Cresce a incidência de lagarta-das-folhas

0
427

Diego Tolentino de Lima
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia (UFU) e pesquisador em Entomologia – Cooperativa COMIGO
diegotolentino10@hotmail.com

Crédito: Luize Hess

A lagarta-das-folhas (Spodoptera eridania) possui esse nome pois, ao avaliar seu comportamento alimentar na soja, verificou-se que a praga é preferencialmente uma desfolhadora e que, eventualmente, também danifica vagens, assim conhecida como a lagarta-das-folhas, além de lagarta-das-vagens.

As lagartas do gênero Spodoptera vêm se destacando na soja, principalmente na fase reprodutiva da cultura. Consideradas pragas secundárias até pouco tempo, nas últimas safras na regiões centro-oeste e sul do Brasil vêm se tornando um problema.

As principais espécies são: Spodoptera frugiperda, Spodoptera eridania e Spodoptera cosmioides (todas são Lepidoptera: Noctuidae). Os danos ocasionados por essas lagartas são a desfolha e as injúrias às vagens das plantas.

Culturas atacadas

A lagarta-das-folhas, S. eridania, pode atacar várias culturas, por se tratar de uma espécie polífaga, ou seja, que se alimenta de diversas espécies de plantas. Dentre os vários relatos na literatura sobre as espécies atacadas, temos culturas como soja, algodão, arroz, milho, amendoim, batata, batata-doce, girassol, canola, palma forrageira, abacaxizeiro, alfafa, aspargo, aveia, berinjela, cafeeiro, cebola, couve, couve-nabo, ervilha, eucalipto, feijão, feijão caupi, fumo, fumo cheiroso, gerânio, linho, macieira, mamona, mangueira, milheto, pimentão, tomate, trigo, repolho, beterraba, cenoura, quiabo, pimenta, melancia, morangueiro, abacate, citros, macieira, pessegueiro, videira e diversas ornamentais.

Identificação da Spodoptera eridania

Visto que S. eridania, S. frugiperda e S. cosmioides podem ocorrer de forma simultânea na cultura da soja e são lagartas bem parecidas, principalmente S. eridania, e S. cosmioides, será descrito como identificar as três espécies.

Spodoptera eridania: os ovos possuem coloração esverdeada, com um período de incubação médio de quatro a seis dias. As lagartas passam por seis a sete instares na soja. O período larval possui duração média de 15 a 19 dias.

As pupas são formadas no solo, possuem coloração marrom e têm duração média de nove a 11 dias. O período do ovo até adulto pode variar em função de fatores ambientais e qualidade de alimento, em cerca de 28 a 35 dias.

Spodoptera cosmioides: os ovos de S. cosmioides são muito semelhantes aos da S. frugiperda, colocados em camadas sobrepostas, coloração alaranjada e duração média de quatro dias. As lagartas podem apresentar de seis a oito instares, com grande variação no padrão de cores e manchas. As pupas são formadas no solo, com duração de 14 a 18 dias. A duração do ciclo de vida varia conforme fatores bióticos e abióticos, ficando em torno de 40 a 46 dias.

Spodoptera frugiperda: as fêmeas ovipositam em massa 200 a 300 ovos nas folhas. Os ovos são sub-esféricos, colocados em camadas e são cobertos por escamas provenientes do abdome da fêmea. Cada fêmea pode colocar até 1.000 ovos.

Após a eclosão das lagartas, na fase inicial elas são claras, tornando-se pardo-escuras a esverdeadas, até quase pretas. Apresentam um “Y” invertido na parte frontal da cabeça e quatro pontos pretos no final do abdômen dispostos em quadrado, característica importante para identificação.

O período larval varia de 15 a 25 dias, passando por quatro a sete instares, dependendo das condições de ambiente e alimento disponíveis. As pupas são de coloração marrom-avermelhada e ficam abrigadas no solo. Após aproximadamente 10 dias de período pupal ocorre a emergência dos adultos.

Entressafra

Nas grandes regiões produtoras de grãos e pluma, com predominância do sistema agrícola com a soja e depois o milho/sorgo e o algodoeiro também em determinadas épocas, as áreas passam por um período de entressafra devido à estiagem.

Nesse período, a lagarta-das-folhas (S. eridania) pode sobreviver tanto nas plantas voluntárias destas culturas como também nas plantas daninhas, como caruru (Amaranthus spp.), mucuna (Mucuna spp.), trevo (Trifolium spp.), língua-de-vaca (Chaptalia nutans), capim dente-de-leão (Taraxacum spp.), corda-de-viola (Ipomoea grandifolia) e beldroega (Portulaca oleracea).

Assim, as lagartas podem sobreviver no período de entressafra se alimentando dessas plantas espontâneas e, posteriormente, atacar novos cultivos agrícolas na mesma área ou mesmo em áreas adjacentes, devido a sua capacidade de locomoção.

Em muitas situações, observa-se que o dano, nas culturas de importância econômica, ocorre após as espécies invasoras preferenciais serem consumidas e/ou após serem eliminadas pela ação dos herbicidas.

Existe relato na literatura que as lagartas de S. eridania consumiram maior área foliar de corda-de-viola e de soja, chegando a ser o dobro da área consumida de algodoeiro, evidenciando que a corda-de-viola pode ser um bom hospedeiro alternativo para a praga.

Métodos de controle

A tecnologia Intacta RR2 PRO, que predomina nos cultivos de soja atualmente, oferece controle contra quatro importantes lagartas que atacam a cultura da soja: lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens), broca-das-axilas (Crocidosema aporema) e lagarta-das-maçãs (Chloridea virescens), além de supressão à lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus) e Helicoverpa armigera. Porém, as lagartas do gênero Spodoptera têm baixa suscetibilidade à proteína Bt tipo Cry1Ac.

Já em relação às tecnologias Bt de segunda geração na soja, aprovadas recentemente, tratando-se apenas das lagartas do gênero Spodoptera, a tecnologia Intacta 2 Xtend (proteínas Cry1Ac, Cry1A.105 e Cry2Ab2) promete controle apenas para S. cosmioides e a tecnologia Conkesta Enlist (proteínas Cry1Ac e Cry 1F) promete controle moderado para S. cosmioides e S. eridania.

Para S. frugiperda, as tecnologias Bt na cultura da soja ainda não oferecem nenhum tipo de controle.

Controle químico

A utilização de inseticidas é, atualmente, o método de controle mais utilizado para a lagarta-das-folhas (S. eridania). Há registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) de 31 produtos para o controle desta praga na cultura da soja.

As principais moléculas registradas fazem parte dos grupos químicos: espinosinas, diamidas, organofosforados, carbamatos, benzoiluréias, diacilhidrazinas, avermectinas e piretroides.

O monitoramento da infestação da praga na lavoura é o ponto-chave no manejo químico, para realização das aplicações nos momentos corretos. O controle químico é mais efetivo com lagartas expostas e pequenas (1° e 2° instares).

Aplicações têm melhor controle até as 10 horas da manhã e após as 16 horas. É de suma importância promover a rotação de mecanismos de ação para evitar a resistência dos insetos aos inseticidas. Consulte sempre o engenheiro agrônomo responsável e siga as boas práticas para aplicação e as recomendações do fabricante sobre o que será aplicado.

Controle biológico

Atualmente, já existem no mercado opções de inseticidas biológicos produzidos à base de fungos entomopatogênicos, como Beauveria bassiana, Metharizium anisopliae e Nomuraea sp.

A adição de produtos com estes agentes não só auxilia no controle de lagartas como também de outras pragas na cultura da soja, contribuindo assim para o manejo de pragas do sistema. É importante ressaltar que a eficiência do controle biológico, principalmente com produtos à base de fungos, também está associada a outros fatores. Boas condições ambientais no momento e após a aplicação, como alta umidade relativa do ar, são essenciais.

Tecnologia avança no agro

Após a liberação de plantios comerciais de soja transgênica com tecnologia Bt, Intacta RR2 PRO, em 2013 houve a predominância nos cultivos da soja resistente às principais lagartas desfolhadoras: lagarta-da-soja (A. gemmatalis) e lagarta-falsa-medideira (C. includens), fato que reduziu o número de aplicações de inseticidas para o controle de lagartas na soja, que possivelmente podiam exercer algum controle sobre as espécies Spodoptera spp.

Todavia, tais espécies do gênero Spodoptera que não são controladas por essa proteína Bt (Cry1Ac), incluindo S. eridania, ganharam uma lacuna de oportunidade pela redução das pulverizações com inseticidas, promovendo seu crescimento populacional.

Dessa forma, atualmente a lagarta-das-folhas, S. eridania, está entre as principais lagartas na cultura da soja, juntamente com as demais do mesmo gênero, exigindo por parte do agricultor atenção em seu monitoramento e adoção de medidas de controle, principalmente químico.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui
Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!