Emerson Trogello
Mestre em Produção Vegetal e professor – IF Goiano Campus Morrinhos
emerson.trogello@ifgoiano.edu.br
Kelly Mellissy dos Santos Silva
kellymellissy49@gmail.com
Tulio Rabelo da Silva
tulio.agro@outlook.com
Graduandos em Agronomia – IF Goiano
O manejo de plantas daninhas na cultura da soja e milho sempre apresentou dificuldades. Antes da era das plantas geneticamente modificadas, a geração RR, este controle era embasado em inúmeros ingredientes ativos, provindos de diversos mecanismos de ação de herbicidas, variando assim o posicionamento de controle.
Tínhamos herbicidas voltados para a dessecação pré-plantio, para o manejo da sementeira de daninhas e controle do fluxo de emergência, e os manejos de pós-emergência da cultura e das plantas daninhas na área, sendo seletivos à cultura de interesse.
Com o advento da geração RR, reduzimos em muito o leque de mecanismos utilizados, e por um breve período da linha do tempo, pareceu que o manejo de plantas daninhas estava solucionado.
Chegamos, então, à geração das plantas daninhas resistentes e começamos agora a resgatar herbicidas, moléculas, ingredientes ativos, mecanismos de ação e manejos que pareciam há muito perdidos. Esta linha do tempo deve nos mostrar que o sistema é extremamente dinâmico e resiliente.
Não devemos focar no controle de um fator biótico (daninha, inseto ou doença) em apenas uma ferramenta. A vigilância e a atenção devem ser sempre redobradas.
Manejos
Dentro dos diferentes manejos de herbicidas que dispomos, o controle da sementeira, por meio de herbicidas pré-emergentes, é indispensável. Devemos pensar na planta daninha como um ser vivo, que dispõe de um ciclo de vida comum a nós.
Se assim pensarmos, uma planta adulta tende, assim como a nós, a ser uma planta com maior resistência e que domine ferramentas para a sobrevivência. Uma plântula de daninha seria um adolescente, ainda sem o conhecimento total das suas vantagens competitivas.
Já a semente da daninha e a planta recém-emergida seria uma criança em seus primeiros estágios de vida, sem nenhuma ou com pouquíssima capacidade competitiva e de sobrevivência.
Se assim pensarmos, sempre vamos tentar controlar a planta daninha quando a mesma ainda se encontra em seus primeiros estágios. Os herbicidas pré-emergentes, assim, são focais no controle de plantas daninhas, principalmente as que apresentam maior tolerância e resistência aos controles pós-emergência.
Alvo
Quando falamos em herbicidas pré-emergentes, sempre pensamos no solo como o alvo. Entretanto, o solo é o meio no qual a sementeira da daninha se encontra presente. Por vezes, o herbicida tem que atingir o solo, entrar na solução, em contato com a semente da daninha, e só então conseguirá exercer seu efeito inibitório desejado.
Desta forma, devemos sempre nos atentar para o tipo de solo, umidade do perfil, matéria orgânica presente, pH, entre inúmeros outros aspectos que dizem respeito ao meio em si. Por vezes, estes herbicidas têm um posicionamento mais técnico, podendo sua dosagem variar não somente em função da semente de planta daninha presente, mas também da textura do solo a ser posicionada, entre outros aspectos.
Escolha o melhor
A escolha correta dos herbicidas pré-emergentes é fundamental para garantir a eficácia do controle das plantas daninhas e a segurança das culturas. Diferentes herbicidas têm características específicas de controle de plantas daninhas e de tolerância das culturas.
É essencial selecionar herbicidas que sejam eficazes contra as espécies de plantas daninhas predominantes na região e que não causem danos às culturas de soja e milho, lembrando que para esta tomada de decisão há um timing correto.
A escolha destes pré-emergentes deve ser muito técnica e ser analisada entre diversos fatores. Há herbicidas disponíveis no mercado que apresentam residual superior à cultura, podendo impactar em carryover para culturas sucessoras.
Este efeito ocorre em muitas áreas onde se insere, por exemplo, culturas HF em sucessão, causando efeitos negativos em produtividade e qualidade do produto colhido.
Próximo passo
Após a escolha do herbicida a ser utilizado, é fundamental se atentar para a janela de entrada do mesmo. Na maioria, os herbicidas devem ser posicionados preferencialmente no plante/aplique.
A janela fica restrita à maioria dos herbicidas entre semeadura e emergência da cultura. Um erro neste posicionamento pode representar fitotoxicidade à cultura de interesse e, consequentemente, menor produtividade.
Ainda, a interação do herbicida escolhido com o meio (solo) deve ser sempre muito bem analisada. Um solo seco, no momento da aplicação, tende a aumentar a retenção do herbicida pela fração mineral do solo, acarretando em menor efeito sobre o banco de sementes de plantas daninhas.
Assim, um solo úmido, no momento da aplicação, é mais recomendado para estes posicionamentos. Ainda, deve-se atentar para a cobertura vegetal presente no momento da aplicação.
Os herbicidas pré-emergentes devem entrar em contato com o solo, no qual está presente o banco de plantas daninhas. Caso tenha alta palha sobre o solo, cria-se uma camada impeditiva para o herbicida, reduzindo assim a concentração da molécula que chega ao solo e, consequentemente, seu efeito inibitório.
Ainda, os herbicidas pré-emergentes atuam na camada superficial do solo, e qualquer revolvimento do solo efetuado após a pulverização do herbicida tende a quebrar esta camada de proteção depositada, aumentando o fluxo de emergência de daninhas no local da mobilização.
Eles proporcionam uma medida preventiva para controlar a competição inicial das plantas daninhas, permitindo que as culturas de soja e milho tenham um estabelecimento mais eficiente e um crescimento inicial livre de competição. Isso resulta em uma maior produtividade das culturas, reduzindo as perdas causadas pelas plantas daninhas.
Integração de métodos
É essencial adotar uma abordagem integrada de manejo de plantas daninhas, combinando o uso de herbicidas pré-emergentes com outras estratégias, como rotação de culturas, controle mecânico e manejo de plantas daninhas em estágio inicial.
Essa abordagem reduz o risco de resistência de plantas daninhas aos herbicidas e promove um manejo mais sustentável.
A persistência dos herbicidas no solo é outro aspecto a ser considerado. Alguns herbicidas pré-emergentes podem permanecer ativos no solo por um período prolongado, afetando o estabelecimento de culturas subsequentes.
Portanto, é importante planejar a rotação de culturas e considerar a possibilidade de culturas sensíveis aos herbicidas utilizados no sistema.
Posicionamentos
Quanto aos pré-emergentes e à época de aplicação, é necessário entender quatro diferentes posicionamentos dentro da cultura quanto aos produtos: o primeiro é quando o pré-emergente é da daninha ou da cultura, o segundo é quando o pré-emergente é da daninha e da cultura, o terceiro é quando o pré-emergente é da planta daninha e após a emergência da cultura. Já o quarto e último, é quando é pré-emergente da cultura e pós-emergente da daninha.
Dentre os produtos encontrados no mercado, podemos ressaltar quatro importantes mecanismos de ação. O primeiro a ser destacado são os inibidores de ácidos graxos de cadeias longas com importantes moléculas no mercado, como S-Metalachor e Alachor.
Muito eficientes nessas culturas, são de amplo espectro e agem bem contra gramíneas como capim-amargoso e pé-de-galinha, por exemplo, e atuam com mais eficiência na incidência de alguma precipitação.
O segundo grupo a ser destacado tem como molécula principal a Pendimentholim e é graminicida, então, vale destacar o controle das daninhas citadas anteriormente. Ressalta-se o terceiro inibidor da PPO (Protox), ideal para controle de folhas largas, como leiteiro e picão-preto, herbicida que age em poucos dias e tem baixo controle após o estádio de quatro folhas das daninhas.
Temos, ainda, os inibidores do FSII (Fotossistema II), com produtos consolidados no mercado, que agem causando clorose foliar e são mais eficientes como latifolicidas, mas também têm ação contra gramíneas.
Em conclusão, o uso de herbicidas pré-emergentes na soja e no milho traz benefícios significativos, incluindo o controle eficaz de plantas daninhas e o aumento da produtividade das culturas.
No entanto, é necessário considerar cuidadosamente a escolha dos produtos, o timing da aplicação, a persistência no solo e adotar uma abordagem integrada de manejo. Isso garantirá um controle eficaz de plantas daninhas, preservando a saúde das culturas e do ambiente.