bassiana foi eficaz no controle de larvas utilizando as formulações GR e WP na dose de 450 g conídios ha-1, em condições de campo. Além de B. bassiana, o fungo entomopatogênico M. anisopliae também pode ser usado para o controle do bicudo.

Em estudo feito em campo testando diferentes formulações e doses, observou-se redução dos danos nos colmos acima de 80%, sendo a dose de 225 g conídios ha-1 eficaz no controle de larvas e adultos nas formulações utilizadas.

Custo envolvido

O custo de controle na cana-de-açúcar foi obtido pela média dos preços dos produtos em função das doses recomendadas pelos fabricantes, chegando a aproximadamente R$ 359,80 por hectare.

Desse custo, geralmente são gastos 82,56% com inseticidas e 17,44% com equipamentos e mão de obra usados na aplicação dos inseticidas. Já o custo do controle biológico desta praga fica em torno de R$ 148,06 por hectare. Deste, geralmente são gastos 76,78% com o produto com a formulação de B. bassiana e os outros 23,22% com equipamentos e mão de obra usados nas aplicações deste agente de controle biológico.

A relação custo/benefício do controle de S. levis indica que é necessário controlar esta praga quando suas populações são altas, já que o custo de seu controle é baixo, por volta de R$ 148,06 a R$ 359,80 por hectare, em relação ao valor da produção da cana-de-açúcar, que fica entre R$ 7.586,54 a R$ 9.272,44 por hectare. O custo de controle da praga representou de 1,60 a 4,74% do valor da produção da cana-de-açúcar.

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