Dr. Tarcísio Cobucci
Pesquisador da Integração Agrícola
O elemento fósforo (P) é essencial no metabolismo das plantas e contribui de forma significativa para o aumento da produtividade de grãos e desenvolvimento radicular das culturas, além de favorecer o aumento do número de frutos e da massa de grãos.
O P é um dos nutrientes que mais limita a produção das culturas, principalmente em solos de baixa fertilidade, como os de Cerrado. A necessidade de fósforo requerida pelas plantas é menor do que a de potássio (K) e nitrogênio (N); no entanto, a quantidade aplicada normalmente é superior.
Isso ocorre devido à elevada taxa de fixação do P em solos tropicais, causada principalmente por precipitação por Fe e Al, reação com óxidos hidratados dos mesmos metais e reação com argilas silicatadas, fazendo com que o aproveitamento pela cultura varie de 5 a 25%.
Uma opção seria fornecer o P em conjunto com fontes de cálcio, como o superfosfato simples ou a aplicação de adubos fosfatados em conjunto com o gesso. Segundo Raij (2004), quando os adubos fosfatados são aplicados ao solo, praticamente todo o P é retido na fase sólida, devido à ocorrência de grande número de compostos fosfatados, principalmente ligados ao ferro e alumínio.
Entretanto, na ocorrência de abundância de cálcio, podem-se criar melhores condições para o desenvolvimento das culturas. Vale ressaltar que o cálcio em pH alto (acima de 6,0 – 6,5) pode formar compostos juntamente com o P e precipitá-lo, tornando-o indisponível para as plantas. Porém, os valores de pH, para que ocorram essas reações, são raros em solos de Cerrado.
Produtividade
Nascente et. al. (2014), mostrou que a aplicação de fontes de fósforo juntamente com o cálcio (supersimples, MAP + CaNO3 e MAP + CaCO3) proporcionou incrementos significativos na produtividade de grãos e no teor e conteúdo de P nos grãos do feijoeiro comum.
Além disso, o teor e o conteúdo de P nos grãos do feijoeiro correlacionaram-se positivamente com a produtividade de grãos, além do aumento da eficiência de uso de P.
Nascente & Cobucci (2015) concluíram que fontes de Ca no sulco de plantio juntamente com adubos fosfatados alteraram o pH do solo e neutralizaram as cargas positivas na superfície de argilas não silicatadas de óxidos e hidróxidos de Fe e Al, podendo revertê-las em cargas residuais negativas.
Isso “bloqueia” sítios de adsorção de P no solo e pode reduzir a “adsorção específica de P”. Os estudos de fontes de Ca para a mistura com adubos fosfatados ainda merecem atenção. Portanto, iremos discutir uma nova fonte que chamamos de “fonte nobre de Ca”, o Lithothamnium.
Lithothamnium – uma “fonte nobre de Ca
O termo Lithothamnium corresponde a um grupo de algas marinhas calcáreas (do filo Rhodophyta e ordem Corallinales) com grande capacidade de acumular nutrientes entre suas paredes celulares. Após completar seu ciclo de vida, torna-se um sedimento bioclástico marinho (SBM) de algas composto por alta concentração de minerais, como cálcio e magnésio, além de aminoácidos necessários aos processos fisiológicos vitais de animais e plantas.
A estrutura em forma de ‘favo de mel’ e de alta porosidade do Lithothamnium garante biodisponibilidade de seus nutrientes orgânicos e quelatados, o que resulta em melhor absorção pelos animais e fácil assimilação pelas plantas.
Portanto, o Lithothamnium se caracteriza por ser de origem natural e orgânica, que agrega valor aos produtos a partir dele fabricados, para nutrição animal e vegetal. O significado da palavra vem do grego Litho = pedra e thamnium = pequena árvore.
Ca-Lithothamnium x Absorção ae P e Ca pelas plantas
Os resultados que se apresentam a seguir se referem aos protocolos experimentais conduzidos entre a Integração Agrícola e Primasea:
A – Rendimento da soja em função de fontes e doses de Ca, misturado ao MAP, no sulco de plantio.
De forma geral, podemos resumir os melhores resultados de produtividade das culturas da seguinte forma (Figura 1):
1- Com crescentes doses de Ca na mistura com MAP, há o aumento da produtividade de soja;
2- A fonte que apresentou maior taxa de aumento (significativo) de produtividade foi Ca-Litho, apresentando uma curva quadrática com o máximo da produtividade entre 20 a 30 kg de Ca/ha misturado no MAP e aplicado no sulco de plantio.
3- A fonte Ca-CaCO3 também apresentou aumento significativo de forma linear, entretanto, atingindo menores níveis de produtividade.
4- A fonte CaSO4 não apresentou efeitos significativos na produtividade.
B – Teor de P (ppm) na seiva dos pecíolos das folhas de soja (30 dae) em função de fontes e doses de Ca, misturado ao MAP, no sulco de plantio
1- Somente a fonte Ca-Litho apresentou maior taxa de aumento (significativo) dos teores de P na seiva dos pecíolos aos 30 dae. Este resultado pode explicar a resposta em produtividade (Figura 2).
C – Teor de P (ppm) no tecido do limbo das folhas de soja (30 dae) em função de fontes e doses de Ca, misturado ao MAP, no sulco de plantio.
- Não houve efeito dos tratamentos.
D – Teor de Ca (ppm) na seiva dos pecíolos das folhas de soja (30 dae) em função de fontes e doses de Ca, misturado ao MAP, no sulco de plantio.
1 – A fonte que apresentou maior taxa de aumento (significativo) do teor de Ca na seiva foi o Ca-Litho, apresentando uma curva quadrática com o máximo da produtividade entre 10 a 20 kg de Ca/ha misturado no MAP e aplicado no sulco de plantio (Figura 3).
2 – A fonte Ca-CaCO3 também apresentou aumento significativo de forma linear, entretanto, atingindo menores níveis.
E – Teor de Ca (ppm) no tecido do limbo das folhas de soja (30 dae) em função de fontes e doses de Ca, misturado ao MAP, no sulco de plantio.
1 – A fonte que apresentou maior taxa de aumento (significativo) do teor de Ca na seiva foi o Ca-Litho, apresentando uma curva linear (Figura 4).
2- A fonte Ca-CaCO3 também apresentou aumento significativo de forma linear, entretanto, atingindo menores níveis.
Uso de Lithothamnium no sulco de plantio
Em estudos realizados por Nascente e Cobucci, 2015, a aplicação de Ca na linha de semeadura aumentou o pH do solo no sulco de plantio. Os valores de pH obtidos aos 30 dias foram numericamente superiores aos obtidos aos 15 dias, o que pode indicar que o Ca reagiu com o solo entre 15 e 30 dias.
O mesmo efeito de aumento de pH e concentração de P no sulco provavelmente ocorreu com a aplicação de Lithothamnium nestes trabalhos. Essa maior disponibilidade de P pode ser explicada pela liberação do P fixado ao Al ou Fe.
Bair & Davenport (2012) também verificaram aumento da disponibilidade de fósforo com o aumento do pH. Segundo Souza et al. (2006), os solos tropicais são altamente intemperizados e neles predominam os minerais de argila 1:1, como a caulinita e os óxidos de Fe (hematita e goethita) e Al (gibbsita), que apresentam alta capacidade de adsorção de P.
Souza et al. (2010) acrescentam que o processo de adsorção de P pelos óxidos, hidróxidos e oxi-idróxidos de ferro e alumínio é um dos principais fatores envolvidos na insolubilização desse nutriente em solos tropicais.
Respostas
Assim, é provável que a aplicação de Lithothamnium no sulco de semeadura tenha proporcionado maior disponibilidade de P no início do desenvolvimento da cultura. A elevação do pH do solo pela calagem aumenta a concentração e a atividade dos íons OH- em solução, aumenta a precipitação de Fe e a de Al, reduz a precipitação de P-Fe e P-Al.
O Lithothamnium, ao alterar o pH do solo, neutraliza as cargas positivas na superfície de argilas não silicatadas de óxidos e hidróxidos de Fe e Al, podendo revertê-las em cargas residuais negativas. Isso “bloqueia” sítios de adsorção de P no solo e pode reduzir a “adsorção específica de P”.
Entretanto, vale ressaltar que a aplicação de Lithothamnium em doses acima da recomendada no sulco de plantio pode decrescer a disponibilidade de P. Também é conhecido o fenômeno de fixação de P de forma temporária, em função da formação de hidróxidos de Al amorfos intermediários [Al(OH)2+, Al(OH)2+], muito reativos, quando da aplicação de calcário.
Esse fenômeno é temporário, pois é revertido com o avanço da reação do calcário no solo, e a fixação de P pelo Al fica novamente insignificante, quando a elevação do pH proporciona predominância de formas precipitadas de Al(OH)3.
Esse fenômeno pode ser uma das explicações para a redução do P com o aumento da dose de solução de calcário no sulco. Outra possível explicação seria a abundância de cálcio, que normalmente ocorre em pH alto, o que pode formar compostos de P e precipitá-lo, tornando-o indisponível para as plantas.
No entanto, os resultados apresentados permitem inferir que a aplicação localizada de Lithothamnium pode reagir mais rápido no sulco de semeadura do que na aplicação convencional, e proporcionar maior disponibilidade de P no sulco de plantio, nos estádios iniciais de desenvolvimento da planta.
Outra hipótese da maior disponibilidade de P é a maior atividade microbiana promovida pelas quantidades significativas de aminoácidos no Lithothamnium, o que promoveria a maior produção de enzimas como a fosfatase ácida.
Primasea
Desde o início de sua formação, a Primasea desenvolveu um processo de coleta das algas obedecendo parâmetros rigorosos de sustentabilidade para escolha da área, distância da costa, profundidade de coleta, condições marítimas de navegação e método de coleta.
A área escolhida está localizada na Bahia, em frente à entrada da Bahia de Todos os Santos, a uma distância de 6,0 milhas náuticas da costa, tornando a operação de navegação curta e com poucos impactos dos efeitos da operação no ambiente de coleta, sendo a profundidade de 20 metros na média e com mar calmo na maioria do ano.
O que torna a Primasea única e referência mundial é seu método operacional de coleta das algas. Todo o processo foi desenvolvido e adaptado para causar a menor interferência no meio. É um processo fechado, em que o produto é coletado por sucção, por bombas submersas que sobem através de mangotes para o convés do navio para ser lavado e separado, sem nenhum contato com as águas marinhas.
O Lithothamnium coletado é armazenado e a água residual é bombeada para uma profundidade de 15 metros, fechando o ciclo e favorecendo a dispersão dessa água de lavação (água + areia), que poderiam demorar a decantar, o que torna o processo muito amigável ao meio ambiente.
Os trabalhos da Integração Agrícola e seus resultados são fruto de uma estreita parceria técnica entre as empresas, tendo em vista mensurar os benefícios do Primaz, marca comercial do Litho da Primasea, com o foco na melhoria da eficiência dos fertilizantes aplicados pelos agricultores.