Atividade florestal: política de Desenvolvimento Rural Sustentável

0
390
Créditos: Shutterstock

Luiz Fernando Schettino

Engenheiro florestal, professor/doutor – aposentado da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

fernando.schettino@gmail.com

José Geraldo Mageste

Engenheiro florestal, PhD e professor – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

jgmageste@ufu.br

Emanuel Maretto Effgen

Engenheiro agrônomo, doutor em Produção Vegetal e Analista do IDAF – ES

eeffgen@yahoo.com.br

A presença de florestas nativas nas propriedades rurais pode adicionar valores positivos para uma comunidade rural, pois ajuda na preservação das águas (atualmente remunerada), no controle natural de pragas e doenças das lavouras, na proteção dos solos, na organização do uso das terras, na regulação do microclima local e no desenvolvimento do agro e ecoturismo.

Além do que, torna possível e sustentável a produção de alimentos e madeiras de forma integrada, o que pode levar ao aumento na renda e da geração de importantes empregos no meio rural.

O manejo de florestas naturais e a realização de plantios de povoamentos florestais (silvicultura) pode permitir um melhor desenvolvimento de localidades que não tenham alternativas socioeconômicas, mediante participação das populações locais e dos agentes externos (empresários, ONGs e governo), em uma interação positiva.

Essa interação, porém, deve ser baseada em um trabalho que permita serem dadas respostas também às necessidades de bem-estar das comunidades rurais, como estradas, saúde, educação e assistência técnica, de modo que estimule o envolvimento dos agricultores com essas atividades silviculturais e com a proteção ambiental.

Integração

A interação entre as comunidades rurais e os sistemas produtivos de madeira (povoamentos ou florestas nativas) deve resultar em um grande trabalho educativo, que pode caminhar para o uso do manejo sustentável e do aproveitamento legal de matas e capoeiras, quando isto for possível, e/ou para a realização de plantios homogêneos com cunho sócio-econômico-ambiental.

A atividade é quase sempre desenvolvida pelos agricultores, com participação governamental ou privada, visando, em geral, ao aproveitamento de áreas degradadas e/ou subtilizadas nos imóveis rurais. Além da produção de madeiras diversas, pode levar à diversificação da produção rural e, ainda, ajudar na recuperação de áreas de preservação permanente e na recomposição das matas ciliares.

Dentro dessa ótica, a atividade florestal, quando realizada de forma legal e sustentável e com a participação de todos os setores envolvidos no processo de desenvolvimento rural, pode oferecer benefícios tanto socioeconômicos quanto ambientais, podendo representar de forma permanente para o Brasil uma importante ação aliada na preservação ambiental, com a produção de madeiras ao invés da apenas exploração desordenada das matas naturais.

Modelo sustentável

Além de contribuir na proteção de recursos hídricos e dos solos, no equilíbrio biológico, além de organizar e otimizar a gestão da propriedade rural, por permitir o aproveitamento de terras ociosas e improdutivas e de mão de obra excedente e, ainda, por se realizar com baixos investimentos, podendo possibilitar de forma mais eficiente e rápida a implantação de um modelo sustentável de uso da terra.

O desenvolvimento da atividade florestal ou silvicultural já está presente no meio rural brasileiro de forma importante desde os anos 60 do século passado. Entre outros aspectos, ele pode ajudar a melhorar as condições socioambientais, ao ampliar a oferta da matéria-prima e reduzir a pressão sobre os remanescentes florestais nativos, com aproveitamento de terras ociosas ou subutilizadas e geração importante de empregos e renda no meio rural.

Na atualidade, em alguns Estados, como é o caso do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os agricultores que possuem florestas nativas, pela adoção de instrumentos de incentivos econômicos e de pagamentos por serviços ambientais (PSA), passaram a obter vantagens financeiras pela manutenção de suas áreas de matas nativas.

Essa ação visa reconhecer o valor econômico dos serviços ambientais prestados pela cobertura florestal, o que deve ser ampliado gradativamente para todo o território nacional. Ações estas, que poderão, se devidamente articuladas e implementadas, ser a base para ocorrer o desenvolvimento sustentável do meio rural que o Brasil tanto precisa.

Gestão responsável

Valorizar e fazer gestões adequadas das florestas naturais e plantadas é alternativa concreta para criar uma cultura de rendimentos econômicos no meio rural que assegure permanentemente a proteção de outros recursos ambientais, como solo, água, fauna e das condições de vida no meio rural, além de ser uma forma segura de geração de renda e empregos.

Isso precisa ser melhor entendido e buscado, não somente pelos órgãos públicos, mas por todos os envolvidos, principalmente sobre o papel econômico e social das florestas nativas.

O papel das florestas nativas

As formações florestais sempre possuíram elevada importância para a humanidade e, com certeza, terão maiores ainda para as futuras gerações, tanto em termos ecológico e social, quanto econômico.

Além disso, os recursos florestais naturais abrigam enorme biodiversidade, seus derivados sustentam indústrias farmacêuticas, de recreação e turismo e contribuem para melhorar o meio ambiente mundial através do sequestro de CO2, além de manter outros recursos naturais.

No mundo todo, toma-se consciência dos problemas ambientais e, com isso, começa também a haver uma mudança na mentalidade mundial acerca destas, pois as mesmas (naturais e plantadas) fornecem bens e serviços de diversas naturezas, que beneficiam direta ou indiretamente a sociedade, tais como: produção de água, regularização de vazão, controle de cheias, prevenção de erosão, conservação de solo, proteção da biodiversidade, proteção das belezas paisagísticas e diminuição dos impactos da poluição sobre o clima, poluição e produção agrícola.

Pode-se perceber também, que o setor florestal pode contribuir significativamente, além da proteção ambiental, nos aspectos sociais e econômicos em termos de salários, empregos, geração de renda, recolhimento de impostos, agregação de valores e formação de divisas, e gerando efeitos multiplicadores nos setores relacionados devido à interdependência setorial.

Em função desses valores, a sociedade atual exige que sejam adotadas medidas para disciplinar a utilização das florestas e garantir sua perpetuidade. E que os mecanismos institucionais relativos à preservação desses recursos ainda não estão definidos e consolidados adequadamente.

E, assim, com mecanismos fiscalizadores mais eficientes e adequados, a cada dia é estabelecido como controlar os processos produtivos visando atingir a sustentabilidade, inclusive na obtenção de financiamentos para determinados empreendimentos, aos quais são exigidos cuidados e controles nos projetos de uso das florestas nativas ou na implantação de programas de reflorestamento.

Possibilidades no mercado

A ciência florestal já domina adequadamente as técnicas de manejo florestal de matas naturais e de plantios florestais. Com isso, países como o Brasil podem passar a ter enormes possibilidades no mercado mundial de madeiras, se adotada a realização em escala adequada da prática do manejo florestal sustentado e realização de plantios florestais usando as melhores tecnologias e dentro do que preconiza a legislação.

Com isso, fica livre das pressões internacionais contra o consumo de madeiras não provenientes de produções sustentáveis, como é o caso da maior parte da produção madeireira nacional. Confira na figura a seguir:

Figura 1 – Indicadores do consumo de madeiras de florestas naturais e plantadas no Brasil e suas perspectivas

Daí é fácil visualizar a grande necessidade e que basta um pequeno esforço para utilização racional e econômica dos nossos remanescentes florestais nativos.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!