Inovações no plantio de pimentão

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Alasse Oliveira da Silva

Engenheiro agrônomo e mestrando em Fitotecnia – ESALQ/USP

alasse.oliveira77@usp.br

Liliane Marques de Sousa

Engenheira agrônoma e mestranda em Fitotecnia – Universidade Federal de Viçosa (UFV)

liliane.engenheira007@gmail.com

Walleska Silva Torsian

Engenheira agrônoma e doutoranda em Fitotecnia – ESALQ/USP

walleskatorsian@usp.br

Foto: Shutterstock

O pimentão ocupa uma área de 13 mil hectares no território brasileiro, produzindo cerca de 350 mil toneladas no ano. Cerca de 78% dos produtores de pimentão são classificados como pouco tecnificados, por não possuírem um bom planejamento de safra.

A produção de pimentão é feita de acordo com as preferências do mercado consumidor. Alguns preferem pimentões pequenos, como por exemplo, os curtos ou “block”, cultivados principalmente nas regiões norte e nordeste do País.

Existem também os pimentões cônicos, os “queridinhos” dos consumidores e que são responsáveis pela maior parte do cultivo no País. Além disso, o mercado está optando pelo pimentão de formato retangular, com parede mais grossa e com melhor qualidade de consumo, devido à alta digestibilidade.

Um dos grandes problemas do cultivo de pimentão é a pouca adaptabilidade em campo aberto, pelo fato de serem híbridos desenvolvidos na Europa, onde as condições climáticas são totalmente diferentes das condições climáticas do Brasil, no entanto, novos materiais estão sendo lançados no Brasil para evitar esse problema.

Essa espécie pode ser cultivada em ambiente protegido, cultivo industrial, campo e ambiente indoor (urban farming). As diferentes variedades presentes no mercado são recomendadas em função da demanda local, ambiente de cultivo e estação climática.

O melhoramento genético do pimentão

O melhoramento genético de plantas favorece o aumento da produção e aprimora a vasta capacidade de exploração dos materiais vegetais, proporcionando ganhos diferenciados em qualidade e produtividade para as lavouras brasileiras.

Além de aprimorar a composição nutricional, também aumenta a resistência aos microrganismos, sejam eles vírus, bactérias, fungos ou até mesmo nematoides presentes no solo.

A partir desse melhoramento para as hortaliças, o produtor pode obter uma infinidade de cultivares e híbridos recomendados para cada região ou ambiente de cultivo. Hoje, no mercado de comercialização de sementes, é possível encontrar os pimentões do grupo cônico, quadrado e blocky.

As cultivares híbridas de pimentão garantem potencial produtivo, resistência às doenças e pragas, como exemplo o vírus do mosaico amarelo da pimenta (PepYMV), tobamovirus (PepMov), vírus do vira-cabeça do tomate (TSWV) e mancha bacteriana (Xcv).

Estes materiais garantem:

a) Uniformidade entre plantas;

b) Alto vigor em campo;

c) Polpa grossa e com alta qualidade;

d) Boa qualidade de maturação e precocidade de colheita;

e) Homeostase.

Escolha certa

Economicamente, o pimentão é uma das hortaliças mais importante no cenário brasileiro e, para aumentar sua produtividade, os produtores devem melhorar a qualidade e disponibilizar a hortaliça em todas as épocas do ano, principalmente na região sudeste, que tem cultivado bastante em cultivo protegido e em campo nos meses de janeiro-fevereiro e agosto-setembro.

Uma alternativa para aumentar a produtividade do pimentão é o uso de cultivares híbridas como forma de obter resistência às doenças e também garantir cultivares de polinização aberta. O uso de cultivares híbridas garante melhores respostas ao mercado consumidor, além do alto potencial produtivo, refletindo em maior rendimento e qualidade, adaptação aos diversos tipos de cultivo, tanto em campo aberto como em cultivo protegido e também resistência às principais doenças.

A enxertia

A enxertia basicamente é uma técnica que visa contornar os problemas de patógenos em diversas hortaliças. Mais de um milhão de mudas de pimentão são enxertadas no Estado de São Paulo por ano, e mesmo em áreas livres de patógenos, a enxertia vem sendo eficaz para aumento de produtividade do pimentão.

O objetivo da enxertia é obter mudas a partir da união de duas plantas da mesma família ou gênero, sendo que uma deve apresentar resistência a patógenos e a outra alta capacidade produtiva – uma chamada de enxerto e a outra porta-enxerto. Dessa forma, o uso da enxertia se torna um controle efetivo de doenças e diminui o uso de fungicidas, diminuindo então os custos de produção e aumentando a produtividade e qualidade dos frutos.

O uso de enxertos e porta-enxertos proporciona mudas de alta qualidade e produtividade, pois aumenta a longevidade da planta e a duração das colheitas, garantindo cerca de 30% a mais de produtividade dos frutos.

Espaçamento e manejo de plantio

Para o cultivo do pimentão, algumas características devem ser levadas em consideração para obter boa produtividade, como solos bem arejados, profundos e com boa drenagem, com pH entre 5,5 e 7,0; pois a planta é sensível e pode causar problemas na absorção de água e nutrientes pelo sistema radicular.

É uma planta que necessita de temperatura por volta de 25°C para que ocorra a germinação das sementes. Para o desenvolvimento adequado dos frutos, o ideal é que a temperatura esteja entre 20 e 25°C.

Sob temperaturas em torno de 15°C o desenvolvimento torna-se ineficiente e abaixo de 10°C o desenvolvimento é nulo. Ainda, temperaturas elevadas, entre 35 e 40°C, comprometem a floração e a frutificação, causando o aborto e queda das flores, daí a importância de escolher um híbrido adaptado às determinadas regiões de cultivo.

O ideal é a utilização de mudas para o transplante, que permite obter plantas com sistema radicular mais abundante e profundo. Para uma boa formação das mudas de pimentão, é possível utilizar bandejas com substrato de qualidade, havendo boa drenagem e boa aeração.

É fundamental, também, o uso de sementes de boa qualidade e procedência, com a aplicação de fungicidas e inseticidas, caso necessário. Após o crescimento das mudas de forma homogênea, com sistema radicular abundante e entrenós curtos, as mudas devem ser transplantadas para o local de cultivo definitivo, observando a densidade de plantio de três plantas por metro quadrado.

O espaçamento de plantio mais utilizado é de 100 – 120 cm entrelinhas e 40 – 50 cm entre plantas. O espaçamento varia conforme o local e a época de plantio, sendo que no inverno o cultivo é mais adensado e no verão, mais espaçado.

Adubação orgânica e mineral

A recomendação é que se use matéria orgânica e adubos minerais. A matéria orgânica serve para melhorar as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo e seu uso deve ser feito antes do plantio, a fim de evitar problemas durante o cultivo, com cerca de aproximadamente 40 toneladas por hectare de esterco bovino.

A aplicação de adubos minerais é importante para o fornecimento de nutrientes, como o nitrogênio (induz o desenvolvimento vegetativo, porém, não pode ser usado em excesso, pois torna a planta mais suscetível às doenças); fósforo (favorece a floração e a frutificação, aumenta o crescimento das raízes e a qualidade dos frutos) e o potássio (favorece o peso e a cor do fruto, tornando-o mais resistente ao transporte e ao manuseio).

Tratos culturais

O tutoramento é uma das técnicas principais para a condução do pimentão ser de excelente qualidade. Os mais comuns são os tutoramentos em ‘V’ e espaldeira simples, feitos para dar apoio às plantas, utilizando pequenas estacas ao longo da linha de plantio.

Esses tutores servem para apoiar e firmar o fitilho que passa entre as plantas, assim evitando que elas tombem pelo vento ou pelo peso dos frutos.

Colheita

A colheita do pimentão começa entre a 12° e 16° semana após a realização do transplante das mudas, podendo ser colhido ainda verde ou completamente amadurecido, aliás, o tempo de colheita explica a diferença de cores do pimentão.

Os tipos de pimentão mais comuns são o verde, vermelho e amarelo – todos são o mesmo pimentão, o que diferencia é apenas as diferentes fases de amadurecimento. O pimentão verde é o mais conhecido, classificado como fruto imaturo, ou seja, totalmente verde e por isso tem o sabor mais acentuado, devido ao fato de ficar menos tempo no cultivo.

A colheita é precoce, o que justifica os custos serem mais baratos. O pimentão amarelo está em um estádio intermediário que sucede o verde e antecede o vermelho. E o pimentão vermelho é o fruto mais maduro, com sabor mais suave e geralmente o mais caro, pois fica mais tempo no cultivo antes da colheita.

Entretanto, existem cultivares com frutos maduros ou imaturos de várias cores, como laranja, amarelo, branco, roxo, entre outras.

Investimento x custo-benefício

No geral, o valor de mercado do pimentão com bom aspecto visual, saboroso, aromático, com maior vida de prateleira é bem mais elevado e requerido pelos consumidores que estão cada vez mais exigentes.

Por isso, a aplicação de inovações no sistema de cultivo, tais como o uso de cultivares híbridas, produção em sistema  hidropônico, enxertia, embora inicialmente aumente os custos de produção, a médio e longo prazos pode representar maior rentabilidade ao produtor devido  não só à agregação de valor, mas também à sanidade e qualidade dos pimentões, gerando rendimentos superiores aos custos de adoção dessas inovações tecnológicas aplicadas aos sistemas de cultivo da cultura.

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