Organomineral otimiza produtividade de soja e milho

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Emerson Trogello
Doutor em Fitotecnia e professor – IF Goiano campus Morrinhos
emerson.trogello@ifgoiano.edu.br
Giovana Cândida Marques
Engenheira agrônoma e mestranda em Entomologia – UNESP
giovana-candida.marques@unesp.br

Foto: Shutterstock

A palavra da vez é sustentabilidade. Deveremos, nos próximos anos, produzir mais na mesma área e de forma a agredir cada vez menos o ambiente. Já estamos e ainda seremos cada vez mais cobrados por isso.

Práticas como plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta, uso de bioinsumos, sistemas integrados, agricultura orgânica, enfim, todas elas devem ser incorporadas cada vez mais ao sistema produtivo.

Certificações de baixa emissão de carbono, facilidade de acesso a crédito e outras iniciativas estão vindo para valorizar o produtor que utiliza de técnicas mais sustentáveis. É imprescindível, assim, que o produtor se atente a este novo mercado que surge.

Ainda, temos uma grande dependência de insumos para cultivo do milho e soja, destacando-se os insumos destinados à proteção de cultivos e à adubação dos mesmos. Dados da Agência Senado indicam que a produção agrícola brasileira depende, hoje, de 85% dos fertilizantes importados para se viabilizar.

E, no caso específico do potássio, crucial em todas as culturas agrícolas, a dependência do insumo importado chega a 96%.

Alternativas

Diante disto, o uso dos organominerais é uma alternativa às fontes convencionais de nutrientes. Tratam-se de compostos basicamente oriundos da mistura de fertilizantes minerais e orgânicos.

Embora o processo seja simples, necessitou-se padronizar o que seria um organomineral. Assim, o MAPA define que organomineral é a mistura física ou a combinação de fertilizantes minerais e orgânicos que detenham em sua formulação os seguintes parâmetros: carbono orgânico: mínimo de 8%; umidade: máxima de 30%; capacidade de troca catiônica (CTC): mínima de 80 mmolc kg-1; macronutrientes declarados para os produtos com micronutrientes primários: teores mínimos de 10%.

Esta mistura, em diferentes proporcionalidades de oferta de nutrientes, já pode ser encontrada em variadas formas granulares, facilitando assim sua utilização operacional no sistema.

Vantagens

A adubação organomineral associa os benefícios da adubação mineral e da matéria orgânica, pois apresenta alta solubilidade dos nutrientes e melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo.

Como exemplo, há aumento da capacidade de troca catiônica, maior aeração, estímulo à atividade da biota microbiana, facilidade de liberação de nutrientes, maior agregação das partículas do solo, elevação da retenção de água, auxílio na complexação de metais pesados, favorecimento da atividade microbiana, além de maior resistência do solo a alteração do pH.

Esse conjunto de benefícios impacta diretamente na cultura a campo, resultando em maior desenvolvimento radicular e consequente maior suporte a estresses abióticos e bióticos. Ainda, o estímulo à biologia do solo impacta na redução de fitopatógenos maléficos, melhorando assim o seu manejo a campo. Tudo isto reflete em uma planta mais vigorosa, resistente e produtiva.

Estes diferentes efeitos positivos se devem ao fato de conjugar um nutriente solúvel (mineral) envolto em matéria orgânica. Alinhamos, assim, os benefícios de curto e longo prazo no mesmo produto.

O simples recobrimento do elemento mineral fósforo, por exemplo, garante que o mesmo não entrará em contato diretamente com os óxidos do solo, reduzindo a sua fixação e predispondo que o mesmo fique na solução do solo, aumentando a sua eficiência de uso.

Constituição

A composição orgânica nos fertilizantes organominerais promove o aumento da atividade de microrganismos que fazem a mineralização dos nutrientes. Dessa forma, o frequente uso dos organominerais pode proporcionar redução do volume de adubação, o que por vezes torna possível realizar o processo produtivo apenas com adubações de manutenção.

Em solos mais arenosos ou com baixa matéria orgânica, a lixiviação de nutrientes é maior, e por conseguinte a aplicação do organomineral ajuda o solo a preservar e evitar tais perdas.

A matéria orgânica existente no fertilizante organomineral também é importante, pois aumenta a CTC e ajuda na formação de agregados e retenção de água. A curto prazo, não há diferença significativa, mas o uso contínuo e volumoso tenderá ao aumento de matéria orgânica no solo a longo prazo.

Viabilidade

Dessa forma, o uso de fertilizante organomineral melhora a eficiência de absorção dos nutrientes, principalmente de nitrogênio e fósforo e, logo, reduz os custos de produção.

Assim, certamente quanto mais estressante for o ambiente de cultivo, maiores as potencialidades de utilização dos organominerais. Em solos arenosos, contribui com a retenção de água e nutrientes e com o aumento gradativo da matéria orgânica.

Em solos com alta incidência de organismos maléficos, contribui com o aumento da microbiota do solo, o que impacta em diversidade de organismos e em competição entre si, reduzindo o potencial de danos.

Em anos de alto custo do fertilizante mineral, ou mesmo na indisponibilidade do mesmo no mercado, contribui com o menor uso e com a maior eficiência de uso no sistema. Em anos de alta pressão por sustentabilidade, contribui com a menor dependência de adubação mineral e das melhorias do ambiente solo. Sendo assim, a utilização do mesmo em larga escala se faz extremamente viável.

Pesquisas

Em trabalho conduzido por Nunes e Correa (2015) já se observava que, em ano de déficit hídrico na cultura do milho segunda safra, a adubação organomineral sólida (proveniente de cama de aviário) ou fluida (proveniente de dejetos de suínos) superava os resultados da adubação mineral tradicional, isto devido, claro, a todos os benefícios envoltos de sua utilização.

Em anos normais, a primeira safra de utilização se equipara em produtividades, entretanto, conforme vamos realimentando o sistema com a adubação organomineral, os benefícios vão se acumulando, impactando em maiores produtividades e menores custos.

Uma vez que temos o efeito residual e cumulativo do organomineral, isto no final culmina em maior rentabilidade ao produtor e menores riscos.

Quanto custa?

Com relação ao seu custo, certamente é uma análise que devemos fazer a longo prazo. Em anos como este, envolto em embargos de importação de fertilizantes e consequente alta dos preços, o valor do organomineral por hectare certamente se faz atrativo.

Em anos de maior normalidade, os preços do organomineral podem ser iguais ou levemente superiores. É importante, aqui, analisarmos o custo/beneficio do produto, bem como o efeito cumulativo ao longo do seu uso, como também a maior sustentabilidade do sistema e o menor risco do produtor.

Sendo assim, certamente a incorporação do organomineral no processo produtivo de milho e soja tem viabilidade.

Como qualquer tecnologia, o produtor deve testar a mesma em sua propriedade. Desta forma, é extremamente recomendável que ele separe uma área da sua propriedade para iniciar a adoção do organomineral, a partir de duas a três safras, avaliando os resultados e aprendendo a utilizar a tecnologia. Após esse processo, pode-se ampliar seu uso na propriedade como um todo.

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