Luis Gustavo Silva Scarpari
Engenheiro agrônomo, fundador e CEO da Sardrones
gustavo.scarpari@sardrones.com.br
Os drones chegaram voando, literalmente, a uma velocidade impressionante, se estabelecendo em diversos setores da sociedade, e no agro teve e está tendo enorme destaque e aceitação, como no controle biológico de pragas, dispersão de sementes, analises de áreas, e claro pulverização.
Estou há 16 anos no mercado e não tinha observado uma tecnologia ser tão bem aceita e na velocidade que aconteceu com os drones. Mesmo com alguns receios e dúvidas, que são pertinentes quando se tem uma tecnologia tão disruptiva como essa, os produtores logo percebem as enormes vantagens que essa ferramenta pode trazer de imediato à sua propriedade.
Funções dos drones
Existem algumas modalidades já disponíveis de drones, e outras que vêm aumentando a cada ano, mas destaco pelo menos três:
– Dispersão de agentes biológicos: Cotesia flavipes, já na forma adulta, Trichogramma, Telenomus, crisopídeo na forma de ovinhos, que posteriormente sofrerão eclosão e farão o papel de controle do inimigo natural. Essa modalidade viabilizou um maior uso de biológicos em detrimento de químicos, uma vez que diminui a necessidade de mão de obra e torna a aplicação bem mais precisa.
– Pulverização: pode ser de defensivos químicos (herbicidas, inseticidas, fungicidas), elementos de nutricionais, maturadores, agentes biológicos, etc. Esse segmento é um dos que mais cresce e tem maior aceitação, pois se mostra eficiente já nos primeiros voos, além das fábricas estarem investindo pesado nas evoluções em tecnologia e tamanho. Destaco a marca DJI, que recentemente lançou um equipamento de 30L, sendo que o anterior tinha apenas 8,0 L.
– Coleta de informações: essa foi a primeira modalidade que tomou maiores proporções, pois os equipamentos são mais acessíveis e já vêm com a tecnologia embarcada, além da facilidade de uso. Essa modalidade traz muitas informações de qualidade, de maneira rápida e precisa, facilitando as tomadas de decisão.
Avanços neste setor
O setor de drones vem avançando tecnicamente de maneira assustadora e avança também em suas normas técnicas e legais. Cito uma que pude participar de perto, que foi a do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que criou uma regulamentação específica para o uso de drones na agricultura, que ficou bastante moderna e adequada, haja vista que ouviram diversos membros do setor.
Temos também que destacar a ANAC, que vem avançando bastante e entendo as reais necessidades desse setor, assim como a ANATEL e DECEA.
Soma de tecnologias
São inúmeras as operações que podem ser substituídas pelos drones, e outras que o drone virá para somar, como por exemplo, em locais onde outros equipamentos não podem chegar ou há dificuldades, como áreas limítrofes de cidades ou de reservas florestais, que por lei os aviões não podem sobrevoar, estágios em que as culturas já estão muito altas, impedindo que os tratores adentrem a área, etc.
Podemos citar a meiose em cana-de-açúcar, que é uma linha única ou dupla de cana que serve para produção de mudas numa área, e que se faz necessário deslocar um trator só para cuidar dessa área – o drone pode fazer esse serviço com alta qualidade e com melhor custo x benefício.
Expertise
O manejo da broca-da-cana, por exemplo, sempre foi feito de maneira manual, com pessoas adentrando o canavial com copinhos contendo o agente biológico Cotesia flavipes e fazendo a soltura a cada 50 m, para a dispersão do mesmo. O drone veio para substituir todo esse trabalho e permitir que esses trabalhadores migrem internamente para outro.
Trabalhamos também com dispersão de ovinhos a granel, que posteriormente irão eclodir e controlar as pragas-alvo. Esse modelo viabilizou e muito o crescimento desse tipo de agente biológico, haja vista a complexidade que seria para dispersá-los por um trator ou avião.
Outro segmento importante que surgiu foi o de dispersão de sementes em florestas para repovoamento de algumas espécies nativas. Hoje, fazemos esse trabalho junto ao Governo do Estado de São Paulo e a Fundação Florestal em 17 parques da Mata Atlântica, dispersando sementes de palmito juçara, que foi deixando de existir na região.
Vantagens em relação aos equipamentos terrestres
No caso da liberação de Cotesia em cana-de-açúcar, são muitas as vantagens, entre elas poder liberar as pessoas desse trabalho exaustivo e perigoso para assumirem outros cargos na propriedade.
As liberações são mais homogêneas e de melhor qualidade, o que reflete diretamente no sucesso do controle da praga-alvo. Temos um aplicativo desenvolvido pelo ITA onde o produtor pode acessar todas as informações das operações, como temperatura da hora do voo, quantos hectares foram aplicados em determinado período, os pontos de liberação georreferenciados, entre outras informações importantes para o controle interno.
Custo-benefício
O custo-benefício dos drones para a agricultura é enorme, principalmente quando se direciona para as áreas e setores que os demais equipamentos têm dificuldades em atuar.
Existem, hoje, pelo menos quatro órgãos que são responsáveis pelas operações de drones no mercado agro: ANAC, ANATEL, MAPA e DECEA. Em seus respectivos sites, estão disponíveis as normativas, regras e regulamentações.
Quanto aos modelos disponíveis no mercado, são vários, com modelos, tipos e tamanhos diferentes, mas a marca de maior participação no mercado brasileiro é a chinesa DJI, que fornece desde equipamentos para imagens, sensores, pulverizações, etc. Já existem empresas nacionais que montam drones, como a SkyDrones, Xmobots e muitas revendas DJI.
O investimento nos drones dependerá bastante do modelo e segmento em que será utilizado, variando de R$ 10 mil, para drones com imagens e liberação de ovinhos, até R$ 250 mil para pulverizadores de grande porte.
Importante ressaltar a importância de contratar sempre empresas que seguem todas a normas dos órgãos reguladores, que tenham pilotos habilitados, pois o uso de drones exige muita técnica e profissionais capacitados
