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Caruru: por que é uma planta daninha tão preocupante?

Foto: Fernanda Satie

Emerson Trogello
Professor do IF Goiano Campus Morrinhos
emerson.trogello@ifgoiano.edu.br
Kelly Mellissy
Graduanda em Agronomia – IF Goiano Campus Morrinhos

Uma planta daninha verdadeira tem por único propósito deixar descendentes e perpetuar a espécie ao longo do tempo. Para isto, a planta se reveste de inúmeras características de agressividade.

Por exemplo, se o único objetivo da planta daninha é perpetuar a espécie, nada mais coerente que produzir muitos “filhos”. Desta forma, as daninhas tendem a apresentar alta produção de sementes/propágulos.

O capim-amargoso (Digitaria insularis), por exemplo, chega a produzir a campo cerca de 75 mil sementes por indivíduo em um ano. Contam, ainda, com uma habilidade de dispersão dos propágulos produzidos, bem como as sementes produzidas apresentam germinação assincrônica, ou seja, tendem a ter dormência intrínseca, o que acarreta em fluxos de emergências ao longo dos anos.   

Competição desleal

Plantas daninhas competem por espaço e, consequentemente, por luz, água e nutrientes com as plantas de interesse agrícola. Além disso, elas podem ser hospedeiras de doenças e pragas que aumentam o custo da produção, ou mesmo ser um entrave no ato da colheita, reduzindo a eficiência operacional, ou depreciando o produto colhido.

Elas estão presentes desde o início da agricultura e, neste contexto, elas eram aquelas que não podiam ser aproveitadas como fonte de alimento, forragem e fibra. Do aspecto botânico, as plantas daninhas são consideradas pioneiras, ou seja, são as primeiras a germinar quando o habitat é alterado.

Já podemos aqui afirmar que, quanto mais mobilizado/alterado o ambiente de cultivo, maior será o problema com as plantas daninhas em suas áreas.

Alerta

Uma das plantas infestantes mais disseminadas no País, de Norte a Sul, com quase 60 espécies, sendo aproximadamente 10 espécies de importância agronômica, pertence ao gênero Amaranthus.

Os indivíduos destas espécies, denominados popularmente de caruru, apresentam caule ereto, coloração esverdeada ou arroxeada, algumas espécies possuindo espinhos e produzindo muitas sementes, a maioria mais de 100.000 sementes por indivíduo.

Estas sementes ainda apresentam alta longevidade, bem como dormência intrínseca, propiciando um alto fluxo de emergência ao longo do tempo. Ainda, apresentam rápido crescimento inicial, bem como alta eficiência na utilização de recursos, culminando assim em plantas de alta capacidade competitiva.

De modo geral, as plantas de caruru apresentam rápido crescimento e desenvolvimento atrelados, e elevada habilidade competitiva. Dependendo da espécie de caruru, o crescimento médio da planta pode variar entre 2,5 a 4,0 cm por dia, como é o caso do Amaranthus palmeri.

Danos

Os danos com relação à perda de produtividade em culturas agrícolas podem variar em função da espécie infestante de caruru, densidade populacional e estádio de desenvolvimento em que infestam a cultura.

Há casos registrados onde a infestação da planta invasora gerou queda de 80% na produtividade.

Um fato que se destaca nestas espécies é, sem dúvida, a alta produção de sementes, o que gera alta variabilidade de indivíduos na área. Aliado a isto, temos a alta agressividade das espécies.

Tudo isto favorece a seleção de indivíduos resistentes a mecanismos de ação de herbicidas. Talvez seja esta, hoje, a grande preocupação que detemos com indivíduos desta espécie. 

No ano de 2015, foi constatada a primeira ocorrência de resistência a glifosato em áreas agrícolas do Estado de Mato Grosso, por parte do Amaranthus palmeri. Esta mesma espécie e no mesmo ano foi identificada como resistente aos herbicidas inibidores da ALS, configurando assim um caso de resistência múltipla, o que certamente dificulta grandemente seu controle a campo.

Potencial de agressividade

Esta agressividade, o potencial de gerar perdas produtivas e a ocorrência de resistências simples e múltiplas a mecanismos de ação de herbicidas liga um alerta ao sistema produtivo soja/milho.

Ainda, a dificuldade de controle em sistemas HF (tomate, alho, cebola, batata, etc.) também favorece a permanência destas plantas daninhas nos mais variados cultivos agrícolas. Cremos ser um “inimigo” em comum de diferentes sistemas produtivos, desta forma, o controle destas espécies passa não somente pelo uso de herbicidas e suas variações, mas também pelo manejo dos sistemas produtivos como um todo.

Quando “lutamos” com um “inimigo” que produz muitos “filhos”, como é o caso das espécies de caruru, é imprescindível termos em mente que não podemos dar condições para o indivíduo florescer e produzir sementes.

Uma vez a semente produzida e em alta quantidade e com alta longevidade, teremos que travar a batalha por maior período de tempo. Desta forma, até mesmo um indivíduo da espécie que se encontra fora do ambiente agrícola deve ser controlado e impedido de produzir descendentes.

Manejo nas linhas das cercas

Todo controle, por mínimo que seja, é parte do processo. Dentro do ambiente produtivo, isto se faz ainda mais imprescindível. Desta forma, o manejo outonal é fundamental, principalmente no ato de ocupar a área produtiva ao longo dos 12 meses do ano.

A planta daninha, por si só, é uma planta oportunista, que se aproveita da área e de recursos que estejam ociosos. Sendo assim, uma área sem cultura ou sem planta de cobertura, é uma área sujeita a infestação de plantas daninhas, inclusive o caruru.

Pensando ainda no sistema produtivo, é essencial que ocorra efetivamente uma rotação de culturas nas áreas. A rotação de culturas, além de alterar a dinâmica de infestações de planta daninha, também força o produtor a variar mecanismos de ação de herbicidas.

No milho, por exemplo, o controle de plantas de caruru encontra um maior número de herbicidas e mecanismos de ação à disposição, seja em pré (Atrazina, S-metolacloro, Isoxaflutole) ou em pós-emergência (Atrazina, Mesotrione, Tembotrione, 2,4-D, etc).

Quando trabalhamos com a soja, esta variabilidade de herbicidas tende a diminuir, bem como a dificuldade em acertar a hora de controle e o risco de acarretar em fito na cultura com uso de herbicidas como lactofen, fomesafen e outros inibidores da PPO.

Tecnologias

A liberação e o uso das tecnologias para a soja Enlist® (2,4 D, glifosato e amônio glufosinato) e Intacta 2Xtend® (dicamba e glifosato) pode ampliar o uso de herbicidas e facilitar o controle de forma momentânea.

Mas, novamente, é bom ressaltar o alerta que a planta de caruru produz muita variabilidade e a pressão de seleção pode favorecer indivíduos de caruru que porventura sejam resistentes a 2,4-D, glufosinato de amônio, glifosato e outros. Focar apenas no controle químico é, em suma, uma solução por vezes momentânea.

Desta forma, aliar o uso de plantas de cobertura na área, não deixar a planta de caruru produzir descendentes e utilizar o herbicida certo, na hora certa, é a principal forma de evitar problemas atuais e futuros com os indivíduos de caruru na área produtiva.

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