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Ácidos húmicos e fúlvicos: o que são e como utilizar no tomateiro

Foto: Shutterstock

Mônica Bartira da Silva
Engenheira agrônoma, doutora em Horticultura e professora e coordenadora dos cursos de Agronomia e Gestão do Agronegócio – Faculdade Fastech
monica.bartira@gmail.com

Maior produtividade, rendimento, precisão, qualidade e durabilidade dos produtos agrícolas são palavras que, infelizmente, nem sempre combinam com um termo muito falado neste meio: sustentabilidade.

Ao falar em sustentabilidade é preciso estar atento a vários fatores correlacionados que, em alguns casos, não estão entrando na lista de pontos a serem observados dentro dos sistemas produtivos.

Técnicas produtivas

A agricultura tem desenvolvido novas técnicas produtivas com tanta rapidez que, às vezes, voltar a alguns conceitos básicos parece errado. Contudo, toda nova tecnologia agrícola é dependente de uma teoria “básica” de desenvolvimento vegetal.

A sustentabilidade dos sistemas agrícolas está particularmente ligada ao fornecimento de nutrientes às plantas, que por sua vez depende também da relação do sistema solo-planta-atmosfera, fator extremamente relevante, visto que o País importa cerca de 80% dos adubos de origem mineral e apresenta uma forte dependência de insumos externos.

Neste ponto, entra o uso de uma tecnologia de cultivo que vem sendo bastante explorada – o uso de substâncias húmicas, buscando aumentar a produtividade e reduzir a dependência de fertilizantes minerais, que são finitas e aos poucos estão se exaurindo.

Dentro desse princípio, é preciso voltar aos conceitos básicos sobre a matéria orgânica do solo, que é indispensável para a manutenção da micro e mesovida do solo.

Matéria orgânica

As vantagens da utilização de matéria orgânica na agricultura são antigas, pois essa foi a primeira forma de fertilização dos solos pelo homem.

A matéria orgânica do solo consiste de uma mistura de compostos em vários estágios de decomposição, que resultam da degradação biológica de resíduos de plantas e animais, e da atividade sintética de microrganismos.

Pode ser agrupada em substâncias húmicas e não húmicas, sendo as últimas formadas por compostos com características químicas definidas, tais como polissacarídeos, aminoácidos, açúcares, proteínas e ácidos orgânicos de baixa massa polar.

As substâncias húmicas são compostos orgânicos provenientes da decomposição de resíduos vegetais e animais do ambiente, ou seja, são constituintes da matéria orgânica dos solos e dos sedimentos que podem melhorar as propriedades do solo e o metabolismo vegetal, promovendo a absorção de nutrientes, principalmente de íons catiônicos.

Essas substâncias se destacam porque podem ser utilizadas como insumos alternativos para o manejo de diversas culturas e suas propriedades químicas, microbiológicas e físicas podem assegurar um incremento na produtividade em decorrência dos seus benefícios para a estrutura física e química do solo e para o metabolismo da planta.

Benefícios para as plantas

Ao se falar sobre as substâncias húmicas, Canellas et al. (2005) defendem que é preciso entender que elas podem influenciar diretamente a estrutura física, química e microbiológica dos ambientes onde estão presentes, afetando assim o metabolismo e o crescimento das plantas.

Cabe, ainda, ressaltar que estas são constituídas de ácidos húmicos, ácidos fúlvicos, huminas e ácidos himatomelânicos, que apresentam diferentes características e, consequentemente, diferentes resultados mediante a sua utilização.

Segundo Tan (1993), os ácidos húmicos constituem a maior fração das substâncias húmicas. Tratam-se de precipitados escuros, solúveis em ácidos minerais e solventes orgânicos. Possuem elevado peso molecular, capacidade de troca de cátions (CTC) entre 350 e 500 cmolc dm-3, com origem na lignina.

Outra característica relevante é que possuem alto teor de ácidos carboxílicos e significativas quantias de nitrogênio.

Os ácidos fúlvicos, por sua vez, são solúveis em água, soluções ácidas e alcalinas, apresentam menor peso molecular, maior quantidade de compostos fenólicos e de grupos carboxílicos e uma menor quantidade de estruturas aromáticas.

Estas características são relevantes porque lhes conferem melhor solubilidade em água e maior CTC (700 a 1000 cmolc dm-3). Aqui, cabe evidenciar que a CTC é importante, porque é uma das formas de mensurar a capacidade de disponibilização e retenção de nutrientes do solo, sendo utilizada como um parâmetro de manejo, a fim de otimizar o uso de adubos e fertilizantes nos cultivos agrícolas.

Foto: Shutterstock

Frações húmicas

Antes de falar sobre as huminas e os ácidos himatomelânicos, é importante destacar que os ácidos húmicos e fúlvicos são os compostos mais importantes das frações húmicas, com relação à reatividade e ocorrência nos ecossistemas.

Admite-se que as substâncias húmicas aumentam o movimento e absorção de íons, incrementam a respiração e a velocidade das reações enzimáticas do ciclo de Krebs, promovem alta produção de Adenosina trifosfato (ATP) nas células radiculares, aumentam os níveis de clorofila e a síntese de ácidos nucleicos.

Dentro dessa série de vantagens, é importante destacar que o ATP é uma molécula que possui a função de armazenar e liberar energia de forma temporária para que as células de um organismo desempenhem suas atividades.

A clorofila, de uma maneira bem simplificada, se caracteriza por ser um pigmento de cor verde, encontrado em plantas, que possui a função de absorver a luz para realizar a fotossíntese, e os ácidos nucleicos são definidos como polímeros compostos por nucleotídeos, que são responsáveis por codificar e traduzir as informações que determinam a síntese de várias proteínas encontradas nos seres vivos.

Além disso, os ácidos húmicos e fúlvicos causam aumento ou redução na atividade de diversas enzimas, afetando ainda a dinâmica do nitrato (NH4+) no solo. Restringem a perda de nitrogênio (N) para a atmosfera pela redução do N2 e o consumo de OH pelo H+, dado pelo ácido orgânico, produz grupos orgânicos com cargas negativas com alta afinidade pelo NH4+, reduzindo seu movimento no solo, limitando a perda por lixiviação e aumentando a disponibilidade de NH4+ para o cultivo.

As huminas, por sua vez, compõem um resíduo extraível e correspondem à fração menos humificada das substâncias húmicas. São materiais complexos, quimicamente heterogêneos, inativos, insolúveis em soluções ácidas e alcalinas. E os ácidos himatomelânicos formam suspensões ou soluções coloidais quando em mistura com a água e possuem menor peso molecular do que os ácidos húmicos, mas com composição elementar semelhante.

Diante disso, a aplicação de substâncias húmicas no manejo agrícola é uma prática usada com a finalidade de melhorar as condições do solo para o desenvolvimento, especialmente, do sistema radicular das culturas implantadas.

Para a tomaticultura

Quando essa tecnologia é utilizada nos sistemas de produção de tomate, sua aplicação exógena pode representar maior rendimento e qualidade dos frutos, promover menor incidência de podridão das extremidades das flores, contribuir para frutos mais firmes, sendo uma importante característica para o transporte desses, além de induzir a planta a produzir compostos de defesa, aumentando a resistência contra patógenos e, consequentemente, reduzindo a utilização de defensivos agrícolas.

Abdel-Mawgoud et al., (2007) e Yildirim (2007) afirmam ainda que, quando utilizadas no tomateiro, as substâncias húmicas, podem estimular o crescimento de raízes e da parte aérea, resultando em maior teor de massa seca da planta e dos frutos, além de proporcionar maior produtividade e absorção de N, P, Fe e Cu.

Esta ação estimulante é atribuída, em geral, a um efeito direto dos hormônios vegetais ou ainda no comportamento hormonal das plantas, em especial ao hormônio auxina, que pode ser estimulado na presença de ácidos húmicos, resultando em crescimento do sistema radicular das plantas.

Recomendações

Contudo, é sempre válido ressaltar que essas respostas à aplicação de substâncias húmicas podem variar dependendo de cada região, variedade ou cultivar utilizada, grau de investimento tecnológico do sistema produtivo, práticas de manejo adotadas, destino final da produção, grau de purificação do material utilizado, concentração e fase de aplicação.

Diante disso Lima e Silva., (2021) afirmam que os produtos à base de ácido húmico com 0,4% podem ser aplicados como pulverização foliar no tomateiro nas semanas 2, 4, 6 e 8 após o transplante.

Já aqueles que possuem concentrações maiores (10%) devem ser utilizados em aplicações realizadas quinzenalmente, contando-se do oitavo dia após o transplante, utilizando doses de 20, 40 e 80 L ha-1, diretamente no substrato ou leito de plantio.

Cabe salientar que os resultados da aplicação dos ácidos húmicos só serão realmente visíveis nas plantas se os locais de transplante das mudas estiverem devidamente corrigidos quanto aos nutrientes essenciais a esta cultura, seguindo também as recomendações técnicas de cultivo, como manejo fitossanitário, espaçamento de plantio e irrigação.

Lima e Silva., (2021) ainda destacam que a firmeza dos frutos, sólidos solúveis totais e o teor de vitamina C dos frutos de tomate podem apresentar teores superiores aos produtos que não receberam aplicação, contudo, a acidez titulável dos frutos tende a reduzir, sob aplicações frequentes de ácido húmico.

Resultados semelhantes foram obtidos também por (Benetti et al., 2018), que observaram que as maiores doses de ácidos húmicos e fúlvicos (60 e 80 L ha-1) promoveram maiores teores de clorofila e favoreceram a maior firmeza dos frutos de tomate de mesa.

Viabilidade

Levando em consideração que o tomateiro é uma das hortaliças do tipo fruto, mais populares do Brasil, é de suma importância garantir a produtividade e qualidade dos frutos.

Sendo assim, em geral, os benefícios associados ao aumento da firmeza dos frutos em comparação com plantas não tratadas justificam a adoção de substâncias húmicas como complemento à nutrição das plantas nos sistemas de cultivo.

Contudo, se utilizados em doses erradas, as substâncias húmicas podem ser prejudiciais à absorção de nutrientes pelas plantas. Deste modo, recomenda-se que a aplicação da técnica seja acompanhada de profissional habilitado.

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