Tecnologia de ultrabaixo volume de aplicação de defensivos

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Diego Miranda de Souza

Engenheiro agrônomo, doutor e professor de Engenharia Agronômica – UniPinhal

diego-agronomia@hotmail.com 

Crédito Shutterstock

O Brasil está entre os maiores produtores agrícolas do mundo. Apesar de todo esse sucesso, os agricultores enfrentam desafios complexos durante a safra, como por exemplo o manejo integrado de pragas (MIP). As pragas possuem o potencial de causar danos econômicos nas lavouras e, em alguns casos, podem inviabilizar a colheita.

Graças aos avanços científicos das últimas décadas, o agricultor pode contar com métodos para controlar o ataque das pragas e, consequentemente, reduzir o dano causado. Entre os métodos de controle considerados essenciais para o MIP está o uso de defensivos.

Dicas importantes

Os defensivos possuem classes de uso específicas (fungicidas, herbicidas, inseticidas, nematicidas) para o controle da praga-alvo, sendo a pulverização a principal via de aplicação.

Para pulverizar, o agricultor precisa primeiro diluir o defensivo, e o diluente mais utilizado é a água (o óleo também pode ser usado em situações específicas (ex: aviação)). Assim, a associação entre o diluente e o defensivo é chamada de calda.

A dose do defensivo para a praga-alvo está definida em bula e deve ser rigorosamente respeitada. Contudo, é possível ajustar a quantidade de diluente que será utilizado na composição da calda, determinando, portanto, o volume de aplicação.

O conceito de volume de aplicação é a quantidade de calda distribuída por área, em geral, na unidade de litros por hectare (L/ha-1).

Na quantidade certa

Escolher o melhor volume de aplicação depende de fatores como a praga-alvo que se pretende atingir, as condições de clima no momento da aplicação, da cultura (estádio fenológico e particularidades) e da máquina que será utilizada (velocidade, pontas, vazão). 

O volume de aplicação para culturas anuais e arbóreas, em L/ha-1, pode ser classificado como alto, médio, baixo, muito baixo e ultrabaixo (Tabela 1).

Tabela 1. Classificação do volume de aplicação em culturas anuais, arbóreas e arbustivas (L/ha-1).

Volume de aplicaçãoCulturas anuaisCulturas arbóreas e arbustivas
Alto> 600> 1000
Médio200-600500-1000
Baixo50-200200-500
Muito baixo5-5050-200
Ultrabaixo< 5< 50
Fonte: Matthews, Graham; Bateman, Roy; Miller, Paul. Pesticide application methods. John Wiley & Sons, 2014.

A escolha do volume de aplicação está associada à capacidade operacional da atividade de pulverização. Reduzir o volume de aplicação diminui o número de reabastecimentos, facilita a logística de transporte (menos diluente), aumenta a capacidade operacional efetiva e reduz os custos da operação.

Para ilustrar esses benefícios é possível usar como exemplo uma aeronave agrícola com um tanque (hopper) de capacidade de 1.050 litros, aplicando em uma cultura anual. Ao optar por um volume de aplicação de 50 L/ha-1 (volume baixo), a máquina terá uma autonomia de aplicar em 21 hectares sem reabastecer a calda.

Mas se a mesma aeronave for calibrada com um volume de aplicação de 4 L/ha-1 (ultrabaixo volume – UBV), a máquina será capaz de aplicar 262,5 hectares sem reabastecer a calda.

Também é necessário destacar que diminuir o volume de aplicação implica em menor vazão das pontas de pulverização (e/ou maior velocidade operacional) e maior concentração da calda. Assim, tais fatos são a origem das limitações de uso de menores volumes de aplicação, a exemplo do ultrabaixo volume (UBV).

Benefícios

As vantagens de reduzir o volume são evidentes, contudo, as limitações precisam ser analisadas separadamente. Em pulverizações terrestres a velocidade é limitada pelo modelo de máquina pulverizadora e das condições de terreno, portanto, é natural que a escolha por volume baixo, muito baixo e ultrabaixo esteja associada a uma menor vazão da ponta de pulverização e, consequentemente, menor tamanho de gotas.

Em pulverizações aéreas, a velocidade do equipamento não é um problema (normalmente acima de 100 km/h-1), portanto, é possível trabalhar com gotas maiores apesar da escolha por menores volumes. Também é comum em aplicações aéreas o uso de óleo como diluente, o que corrige o problema da evaporação.

Inicialmente, todas as culturas podem ser beneficiadas com menores volumes, contudo, o nível técnico dessas operações deve ser tão alto quanto a redução do volume de aplicação que se pretende utilizar. É essencial que o uso de UBV considere a necessidade de distribuição da calda sobre o alvo, as limitações da calda concentrada e o potencial de deriva.

Para o UBV, a necessidade de uma formulação apropriada é fundamental, já que a calda se torna tão concentrada que praticamente aplica-se apenas o produto formulado. Nesse caso, o leque de produtos apropriados a essa tecnologia é limitado.

Caldas concentradas aumentam o risco de incompatibilidade entre os seus componentes, assim como a maior probabilidade da obstrução das pontas. Para prever a incompatibilidade entre os componentes da calda é indicado realizar um teste prévio da mistura, observando a interação dos componentes da calda em quantidades proporcionais em um recipiente.

Outra dica é realizar uma pré-diluição do defensivo antes de adicioná-lo ao tanque, assim, dificuldades na diluição podem ser observadas e corrigidas.   

As gotas

A capacidade de cobertura dos alvos aumenta exponencialmente com menores tamanhos de gotas, a retenção e a penetração das gotas no alvo também são beneficiadas. De maneira inversamente proporcional, a menor massa das gotas dificulta o trajeto entre a ponta de pulverização e a deposição no alvo desejado.

Esse fato limita o leque de alvos biológicos que podem ser eficientemente controlados pela tecnologia UBV, atingir alvos internos no dossel da lavoura e aplicar herbicidas de ação na pré-emergência daninhas são exemplos de limitações do UBV. É desejável utilizar a técnica de marcadores fluorescentes para verificar a cobertura da calda no alvo desejado. 

Por fim, gotas muito finas também são uma limitação, <105 µm são altamente suscetíveis à deriva, facilmente arrastadas pelo vento e possuem rápida evaporação em condições ambiente de alta temperatura e baixa umidade relativa do ar (>30°C e <60%).

BVO

Uma proposta de solução é o uso da tecnologia de baixo volume oleoso (BVO®), desenvolvida pelo centro brasileiro de bioaeronáutica. Em formulações à base de óleo a evaporação deixa de ser um problema, mas ainda assim as gotas continuam suscetíveis ao arraste pelo vento. Também é possível citar o fenômeno da inversão térmica como altamente prejudicial à deposição de gotas provenientes de aplicações em UBV. 

Como visto, a intensidade e número de variáveis limitantes à qualidade da pulverização são inversamente proporcionais ao aumento do volume de aplicação. Para trilhar o caminho da economia e eficiência, o agricultor deve investir em aplicações técnicas, seja por meio de formulações e equipamentos apropriados, mão de obra especializada e assistência.

Portanto, o sucesso da redução de volume de aplicação, especialmente o UBV, passa necessariamente pelo investimento em conhecimento e tecnologia. 

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